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Produção de brasiguaios cresce em meio a instabilidade permanente

23 fevereiro 2010 - 00h00Por Gazeta do Povo, por José Rocher, de Iguazu (PY).

Os cerca de 300 mil brasiguaios ampliaram a produção agrícola no Leste do Paraguai em meio à instabilidade política e social do país. A logística vem melhorando, mas problemas crônicos não foram resolvidos. Para cada agricultor estrangeiro, há um paraguaio sem-terra. As fazendas mantêm seguranças armados nas portarias, embora os proprietários digam ter mais receio do governo do que de invasões. Eles têm um argumento decisivo a seu favor: a produção agrícola mostra-se como o caminho mais rápido para fortalecer a economia do Paraguai.

O paraguaio Francisco Lopez, que cultiva 80 hectares de soja e atua como professor de guarani numa escola pública de San Alberto (Alto Paraná), afirma que seu país depende da produção dos brasiguaios. Em sua avaliação, os agricultores paraguaios têm dificuldade de se firmar na produção de grãos porque desconhecem tecnologias eficientes. "Não temos assistência técnica, acompanhamento." Outro problema, aponta, é a falta de crédito oficial. Esses deveriam ser os pontos centrais de uma reforma agrária, defende.

Entre os produtores com áreas estruturadas, há poucos paraguaios. Os que se firmaram simplesmente "entraram no jogo", conta Juan Alderete, que cultiva 180 hectares em Mbaracayú. "Não é fácil produzir soja. Ninguém foi obrigado a vender as terras para os ‘sojeiros", afirma. Muitos antigos proprietários se desfizeram de áreas produtivas, há duas, três décadas, sem conhecer seu potencial. Hoje as terras no Paraguai triplicaram de valor – são cotadas a cerca de dois terços do preço cobrado no Oeste do Paraná.

A situação é mais tranquila do que parece, dizem os brasileiros que investem no Paraguai. "Para quem veio aqui, se instalou, fez a documentação correta, se há problema, é muito pouco. Para quem atua de forma ilegal, há problemas em qualquer país", afirma o gerente da Lar Paraguay, Ovídio Zanquet. Ele diz que o Paraguai é considerado inseguro injustamente. "O tráfico de drogas e o de armas ocorrem por interesse de quem? Dos estrangeiros."

Os brasileiros que atuam na região não poupam elogios ao país e dizem que as mudanças esperadas podem ocorrer rapidamente. "Quando chegamos, não havia nada. Hoje temos tudo aqui mesmo, não precisaríamos mais ir ao Brasil", diz Alcides Comin, que deixou o Oeste do Parahá 40 anos atrás e cultiva 95 hectares em Nueva Esperanza (Canindeyú). Ele acaba de inaugurar casa nova, com janelas amplas, como sempre sonhou. "Aqui em volta era só mato. Certa vez, para não ser devorado, tive que matar uma onça a balas", relata o ex-seminarista.

Entre as tecnologias levadas pelos brasileiros, a mais importante é o plantio direto na palha. Mais de 80% das lavouras têm o solo coberto de palhada, conforme estimativa mais difundida – são dez pontos a mais que no Paraná, estado brasileiro referência no sistema. "A diferença é que aqui usou-se o solo de maneira errada por menos tempo. Os produtores adotam o plantio direto desde que as áreas foram abertas", afirma o agrônomo Carlito Ganja.

Outra vantagem de quem produz no Paraguai é a possibilidade de comprar insumos e vender os grãos em dólar. Obrigatória no Brasil, a conversão para o real reduz a renda dos agricultores. A "passeio" de soja brasileira no Paraguai não resolveria o problema.