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Real forte zera ganhos do produtor rural

15 dezembro 2009 - 00h00Por Folha de S. Paulo.

Analista diz que ainda é cedo para fazer previsões e lembra que, no mesmo período de 2008, setor estava quebrado, mas situação mudou

O câmbio está colocando, mais uma vez, os produtores no fio da navalha. Quando as negociações em Chicago se encerraram ontem, apontando o novo preço da soja, e o mercado brasileiro de câmbio determinou a taxa do dia, as perspectivas de lucro dos produtores de soja de Mato Grosso zeraram.

O retorno financeiro previsto com a venda da safra a ser colhida no início de 2010 é exatamente o que eles vão gastar no plantio e na colheita.

"É um momento de forte tensão, e os produtores já estão na área de risco", diz Eduardo Godoi, analista da Agência Rural, em Cuiabá (MT). Um dos grandes vilões dessa perspectiva de perdas é a taxa de câmbio. "Agricultura hoje é câmbio", complementa Godoi.

O exemplo da soja vale para todo o agronegócio. Os custos do setor são em real, moeda valorizada, e as receitas da maioria dos produtos, em dólar, que está desvalorizado. Há um descasamento que provoca perda de renda para o produtor.

Os efeitos do real valorizado não afetam apenas os produtores mas também as empresas do setor, que começam a ver um cenário sombrio para a safra de 2009/10. Apontam, também, o temor de que parte dos produtores não consiga fechar as contas. Se isso ocorrer, o país viverá nova onda de calote no pagamento das dívidas.

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, diz que os produtores plantaram com insumos comprados com o dólar de R$ 1,90 a R$ 2,00 e vão vender com a moeda norte-americana a apenas R$ 1,70.

Além desse descasamento, ele diz que houve perda de valor dos produtos em dólar. Praticamente todas as commodities foram afetadas -soja, café, laranja, carnes-, à exceção do açúcar. Isso significa menos renda para os produtores, diz.

No caso das empresas, as que são unicamente exportadoras, como as cooperativas, sofrem mais com o real valorizado. Já as que estão nas duas pontas (importando insumos e exportando commodities) têm a compensação em uma das pontas na valorização do câmbio.

Pagar as contas - "Com o câmbio nesse patamar, o produtor vai apenas pagar as contas e não sobra nada", diz Godoi. O problema não é o preço da soja, hoje a US$ 10 por bushel (27,2 quilos), valor excepcional historicamente. O gargalo está no câmbio, diz ele.

Os dados da AgRural são impressionantes. O custo de transporte de uma tonelada de soja de Sinop (MT) a Paranaguá (PR) -2.320 km- é de US$ 135. Ou seja, 33% do valor total da matéria-prima: US$ 400.

Com o dólar a R$ 1,70 e a soja a US$ 10 por bushel em Chicago, o produtor que colhe 52 sacas por hectare, em Sorriso (MT), terá perda de R$ 55,31 nesta safra. Se o câmbio estivesse a R$ 2, lucraria R$ 288,58.

Pior ainda se a soja cair. No mesmo patamar de câmbio, um recuo da soja para US$ 9 por bushel significaria perda de R$ 230,69 por hectare para o produtor. Um recuo para US$ 8 e o prejuízo seria de R$ 406,07.

Os produtores de Sorriso tiveram lucro médio de R$ 400 por hectare na safra 2008/9. Para obter o mesmo valor nesta safra, o câmbio deveria estar a R$ 2,10. "O real forte é amargo para o sojicultor mato-grossense porque os custos logísticos explodem. E esse custo sai do bolso do produtor", diz Godoi.

Para o analista, "o ideal seria se a soja mantivesse o mesmo patamar atual em Chicago e houvesse a depreciação do real". Uma preocupação, no entanto, é se ocorrer o inverso.

Caos à vista - Brasil e Argentina vão despejar 110 milhões de toneladas de soja no mercado nos primeiros meses do próximo ano, o que poderá depreciar os preços em Chicago. Já o câmbio, se o Brasil continuar sendo alvo preferido de investidores, poderá recuar ainda mais.

Se isso ocorrer, "seria o caos", diz Godoi. Só não seria pior porque 40% da venda da safra de Mato Grosso já foi feita com proteção de preços, diz ele.

Apesar desse cenário, Godoi, que também é produtor em Mato Grosso, diz-se otimista. Para ele, é muito cedo para prever preços e valor do câmbio no período da safra. Ele acrescenta que, neste mesmo período em 2008, os produtores estavam todos quebrados. "A situação mudou e o setor teve lucro."