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Expogrande 2010

De feira em feira, os tratadores são a alma da exposição de animais

27 março 2010 - 00h00

Há 30 anos, quando o tratador de animais Fernando Machado, 52, colocou os pés em um pavilhão de animais, ele soube que faria isso até o fim. Ninguém o conhece pelo nome. Nas feiras agropecuárias, ele é o Fuscão. Apelidos — ou nomes artísticos, como eles preferem — já fazem parte da identidade dos tratadores.
 

Eles são muitos na Expogrande 2010, e responsáveis pelo bem-estar de animais de todas as raças. André Tavares, 26, foi rebatizado de Bolão pelos amigos que fez nas feiras pelo Brasil, para onde viaja de março a novembro. A família, de Presidente Alves (SP), se acostumou à falta dele em casa — e ele, à da família. A rotina não deixa espaço para saudade. “Acordo às seis, limpo o pavilhão, dou silagem pros animais, dou água...”, conta.
 

André divide espaço com tratadores de outras três fazendas, entre eles, Dinho, que nasceu Cláudio de Matos, na mesma fazenda onde Fuscão já rodava há anos. “Ele é o mais conhecido entre os tratadores, e o mais antigo”, diz o colega de baia. Neste tempo juntos, ele aprendeu lições valiosas, como não ser bravo demais, nem muito calmo com os touros da raça Guzerá. “Tem que ser na medida pra ganhar a confiança do animal”, recomenda. Fernando vai mais longe: “É como uma criança, se você dá carinho, cuida, ele fica dócil com você”.
Eles “têm a manha” na lida com os touros, já sabem quando terão problemas e como resolvê-los.

“Os bezerros são os mais estressados, ainda mais na primeira viagem, tem que ter muita paciência com eles”, analisa André — ou Bolão, para poder encontrá-lo no Parque de Exposições Laucídio Coelho com mais facilidade.
 

Todo o cuidado e carinho tem um objetivo: ver os animais campeões nas pistas de julgamentos. Parte do ano, os times de animais e a equipe de tratadores rodam as feiras agropecuárias brasileiras. Os eventos são vitrines para os pecuaristas, e campeonatos para os funcionários. “É uma disputa, todo mundo quer ganhar. É quando você percebe que seu trabalho foi reconhecido”, avalia André. Algumas feiras oferecem prêmios a tratadores que mantém pavilhões limpos e touros asseados.
 

Fuscão nunca esqueceu a vaca Saída, premiada muitas vezes. “Com ela você batia na pista, e sabia que era campeão”, lembra o tratador,que chegou a trazer animais para a Expogrande de trem, nos anos 70. No trecho Três Lagoas-Campo Grande, ele divertia-se apanhando capim para dar aos touros. Hoje, prestes a se aposentar, ele cobra “mais humildade” dos jovens, que “acham que são melhores que os outros” quando seus animais vencem as disputas. Ele passa longe da nostalgia, e aprendeu com o pai, de 102 anos, que “para um homem ter valor tem que ser trabalhador”. Ao ensinamento do “velho”, como se refere ao pai, ele acrescentou o lema dos tratadores: “Água e palha não faltanto, o resto a gente dá jeito”.