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Os pecados capitais também são cometidos no confinamento

07 outubro 2009 - 21h15

Pecar todos pecam, isso é fato. Mas há os pecados capitais que ao serem cometidos desencadeiam, segundo a doutrina católica, uma série de novos delitos e no setor agropecuário as transgressões também estão presentes, assim, ninguém está imune de cometer algum pecado, mesmo que seja venial.

De relevância confirmada, o confinamento é o sistema de criação de bovinos em que lotes de animais são encerrados em piquetes ou currais com área restrita e pode ser aplicado a todas as categorias do rebanho.

A técnica é adotada na fase da produção que imediatamente antecede o abate do animal, conhecida como terminação, e como a interferência humana está diretamente ligada à sua eficiência, o confinamento não está livre de sofrer com os pecados capitais.

O pesquisador, Sérgio Raposo de Medeiros, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, enumera os dez pecados praticados no confinamento: improviso, problemas nas instalações, tratamentos sanitários insuficientes, seleção errada de animais, lotes heterogêneos, dieta inadequada, falta de adaptação ou adaptação insuficiente, manejo da alimentação incorreto, ponto de abate e menosprezo da importância da água.

O improviso, apontado por ele, é erro grave e capaz de comprometer todo o sistema. “A grande vantagem do confinamento é que tudo que entra deve sair. É possível fazer um confinamento sem prejuízo. Confinamento é igual a planejamento, demanda competência de gestão, sem esse compromisso é melhor não fazer”, afirma o cientista que desenvolve pesquisas na área na Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS).

Por sua vez, os problemas nas instalações envolvem, principalmente, má drenagem, falta de inclinação do terreno, inclinação contra o cocho e espaço linear insuficiente. Já os tratamentos sanitários dizem respeito a seguir as normas sanitárias vigentes, os calendários de vacinação e vermifugação. A seleção inadequada de animais e os lotes heterogêneos são outras penalidades.

O agrônomo Sérgio Raposo explica que deve-se selecionar animais com alto potencial de ganho, grau de terminação de “meia-carne” para baixo, em bom estado geral de saúde e, de preferência, homogêneos. Os lotes homogêneos, continua Raposo, “facilitam o manejo, reduzem o estresse, evitam problema de consumo, melhoram o desempenho e permitem a redução em vendas picadas”.

Como pesquisador em nutrição animal, ele aponta a adoção de uma dieta incorreta, como uma das fases em que o produtor pode perder mais dinheiro. Para cada situação há a dieta ideal. A relação volumoso – concentrado recomendada é aquela em que se obtém o menor custo em arroba produzida com segurança.

O sétimo pecado chega como a falta de adaptação ou adaptação insuficiente. Isso pode gerar distúrbios nutricionais, dificultar a estabilização do consumo e reduzir o desempenho temporariamente. A seguir, está o manejo da alimentação, no qual os erros mais frequentes, mencionados por Sérgio, são o não monitoramento do consumo, a diluição do concentrado com o volumoso, o fornecimento em uma única refeição ou com espaço de tempo insuficiente entre refeições e dietas mal misturadas.

O ponto de abate e o menosprezo à importância da água fecham a lista. Para o especialista, os animais terminados não devem ser mantidos no confinamento e deve haver água de qualidade à vontade para o rebanho. Caso tais pecados não sejam cometidos pelos confinadores, os mesmos terão uma ferramenta de intensificação da atividade pecuária, que adianta o abate, consequentemente, o faturamento, reduz a carga animal na pastagem e melhora a qualidade da carne. “Os resultados positivos vão além do confinamento”, conclui Sérgio Raposo.

Boas Práticas Agropecuárias

Nada melhor do que a prática de boas maneiras para se redimir de uma transgressão grave. A adoção do Programa de Boas Práticas Agropecuárias– Bovinos de Corte (BPA) pode ser uma salvação.

Nele, a propriedade tem sustentabilidade, produção de alimentos seguros e bem-estar animal. Lançado em Campo Grande-MS, em 2005, pela Embrapa Gado de Corte, MAPA/SDC, Governo do Estado de MS e Câmara Setorial Estadual da Bovinocultura de Corte, o BPA, em 2007, foi expandido para as demais regiões produtoras do país, com coordenações regionais no Pará, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul.

O Programa, de acordo com o pesquisador da Embrapa, Rodrigo Amorim Barbosa, integrante da equipe técnica, conscientiza os produtores rurais, capacita instrutores e multiplicadores, implanta o protocolo BPA nas propriedades, emite o laudo de implantação e certifica a fazenda.

Tudo isso proporciona ao produtor “a identificação e correção dos pontos críticos de sua atividade, a redução das perdas e da má utilização de insumos, a diminuição dos riscos trabalhistas e ambientais, a melhoria da qualidade do produto, a agregação de valor ao mesmo, a competitividade e o acesso a mercados diferenciados”, lista Rodrigo Amorim.

Ao evitar cometer tantos pecados graves e praticar boas ações, o produtor pode sim chegar ao céu, que para ele seria administrar um negócio rentável, mas, principalmente, sustentável em todos os aspectos. Esses temas foram discutidos durante o Ciclo de Palestras da I Expo MS, o Encontro do Agronegócio.

A feira, realizada pela Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), tem entre parceiros e expositores a Embrapa, presente com a tecnologia BPA e sua coleção de forrageiras na Casa da Embrapa e com especialistas no Ciclo de Palestras e no Seminário de Ovinocultura no Cerrado. A Expo MS segue até o dia 12 de outubro, em Campo Grande-MS.