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Criação de porcos usa alta tecnologia para garantir leitões de qualidade

22 maio 2018 - 23h01Por Revista Globo Rural

 A cada 21 dias, a cena se repete na granja de suínos da família Zanatta: 50 leitoas parindo ao mesmo tempo. É um tal de ajudar filhote a nascer, a respirar, a mamar… Não tem descanso. “São umas maquininhas de produzir leitão”, conta Marina, que, junto com o filho André e o marido, Jacir, cria 350 matrizes no município de Concórdia, em Santa Catarina. Ao longo dos anos, a família viu a produtividade média da granja saltar de 20 filhotes paridos por fêmea ao ano para 31,5. Nada mal para quem ganha a vida vendendo leitõezinhos para engorda. André explica que muita coisa contribuiu para esse resultado: manejo, instalações, nutrição… E principalmente genética. “A gente faz inseminação artificial em nossas matrizes com sêmen de alto valor genético. Isso ajuda não só a aumentar o número de filhotes, mas também a uniformidade, o tamanho e o vigor dos nossos leitões”, comemora.

Os Zanatta são clientes da Central de Coleta e Difusão Genética da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), também sediada em Concórdia. A entidade construiu a primeira central de distribuição de sêmen do país ainda na década de 1970 e tem papel importante na melhoria do rebanho de Santa Catarina – referência mundial em produção de suínos. Em 2016, atendendo a um pedido dos produtores, a ACCS reassumiu o comando da central (que enfrentou uma fase de decadência na mão de terceiros) e investiu mais de R$ 3 milhões para ampliar, modernizar e adequar suas instalações às normas de bem-estar animal. “Santa Catarina é o maior exportador de carne suína, estamos aptos a exportar para qualquer lugar do mundo. Esse investimento foi importante para continuar atendendo às exigências internacionais, principalmente no que diz respeito às normas de bem-estar”, explica Losivânio de Lorenzi, presidente da ACCS. Hoje, são vendidas 19 mil doses de sêmen por mês. Para se ter uma ideia do avanço, em 2014, esse número não chegava nem a 3 mil.
 
Na nova central, porco não faz jus à fama. Tudo é limpo, muito limpo. Visitantes não são bem-vindos. Quando insistem, banho com sabonete bactericida logo na entrada e roupas apropriadas. Tudo é feito para evitar qualquer tipo de contaminação e para garantir a sanidade dos 130 reprodutores, que custam, em média, R$ 16 mil cada e carregam em seus genes o que há de melhor no mundo. Os animais ficam em baias individuais de 6 metros quadrados, de piso ripado, com espaçamento adequado para não machucar as patas, num ambiente climatizado e com iluminação controlada. Eles podem se movimentar, beber água boa e farta. A comida é de excelente qualidade. Tratadores não gritam. Nem batem.
 
“Repare como eles são dóceis, tranquilos. O manejo racional e esse ambiente de conforto fazem o macho produzir um sêmen de melhor qualidade e em quantidade superior também. Isso repercute em toda a cadeia: o animal vive bem, o tratador trabalha melhor e o criador ganha mais, porque vai atingir índices de produtividade melhores quando comparados a outros sistemas de criação”, explica Osmar Dalla Costa, zootecnista da Embrapa Suínos e Aves, que é parceira da ACCS.
 
Na central de inseminação, um reprodutor de um ano e meio e pouco mais de 200 quilos já fecundou mais de 800 fêmeas e é pai de mais de 9 mil leitõezinhos. Mas fêmea mesmo ele não conhece. Depois de ter o prepúcio depilado e higienizado, os machos sobem em manequins de metal e, estimulados por um funcionário, ejaculam num copo coletor que mantém o sêmen a 36 ºC, evitando assim a morte dos espermatozoides por choque térmico.
 
O material segue imediatamente para o laboratório, onde, após avaliação computadorizada, que analisa as características e a qualidade, o sêmen é aprovado ou descartado. Se aprovado, o material passa por processos de diluição, filtragem e resfriamento. Só então é envasado e identificado. As doses de 50 ou 80 mililitros são entregues ao produtor no mesmo dia. O transporte até as granjas é feito num carro preparado com um tipo de geladeira. O criador tem de cinco a sete dias para fazer a inseminação. O reprodutor volta para uma nova coleta a cada cinco dias, durante aproximadamente dois anos, depois ele é castrado e enviado para abate. Mauro Serafim, veterinário responsável pela central, explica que não é recomendado ficar muito tempo com um reprodutor. “A gente supõe que os animais estão vindo melhor do que há dois anos, então, faz parte do melhoramento genético essa troca."
 
Para a família Cesca, dona de uma granja com quase 5 mil matrizes em Salto do Veloso, também em Santa Catarina, comprar o sêmen da central representa acima de tudo economia. “Nós temos sempre 600 fêmeas parindo todos os meses cerca de 9 mil leitões. Antes, pagava royalties para uma empresa que detém a patente da genética de um tipo de suíno de ponta que a gente criava aqui. Cerca de R$ 2 por leitão que eu conseguia produzir. Adquirindo o sêmen da ACCS, fico livre dessa taxa e não sinto que perdi qualidade. Tenho baixa mortalidade e leitões sadios”, conta Paulo Cesca, que também já adequou sua criação às normas de bem-estar animal, de olho nas exigências dos compradores. De olho no futuro!