Os produtores brasileiros de algodão deverão diminuir o plantio pelo terceiro ano consecutivo, num momento em que a desvalorização do dólar reduz os lucros gerados pelas exportações, confirmou levantamento divulgado ontem pela Céleres. Segundo a consultoria, a área plantada no país deverá ocupar 820 mil hectares nesta safra 2009/10, que começa a ser semeada este mês, ante 857 mil hectares no ciclo passado, informou Anderson Galvão, analista da Céleres. Se confirmadas as estimativas, será um recuo de área de 4%. O plantio se estende de novembro a janeiro no Brasil.
Apesar da redução da área plantada, a produção deve aumentar em 2010 devido à alta da produtividade da lavoura, conforme a Céleres. A produção deverá crescer 17%, para 1,4 milhão de toneladas. Apesar do câmbio pouco animador, as exportações, deverão crescer para entre 500 mil a 600 mil toneladas, em relação às 450 mil toneladas do último ciclo.
O real registrou valorização de 31% na comparação com o dólar americano este ano, o melhor desempenho entre as 16 moedas mais negociadas do mundo monitoradas pela Bloomberg. A força do real está corroendo os lucros das vendas, denominadas em dólares, o que neutraliza as vantagens da alta da cotação do algodão este ano. "O real valorizado não está encorajando o plantio", disse Galvão. "Os produtores não estão tirando vantagem dos aumentos de preço deste ano".
Ontem, na bolsa de Nova York, os contratos do algodão com vencimento em março encerraram a sessão a 70,82 centavos de dólar por libra-peso, queda de 27 pontos em relação à véspera.
Como destacou André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, em evento realizado ontem na Fiesp, a barreira cambial prejudica a produção brasileira em um momento de reação global do setor têxtil, que já verifica uma recuperação da demanda após os estragos provocados pela desaceleração econômica derivada da crise financeira mundial.
"A recuperação está sendo puxada por produtos sintéticos, mas a fibra também voltou a ser mais procurada", afirmou Pessôa. A China é a grande responsável pela retomada. "Em geral, teremos [no ano que vem] uma discreta recuperação do consumo global, sem aumento da produção. Isso deverá levar à queda dos estoques mundiais e à reação dos preços". Mas no Brasil a situação é difícil. As vendas antecipadas, liderada por tradings exportadoras, caíram muito, limitando negócios e "tirando gente do mercado". (Bloomberg e FL)