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Produtores de grãos do Centro-Oeste e Matopiba temem consequencias da Carne Fraca

27 março 2017 - 00h00Por Reuters

A operação Carne Fraca da Polícia Federal deixou em alerta agricultores das principais áreas produtoras do Brasil, com expectativas de que o saldo exportável e os estoques de soja e milho do país possam aumentar com uma queda nos embarques de carnes devido a embargos internacionais aos produtos brasileiros.

Com uma maior oferta de grãos -- matéria-prima das rações para aves, suínos e bovinos--, os preços da soja e do milho devem ser pressionados, potencialmente desestimulando investimentos e expansões de áreas plantadas em regiões como o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), no caso de os desdobramentos da operação da PF se prolongarem.

Regiões do Matopiba, onde os preços dos grãos são naturalmente mais baixos em função dos custos logísticos, estão entre aquelas com maior crescimento de área plantada, pela maior disponibilidade de terras --um ritmo de expansão que poderia ser colocado em xeque em um eventual cenário de preços mais baixos.

"A agricultura vai sofrer também, os preços vão cair", disse à Reuters o superintendente de Desenvolvimento Econômico do governo do Estado de Tocantins, Vilmar Carneiro.

Na avaliação da autoridade, o Brasil vai demorar para recuperar sua condição exportadora anterior à operação Carne Fraca, uma vez que os processos de liberações de frigoríficos são morosos, com muitos importadores se aproveitando da situação de fragilidade do país.

Tocantins, com pouco mais de 1 milhão de hectares destinados à soja e ao milho na safra atual, ampliou em quase 10 por cento o plantio da oleaginosa. Mas ainda teria 8 milhões de hectares de terras disponíveis, sendo considerado um dos Estados com maior disponibilidade de área, segundo dados do governo local.

Uma solução para os agricultores seria exportar os grãos que não forem utilizados pela indústria produtora de carnes do país, diante de uma esperada queda nas exportações de proteína animal, disse o superintendente de Desenvolvimento do Tocantins.

"Vamos ter crescimento na forma de exportação de proteína vegetal", opinou ele, durante um evento no terminal ferroviário de Porto Nacional, da empresa de logística integrada VLI.

Até o momento neste ano as exportações de milho estão lentas, com produtores retraídos diante de um preço enfraquecido pela grande oferta esperada no Brasil e Argentina, além do câmbio atual, que reduz a competitividade do cereal brasileiro.

"As exportações vão depender do mercado (preços) e câmbio. Dependendo de como for, vai ficar milho para o mercado interno, que paga um pouco melhor", afirmou à Reuters o coordenador de negócios da multinacional Cargill, Lucas Horst Maidana.

Segundo Maidana, se o produtor vendesse parte do milho para a exportação, ele valorizaria o produto que sobraria para o mercado interno. "Mas até o momento ele tem feito poucos negócios para exportação", comentou.

As exportações de milho, que tradicionalmente ganham força no segundo semestre, poderiam crescer este ano para 26 milhões de toneladas, ante 18 milhões em 2016, segundo dados da Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, com uma expectativa de safra recorde de 95 milhões de toneladas. Mas tais previsões foram feitas antes da eclosão da operação Carne Fraca.

Caso essas exportações não se confirmem, poderão elevar ainda mais os estoques de milho, já estimados pelo governo (Conab), ao final da temporada 2016/17, nos maiores volumes da história.

Produção preocupada

Enquanto esperam produtividade elevada na safra de milho este ano, alguns produtores têm o ânimo contido com a expectativa de preços menores do que no ano passado, quando a severa quebra de produção elevou fortemente as cotações. E mais recentemente estão ficando preocupados com os efeitos da Operação Carne Fraca.

O agricultor Sérgio Luis Bortolozzo Jr., da Canel, que planta em uma das melhores áreas de Uruçuí (PI), afirmou que muitas das consequências da operação Carne Fraca ainda são incertas. Mas ele vê como preocupante os efeitos para os preços.

"Se diminuirmos o consumo de carne, como vai consumir mais (milho), uma vez que 100 por cento do grão é para alimentação animal?", questionou Bortolozzo Jr., gerente de manejo da Canel, uma empresa de propriedade familiar que se instalou no Piauí em 1988.

Bortolozzo diz que a Canel, que planta cerca de 15 mil hectares, entre soja, milho e algodão, ainda poderia expandir a área agrícola em mais 5 mil hectares. "Mas não vamos abrir (na próxima safra)", afirmou ele, lembrando que o mercado não está favorável.

Nas áreas visitadas pela Reuters esta semana nas principais regiões produtoras do Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí, as produtividades devem ser elevadas, beneficiadas pelas chuvas, mas o agricultor não vê muito para comemorar.

"Vai produzir bem mais, mas a questão é o preço, que vai ser ridículo", disse Bortolozzo Jr.

Alguns produtores da região do Matopiba temem que o preço do milho possa cair para cerca de 20 reais a saca (base Campinas), quando entrar a segunda safra em mais alguns poucos meses. Esse valor seria menos da metade que os agricultores receberam na temporada passada, quando as cotações foram infladas pela severa quebra.

Os vencimentos a futuro do milho negociados sexta-feira na BM&F mostraram os vencimentos maio/setembro/novembro abaixo da casa dos 28 Reais (mai 17, 27,85; set 17, 27,29; e nov 17, 27,83) base Campinas. Computando a diferença do risco de base, os preços no médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, já são fixados em menos de 16 reais (frete calculado em R$ 15/saca).

Durante o Show-Safra realizado em Lucas do Rio Verde (grande área produtora de grãos) produtores revelavam temor de que a saca resvalasse para a casa de 8 Reais. O secretário de política agrícola do  Ministério da Agricultura, Neri Gueller, tentou acalmar os produores anunciando que o Governo prepara operações de opções na tentativa de garantir os preços. Mas o anúncio não conseguiu dissipar a desconfiança sobre esta operação diante da angustiante crise financeira que atinge os cofres públicos federais.