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BOI GORDO

Mercado pecuário brasileiro vive "dias atípicos de safra"

rigoríficos seguem operando com escalas de abate confortáveis, graças às operações envolvendo parcerias com grandes confinadores

16 setembro 2022 - 07h39Por DBO Rural

Nesta quinta-feira, 15 de setembro, ao considerar as 32 praças pecuárias monitoradas pela Scot Consultoria, houve queda nos preços do boi gordo em 18 delas, informa a zootecnista Thayná Drugowick, analista de mercado da empresa sediada em Bebedouro, SP.

Segundo a analista, os frigoríficos brasileiros têm trabalhado com parcimônia, influenciados sobretudo pelo enfraquecimento da demanda doméstica pela carne bovina, que tende a piorar a partir desta segunda quinzena de setembro, quando teoricamente o poder de compra da população perde força (devido ao maior distanciamento da data de pagamento dos salários, sempre no começo de cada mês).

Outro fator que explica o atual viés de baixa da arroba, justifica a Thayná, é o cenário confortável nas escalas de abate das indústrias, que, apesar do período de entressafra, conseguiram preencher as suas programações a partir da engorda própria de animais no cocho e/ou das parcerias mantidas com grandes confinadores.

Nesta quinta, o mercado do boi gordo seguiu travado no interior de São Paulo. Conforme dados apurados pela Scot Consultoria, as escalas de abate dos frigoríficos paulistas seguem confortáveis e, assim, os preços do boi gordo ficaram estáveis no mercado spot em relação ao dia anterior.

Com isso, o boi gordo é negociado por R$ 290/@ em São Paulo, enquanto a vaca e a novilha gordas estão valendo, respectivamente, R$ 270/@ e R$ 282/@ (preços brutos e a prazo). O “boi-China” está cotado em R$ 300/@, preço bruto e a prazo (base SP).

“Destacamos que a oferta confortável está associada à entrega de boiadas compradas anteriormente com preços maiores que os vigentes, principalmente para boiadas cujo destino é a exportação”, observa a Scot.

A IHS Markit também detectou, nesta quinta-feira, novas baixas nos preços da arroba no mercado físico do boi gordo entre algumas praças pecuárias do País. “O mercado permanece com ritmo fraco de negócios, visto que a procura por animais terminados no mercado spot continua muito inconsistente”, relatam os analistas da IHS.

Segundo a consultoria, notadamente, nas praças de São Paulo, Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul, os volumes de animais provindos de parcerias (com grandes confinadores) já registram redução, fazendo com que os frigoríficos locais lancem algumas ofertas de compras de boiadas gordas.

No entanto, informa a IHS, os negócios são esparsos, o que não permite uma mudança de viés (para cima) nos preços da arroba. Do lado de dentro das porteiras, continua a IHS, muitos pecuaristas tentam segurar os seus animais nas fazendas e, assim, barganhar cotações mais remuneradoras.

Maior oferta no Norte-Nordeste – As praças pecuárias situadas nas regiões Norte e Nordeste do País ainda apresentam uma maior folga no quadro de oferta de animais, sobretudo no Pará e no Tocantins, informa a IHS.

Nessas duas regiões, diz a consultoria, os preços do boi gordo registraram recuos nesta quinta-feira. Em Redenção (PA), a arroba caiu de R$ 260 para R$ 257. Em Araguaína (TO), o boi foi de R$ 270/@ para R$ 260/@. Em Gurupi (TO), a arroba recuou de R$ 275 para R$ 265.

“Muitas indústrias permanecem fora das compras de boiadas gordas e, mesmo com cotações alcançando novas mínimas, o mercado físico segue com baixa liquidez”, reforça a IHS.

Segundo a consultoria, os estoques de carne bovina permanecem elevados nas câmaras frigoríficas e as operações das indústrias seguem reduzidas, com o objetivo de conter essa sobreoferta.

Porém, apesar da demanda doméstica não ter fôlego suficiente para absorver os excedentes da produção vigente, os preços dos cortes bovinos no atacado continuam aparentemente firmes. Nesta quinta-feira, informa a IHS, o valor da vaca casada registrou novo avanço, evoluindo de R$ 17,80/kg para R$ 18,00/kg (mercado de São Paulo).

Alerta em relação à China – Embora o Brasil tenha registrado, ao longo deste ano, exportações mensais recordes de carne bovina, o principal cliente, a China, está passando por momentos conturbados em sua economia, alerta a analista da Scot.

“A desvalorização da moeda local, o yuan, tem feito com que os compradores chineses pressionem os preços da carne no mercado, deixando os frigoríficos exportadores de carne bovina em alerta”, relata Thayná Drugowick.

Para os próximos dias, continua ela, “é preciso ficar atento em relação aos possíveis impactos dessas renegociações por parte da China e como isso refletirá nos preços no mercado do boi”.

Segundo o zootecnista Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos, de São Paulo, o mercado brasileiro do boi gordo tem vivido “dias de safra” em pleno meados do segundo semestre, com as escalas de abate relativamente confortáveis e tentativas de compra abaixo das referências no balcão.

“Este cenário tem gerado pouca atratividade para negociar lotes maiores de animais terminados e tirado o incentivo para a reposição do cocho nos últimos meses de 2022”, observa Coelho. O sócio da Radar também cita o bom desempenho dos embarques brasileiros de carne bovina, apontando especialmente o recorde mensal obtido em agosto/22.

Os embarques de carne suína também registraram recorde no último mês, com volume 27,7% maior na comparação anual, acrescenta Coelho. “Isto reforça a nossa visão que o nosso principal importador dos dois produtos, a China, mantém a ‘fome de proteína’”, destaca.

Na avaliação de Coelho, a China deve antecipar a janela de compras de proteínas para abastecer as festividades de 2022/23, que ocorrerão em janeiro naquele país. “Essa antecipação poderia adiantar o pico das exportações brasileiras de carne bovina, que, historicamente, ocorre em outubro e novembro”, observa ele.

Segundo Coelho, o consumo interno (de carne bovina) deverá ser mais forte que o normal nos últimos meses deste ano, devido à recuperação no quadro econômico brasileiro. “Semanalmente, o boletim Focus, publicado pelo Banco Central, tem aumentado as expectativas para o PIB do Brasil em 2022”, relata ele.

Há quatro semanas, o PIB estava em 2%; há uma semana, em 2,26%; e, atualmente, as projeções apontam para 2,39%. “Ou seja, aqui tem ocorrido uma melhora da percepção dos principais economistas do País sobre a geração de riquezas e serviços ao longo do ano”, observa Coelho, acrescentando que tal fator deve ter “reflexo positivo sobre o consumo durante as festividades de nov-dez/22”.