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Leite Brasil: novo ranking de laticínios traz mudanças

14 abril 2010 - 00h00Por Valor Econômico, por Alda do Amaral Rocha.

O ano que passou no setor de leite foi de avanço na concentração, com destaque para a gaúcha Bom Gosto. Foi também ano do agravamento da crise da Parmalat e de estagnação na produção de leite no país. Foi também um período de crescimento sustentado da Nestlé e de queda das exportações de lácteos, o que afetou empresas. Tal cenário pode ser vislumbrado no levantamento da Leite Brasil, associação que reúne produtores, sobre os maiores laticínios do país em 2009.
O ranking, com 12 empresas do setor, mostra a DPA/Nestlé novamente como primeira na captação de leite no país. A empresa recebeu 2,050 bilhões de litros de leite em 2009, 7,9% acima dos 1,9 bilhão do ano anterior. Em segundo lugar ficou a Bom Gosto, que no ano anterior ocupara a quarta colocação, apresentando avanço na captação de 26,7% para 1,224 bilhão de litros de leite. A empresa vem crescendo por meio de aquisições com o apoio do BNDES.

A subida da Bom Gosto no ranking tem duas razões: a BRF (Brasil Foods), resultado da união entre Perdigão e Sadia, não forneceu números para o levantamento da Leite Brasil. Além disso, a Bom Gosto se fundiu com a Líder e comprou duas empresas em 2008, o que garantiu um aumento na captação no ano seguinte.

Segundo a Leite Brasil, a Brasil Foods informou que "está suspensa a divulgação ao mercado dos números internos da companhia". Em solicitação sobre o tema, feita pela reportagem em março passado, a BRF informou que sua captação de leite havia ficado estável em relação ao ano anterior, quando somou 1,671 bilhão de litros.

O relatório anual da própria empresa, porém, mostra uma queda de 11% na produção de lácteos em 2009, para 1,103 milhão de toneladas. O número indicaria recuo semelhante na captação de matéria-prima, segundo analistas do setor. Ainda assim, a empresa, que não se pronunciou, manteria a segunda posição entre os maiores laticínios do país.

Em terceiro lugar no ranking, a Itambé acabou mantendo a posição, apesar de ter captado menos leite do que em 2009. A central de cooperativas mineira - que negocia fusão com Centroleite, Confepar, Cemil e Minas Leite - recebeu 1,125 bilhão de litros de leite em 2009, uma redução de 9,3% no ano, segundo a Leite Brasil.

O agravamento da crise da Parmalat também está refletido na pesquisa de 2009. A captação da empresa controlada pela Laep caiu 48,4%, para 470 milhões de litros de leite. Apesar desse recuo, a Parmalat ficou em quarto no ranking, também em decorrência da saída BRF. No quinto lugar, ficou a Leitbom (Laticínios Morrinhos), cuja captação de matéria-prima saiu de 402,5 milhões de litros em 2008 para 420,6 milhões em 2009.

Separadas no ranking em 2009, as captações da Parmalat e da Leitbom devem ser unificadas este ano, já que os controladores Laep e GP Investiments, respectivamente, fizeram, em março passado, um acordo para juntar as operações, que envolve três fábricas da Laep e a Poços de Caldas.

Além da BRF, outra que não forneceu dados para a Leite Brasil foi a Vigor, que estava no ranking em 2008, com captação de 197 milhões de litros. A empresa pertencia à Bertin, mas passou ao controle da JBS quando esta incorporou a concorrente em setembro passado. A Nilza, que está em recuperação judicial, também não forneceu dados. Em 2008, sua captação fora de 412,5 milhões de litros.

Uma novata no levantamento do ano passado foi o Laticínios Bela Vista, que produz o leite Piracanjuba. A empresa foi a sétima no ranking, com 388 milhões de litros.

As razões da mudança de posição no ranking

Wilson Zanatta, presidente da Bom Gosto, afirma que o resultado de 2009 se deve a operações feitas no ano anterior, quando a empresa se fundiu com a Líder e adquiriu a Santa Rita e a Coorlac. No ano passado, a empresa fez novas compras - a fábrica que pertencia à Parmalat em Garanhuns (PE), uma planta da Nestlé em Barra Mansa (RJ) e a Cedrense em Santa Catarina.

Com todas essas aquisições, a capacidade instalada da Bom Gosto está hoje em 6 milhões de litros por dia, mas o processamento efetivo é de 4 milhões de litros de leite, segundo Zanatta. Ele afirmou que novas compras não são prioridade para empresa atualmente, já que a Bom Gosto pode crescer utilizando a capacidade hoje ociosa.

A Nestlé, primeira no ranking de captação, atribui o crescimento de 2009 a sua entrada no segmento de leite longa vida premium com as marcas Ninho e Molico. "A forte aceitação dos produtos fez com que a empresa investisse rapidamente em duas novas unidades produtivas ainda em 2009, em Carazinho (RS) e em Araraquara (SP), e estendesse o lançamento para outros Estados, o que exigiu maior produção", diz a empresa em nota.

Após a queda na recepção de leite em 2009, a Itambé aposta na retomada este ano. "Em 2008, nossa captação cresceu de forma expressiva e em 2009 as exportações de lácteos caíram, por isso reduzimos as compras no spot", explica Jacques Gontijo, presidente da Itambé. Mantido o nível de captação do primeiro trimestre, Gontijo avalia que é possível voltar aos números de dois anos atrás. Mas, diz ele, o que irá sustentar a demanda é o mercado interno, já que as exportações ainda patinam.

O presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, afirma que as mudanças no ranking em 2009 já eram esperadas, principalmente em função das aquisições da Bom Gosto e dos problemas da Parmalat. Ele observa que os números indicam também uma estabilização na produção de leite no país no ano que passou. O volume de leite inspecionado saiu de 19,285 bilhões em 2008 para 19,6 bilhões em 2009, crescimento de 1,6% na produção. "Os números mostram que o volume de leite não cresceu, mas que uma empresa tomou mercado da outra", diz.

Segundo o presidente da Leite Brasil, se os preços do leite ao produtor se firmarem na casa dos R$ 0,80/litro - valor pago atualmente -, a produção será estimulada e crescerá a oferta para a indústria. Abaixo disso, porém, haverá desestímulo, pois o custo de produção está entre R$ 0,72 e R$ 0,75 por litro, dependendo da região do país.