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O desafio de vender carne de ovelha em larga escala

19 novembro 2010 - 12h17Por Pec Press/ Robson Rodrigues
O desafio de vender carne de ovelha em larga escala

A ovinocultura brasileira passa por momento de grande transformação, ocasionada pelo redirecionamento da produção uruguaia para mercados de maior valor agregado, como Estados Unidos e Europa.

O país vizinho respondia por mais de 80% da carne de cordeiro consumida no Brasil e agora a cadeia produtiva tenta se organizar para produzir animais padronizados e atender a demanda interna.

Se de um lado o rebanho de ovinos existente no País, cerca de 16 milhões de cabeças, segundo o IBGE, é insuficiente para atender o consumo, de outro, produtores se beneficiam de cotações nunca antes vistas no mercado, o que deve estimular a produção.

Em São Paulo, onde a carne de cordeiro é apreciada pela alta gastronomia, a indústria está pagando até R$ 5,00 pelo quilo vivo ou R$ 11,00 pelo mesmo peso em carcaça.

“Somente para atender o mercado de São Paulo, por exemplo, seria necessário um rebanho três vezes maior do que o existente em toda região Sudeste”, afirma Lucas Heymeyer, da Dorper Campo Verde, de Jarinu (SP).

Há tempos o setor espera por essa elevação nos preços, cenário visto por muitos como o momento ideal para aumentar os investimentos. Os preços seguem firmes e permitem ao ovinocultor investir em infraestrutura e na melhoria de seu rebanho.

O Brasil conta com um excelente acervo genético, tecnologias, pesquisas e indústrias especializadas, faltando apenas produção em grande escala.

Bom negócio. Em franco crescimento mundial, a ovinocultura de corte é hoje uma excelente oportunidade de negócio. A carne de cordeiro é considera um produto ‘premium’ em todos os países importadores, sendo consumida por um público fiel, de alto poder aquisitivo.
 
Mesmo com a redução do rebanho mundial de ovinos em 8% nos últimos 20 anos, a produção de carne de cordeiro aumentou em 27% nesse período, segundo o último levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO).
 
Somente no Brasil, as importações saltaram de US$ 6 milhões para US$ 23 milhões, entre 1997 e 2008, confirmando a crescente demanda de consumo.
 
Quem trabalha na atividade acredita que em curto espaço de tempo, o País será autossuficiente em produção. Para o presidente da ARCO, Paulo Schwab, isso deve acontecer em menos de cinco anos, se o produtor focar esforços no processo de crescimento do rebanho, no controle de mortalidade e na restrição do abate de fêmeas.
 
“Precisamos chegar a 50 milhões de cabeças neste período e a 100 milhões nos próximo dez anos para tentar nos aproximar do que é a bovinocultura de corte. Essa quantidade permitiria uma produção que sustente o consumo regular o ano todo, sem sobressaltos”, esclarece Schwab.
 
Logística. Parece ser uma tarefa árdua ao considerar aspectos como a distribuição da atividade. Existe um grande número de criadores que trabalham em escala comercial, porém, cerca de 60% do rebanho ovino está em pequenas propriedades, na grande maioria, associadas a outras atividades rurais, como informa Camila Raineri, criadora e doutoranda em custos de produção.
 
A expansão da ovinocultura depende da entrada de novos empreendedores e também de investimentos de quem já trabalha na criação. O pequeno produtor enfrenta grande dificuldade em escalonar a produção, mas algumas estratégias podem mantê-lo rentável.
 
Segundo Raineri, são ações simples. A mensuração de dados na propriedade (dados reprodutivos das fêmeas, peso do produto do nascimento ao abate) seria o passo mais importante. “Essas informações são fundamentais ao que se refere à organização. O criador deve encarar a ovinocultura com visão empresarial, tendo em mente que o investimento deve se pagar em curto prazo. Um levantamento é fundamental para todas as ações da propriedade”, ressalta.
 
Monta. Na ovinocultura de corte, mesmo os pequenos produtores, devem programar estação de monta. De acordo com Heymeyer, a mais simples pode ser dividida de três a cinco meses, planejando para que o produto termine em períodos de maior demanda (e remuneração).
 
Intensificando o processo para duas ou três no ano, a produção de cordeiros torna-se constante. A prática também permite conhecer os índices zootécnicos do rebanho e facilita o descarte de animais inférteis, fêmeas que não produzam muito leite e carneiros que estão gerando consanguinidade e estagnando a produtividade.
 
‘Uma escrituração zootécnica e financeira ajuda a levantar os dados produtivos dos animais e a controlar o custo-benefício do sistema de produção’, afirma.
 
Controle sanitário é outro grande desafio. Sem manejo preventivo, o fracasso é inevitável na ovinocultura. Carneiros só demonstram debilitação no terço final de vida e mesmo quando salvos não recuperam a produtividade. Isso porque geralmente são atacados por poli-infecções de vermes gastrintestinais.
 
Apenas um reprodutor morto por verminose representa um prejuízo de R$ 3.000,00, em média, sem incluir as crias que deixaram de ser produzidas. No mínimo, devem ser feitas três vermifugações no ano.
 
Genética. Produzir em escala comercial é uma necessidade, porém, é preciso atentar ao consumidor, que deseja um produto de boa procedência, com sabor acentuado e de qualidade.
 
O melhoramento genético é fundamental neste processo, proporcionando ganhos a grandes e pequenos produtores.
 
O progresso genético do rebanho reduz o ciclo de produção e proporciona maior rendimento no abate, principalmente nos cortes nobres. Algumas raças estão ganhando terreno no Brasil por sua capacidade de produzir cordeiros prontos para o abate entre os 100 e 150 dias e com peso aproximado de 40 Kg de peso vivo.
 
“Vale lembrar que essa genética deve ser obtida de criatórios idôneos, que comprovem a produtividade e eficiência dos animais”, comenta Lucas Heymeyer, responsável de vendas da Dorper Campo Verde, de Jarinu (SP).
 
A cabanha comercializa reprodutores e matrizes Dorper de linhagem sul-africana comprovados. É também uma das pioneiras na implantação das Deps (Diferença Esperada por Progênie) na ovinocultura.
 
Com a impossibilidade de aumentar a propriedade, pequenos produtores podem desfrutar da seleção genética, agregando precocidade e melhor rendimento de carcaça ao rebanho.