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Pecuária

A pecuária pode ser verde

04 novembro 2009 - 00h00Por Jornal do Brasil

De uns tempos para cá, os pecuaristas brasileiros passaram a ser apontados como grandes vilões do meio ambiente, acusados de desmatar florestas para abrir pastagens e promover queimadas. Todas premissas verdadeiras. É igualmente verdade que os gases intestinais dos animais, que exalam gás metano na atmosfera, têm sua parcela de responsabilidade no aquecimento global, conforme comprovam pesquisas científicas. Por tudo isso, não apenas os governos mas a própria sociedade – e, por consequência, o mercado hoje exigem mudanças na forma de produção de nossa pecuária.

No entanto, é preciso também mostrar o lado bom da moeda. Pois também é verdade que, segundo informações do Ministério da Agricultura, da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e da FAO (Food and Agriculture Organization, da ONU), as áreas de pastagens no Brasil se expandiram 4% entre 1975 e 2007, ao passo que a produção de carne bovina aumentou 227%. No mesmo período, a área da agricultura se expandiu em 27%, contra 207% da produção de grãos. Em resumo: a produção de proteína vermelha no Brasil aumentou 57 vezes mais do que a sua área, enquanto a de grãos cresceu oito vezes.

Esse extraordinário desempenho da pecuária se explica pela tecnologia. Graças ao melhoramento dos rebanhos, feito através da genética aplicada aos plantéis, um animal que antigamente levava 48 meses para atingir o peso ideal para abate, hoje está pronto na metade desse tempo. Isso melhorou a produtividade e a qualidade da nossa carne e permitiu ao Brasil tornar-se o maior exportador mundial de proteína vermelha, gerando importantes divisas para a balança comercial do país.

No entanto, a pecuária brasileira enfrenta hoje um novo desafio: como conciliar a atividade com o respeito ao meio ambiente? A resposta existe e, mais uma vez, reside na tecnologia.

Só que, desta vez, aplicada ao manejo dos pastos. Tratase do Sistema de Pastoreio Voisin (pronuncia-se voazan), um método criado no pós-guerra, na França. Ainda pouco utilizado no Brasil, o Voisin é o caminho para se criar uma pecuária não apenas mais produtiva mas também ecologicamente correta. Pois hoje não basta ter apenas o boi verde (o alimentado basicamente com capim, nosso grande diferencial no mercado internacional).

Também nossa pecuária tem que ser verde.

Na pecuária extensiva, modelo mais praticado no Brasil, os animais ficam por longos períodos numa mesma área. Assim, comem o rebrote do capim, enfraquecem as plantas forrageiras e degradam o solo.

Custa caro recuperar esse pasto. São necessárias máquinas consumindo óleo diesel para arar, gradear e semear a terra, além de fertilizantes, herbicidas etc. Muitos acabam, por isso, optando por abrirem novas áreas de pastagens, destruindo áreas de florestas, atitude inconcebível no mundo moderno e rejeitado pelo mercado consumidor.

No método Voisin, isso não ocorre. Ele consiste em dividir as pastagens em um grande número de piquetes, limitados por cercas eletrificadas, preferencialmente através de energia solar. O tempo ideal de permanência dos animais nestes piquetes é de 24 horas. Como os animais ficam ali por pouco tempo, o processo de crescimento do capim, que começa cerca de 18 horas depois do seu corte, não para nunca. Enquanto o gado está num cercado, o capim cresce livre nos outros. Numa imagem: enquanto na pecuária tradicional o boi pasta em regime self-service, no Voisin ele come o prato do dia.

Além de permitir que o produtor tenha melhor controle do processo de engorda de seus animais, ganhando assim em produtividade, o Voisin tem ainda efeito direto na captação de grandes quantidades de CO2 da atmosfera, tendo em vista que é na fase em que as plantas estão em crescimento, por conta das altas taxas de fotossíntese, há maior absorção de gás carbônico. Desnecessário descrever os efeitos positivos disso sobre o aquecimento global.

Mas não é só isso. Na medida em que não exaure a terra, o Voisin acaba com a necessidade de abertura de novas pastagens, contribuindo para a preservação das florestas.
Também diminui o uso de adubos químicos, posto que o próprio estrume e urina do gado servem de adubo natural. Sem falar na queima de óleo pelas máquinas usadas na recuperação dos pastos. Também reduz o uso de madeira para as cercas, já que elas são ligadas por fios eletrificados a uma distância média de 100 metros, em vez dos 2,5 metros habituais. E ainda pode servirse de uma fonte de energia renovável, o Sol.
No Brasil, o grande difusor desse sistema é o engenheiro agrônomo Humberto Sório, professor da Universidade de Passo Fundo (RS), que há 40 anos se dedica a implantar e prestar assistência a fazendas que, como as do Grupo Monte Verde, de minha propriedade, buscam aliar produtividade, baixo custo e sustentabilidade – três elementos que considero fundamentais para o futuro da pecuária brasileira.

Diante do aumento do poder de compra do brasileiro e das nações emergentes, como China e Rússia, temos o desafio de dobrar a nossa produtividade na próxima década sem criar novos pastos e de maneira ecologicamente correta. Uma meta perfeitamente factível. Usando técnicas corretas de manejo da terra, o pecuarista brasileiro não apenas aumentará a sua produção como também, de vilão da natureza, tornar-seaacute; um aliado do meio ambiente.