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Genética

Clonagem de bovinos, o risco da excelência

25 fevereiro 2010 - 00h00

Por Jeferson da Luz Em 1º de dezembro de 2009 uma nova fase na pecuária nacional foi inaugurada. Naquele dia a ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu) fez o primeiro registro de um zebuíno clonado, a bezerra Divisa Mata Velha TN 1.

Na prática isso significa poder perpetuar animais com grandes qualidades genéticas, uma espécie de backup (cópia de segurança) que o pecuarista pode fazer de seus melhores exemplares. É como se uma vaca campeã nunca morresse.

A técnica usada é teoricamente simples, mas até bem pouco tempo era restrita a instituições de pesquisa governamentais, pois o custo era muito elevado. Mas como tudo que é novo, o tempo passou e o custo caiu. A Divisa Mata Velha TN 1, cópia, saiu por R$ 50 mil – a original, Divisa Mata Velha, foi comprada por R$ 2 milhões.

Chegará o dia que a TN (Transferência Nuclear) será uma técnica dominada nas fazendas, como hoje é a inseminação artificial. Daí nasce a possibilidade de termos as fazendas cheias de campeões de pista que serão enviados para o abate, o sonho de todo dono de frigorífico. A melhor carcaça, o melhor acabamento de gordura, o melhor ganho de peso, tudo isso porque teremos uma multidão de indivíduos geneticamente iguais.

Mas é justamente aí que pode estar o perigo. Lembra-se do mal-do-panamá, doença que atinge as bananeiras? No país que deu nome ao mal levou os plantadores a ter de exterminar plantações inteiras. Mais de 40 mil hectares se tornaram impróprias para o cultivo da fruta, trazendo milhões de dólares em prejuízos.

E tudo isso se deu porque essas plantas, na verdade, são clones naturais, elas não nascem a partir de uma união de gametas (esperma e óvulo, no caso animal, micrósporo e megásporo, no caso vegetal), brotam umas das outras. Razão pela qual podem ser suscetíveis a certas doenças, pois sem cruzamento não há melhoramento genético.

Imagine da seguinte forma. Algumas pessoas têm alergia a camarão, outras a lactose, se, em uma situação hipotética, um individuo alérgico for clonado, o clone também terá alergia. Da mesma forma, se a vaca ou o boi original tiver algum problema escondido, que só venha a ser desencadeado sob determinadas circunstâncias e essas ocorrerem quando nossos pastos estiverem cheios de clones, o resultado pode ser devastador para a pecuária.

Para Ricardo Marchetti, gerente comercial da Geneal Genética Animal, empresa que realiza clonagem comercialmente, esse é um problema que pode acontecer em qualquer outra situação independentemente de ser ou não uma população de clones. “As doenças quando atacam, geralmente, atacam uma espécie e não apenas um indivíduo”, argumenta. “Sendo assim, não importa se o animal é clone ou não”, reforça. “Mas caso aconteça uma algum problema que ameace uma espécie toda, é bom se ter um backup dela. Se tivermos o material genético armazenado poderemos fazer a reposição da população, ela não será extinta”, completa.

Além disso, na opinião de Marchetti, a clonagem não deve ser usada em animais de corte, como no cenário hipotético apresentado, mas sim apenas como já é feita hoje, para prolongar e potencializar as características únicas de um exemplar, onde seus gametas são usados em cruzamentos de forma que o resultado sempre será um filho e não um clone, o que elimina problemas genéticos na geração seguinte.

Outro ponto de vista

Contudo, esse não é o mesmo pensamento do pesquisador Rodolfo Rumpf, da Embrapa Recursos Genéticos. Para ele, em mais dez anos, já teremos população de clones para corte. Segundo disse, esses indivíduos serão sim suscetíveis a doenças e outros problemas pelo fato de serem cópias uns dos outros, como no caso da bananeira. “Isso acontece todas as vezes que se diminui a variabilidade genética”, alerta.

Para evitar a erradicação em massa do rebanho com a ocorrência de uma enfermidade é fundamental, conforme Rumpf, que o uso da tecnologia seja feito de forma bem criteriosa sempre obedecendo às estratégias de melhoramentos genéticos. “E ainda, tem de se criar uma banco de genoplasma, com sêmen, óvulos, embriões para que se preserve a diversidade genética das raças. Dessa forma, caso aconteça uma catástrofe com o rebanho, sempre tem com voltar atrás e começar tudo de novo”, explica.     

De acordo com o pesquisador, a clonagem é diferente de tudo o que já foi feito na bovinocultura: inseminação artificial, congelamento de embriões entre outras formas de reprodução. E a técnica não está totalmente dominada.

Ele crê que em mais cinco anos, com índices técnicos melhores, ou seja, mais eficiência, ela esteja mais acessível para a utilização em animais que serão destinados ao corte.  Rumpf é um dos defensores de que as associações de criadores tenham seus próprios bancos de genoplasma para garantir a segurança da diversidade de uma raça. A Embrapa já faz isso, mas somente com animais da fauna brasileira ameaçados de extinção.