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Como evitar o aparecimento de clostridioses no rebanho

12 fevereiro 2010 - 00h00Por DBO - Editores Associados

Casos de morte súbita sem causa aparente em uma fazenda sempre me despertaram a atenção, já que a sanidade dos rebanhos bovinos pode interferir na produtividade e na lucratividade da pecuária. Vários trabalhos de conscientização estão sendo feitos para alertar os produtores rurais sobre o perigo das clostridioses, que estão entre as principais responsáveis pela mortalidade de animais no País.

Nos surtos da doença, o produtor acaba perdendo os animais de maneira repentina e assustadora, pois a maioria das clostridioses tem curso rápido. Apesar de não existirem estatísticas, especialistas estimam que, no Brasil, esse mal atinge mais de 400 mil animais por ano e gera um prejuízo de R$ 1,1 bilhão.

Mesmo não havendo contágio direto de animal para animal, o ambiente é fator determinante no seu aparecimento. Normalmente presentes no solo, na musculatura ou no trato digestivo dos bovinos, mesmo sadios, os clostrídios - bactérias causadoras das clostridioses - permanecem nesses locais de maneira inofensiva à espera de uma oportunidade que seja favorável para o seu desenvolvimento e a produção de poderosas toxinas. Na maioria das vezes, elas se manifestam após procedimentos vacinais inadequados, pancadas, ferimentos, castrações, partos e quando há troca de alimentação sem a devida adaptação.

As infecções e intoxicações causadas pelos clostrídios podem ser agrupadas em doenças neurotrópicas e clostridioses clássicas. Dentro desse último grupo, encontram-se as mionecroses, enterotoxemias e males que causam maior dano ao tecido hepático. Cada tipo de patologia tem um agente etiológico, com diferenciação no modo de infecção e nos sinais clínicos.

A mais disseminada mionecrose é o carbúnculo sintomático - principal clostridiose do Brasil - conhecida ainda como manqueira ou mal do ano. Os animais acometidos por essa doença apresentam inchaço muscular e manqueira e geralmente morrem em pouco tempo. A musculatura acometida fica com aspecto enegrecido devido à necrose.

Outras mionecroses, como gangrena gasosa e edema maligno, são causadas pela penetração dos clostrídios em feridas, e a produção das toxinas no local causa necrose com ou sem produção de gás e toxemia.

Os esporos também podem penetrar no organismo do animal por meio de feridas causadas no momento do parto, provocando a gangrena pós-parto.

As enterotoxemias são causadas por alterações alimentares que favorecem a proliferação dessas bactérias no trato gastrointestinal. Ocorrem geralmente em confinamento, devido à sobrecarga alimentar e/ou a alterações na alimentação. Os animais acometidos apresentam sintomas neurológicos, respiratórios e intestinais. Em ovinos, espécie mais susceptível, é conhecida como doença do rim polposo, por causa do aspecto desse órgão na necrópsia.

Há ainda aquelas que alteram a função hepática dos animais, como a hemoglobinúria bacilar e a hepatite infecciosa necrosante, e as doenças neurotrópicas, como o botulismo e o tétano, que causam paralisia muscular e, consequentemente, a morte dos animais. O botulismo é adquirido pela ingestão das toxinas, principalmente em animais com deficiências nutricionais, que se alimentam de carcaças. Com isso, morrem após a paralisia dos músculos respiratórios. Devido à alta mortalidade dos animais por esse tipo de clostridiose, ela é considerada uma das doenças de maior importância nos rebanhos.

Em todas as clostridioses, o tratamento tem baixa chance de sucesso, pois as doenças matam os animais em poucos dias ou até mesmo em algumas horas após a manifestação de algum sintoma.

Para a efetiva proteção do rebanho contra essa realidade tão assustadora, é extremamente necessário que haja o controle por meio de medidas profiláticas, como manejo adequado dos animais para evitar lesões e traumatismos, higiene de equipamentos veterinários, cuidado com a água e as fontes de alimentos, mineralização adequada e descarte correto de animais mortos para evitar a contaminação dos sadios.

Paralelamente a esses cuidados, a vacinação continua sendo a medida mais eficaz para o controle das clostridioses, já que protege os animais, pois ativa o sistema imune e faz com que ele produza anticorpos contra as bactérias e toxinas que causam as doenças. É comprovadamente o método mais eficiente e efetivo.

Faço aqui um alerta. O velho hábito de vacinar apenas animais jovens agrava a situação dos rebanhos. A maioria das clostridioses não escolhe idade e nem condição física. Portanto, a vacinação deve ser feita tanto em bezerros quanto em adultos. Há um grande mito de que animais mais velhos são mais resistentes. Não há resistência contra as clostridioses, elas acometem os animais em qualquer idade, em qualquer circunstância. Basta encontrar um cenário favorável.

É bom lembrar que, atualmente, as vacinas estão mais modernas e um único produto é capaz de proteger as fazendas contra diferentes bactérias que desencadeiam a doença. A única exceção é para o botulismo, que deve ser prevenido com produto específico.

O diagnóstico é feito por meio dos sintomas clínicos e epidemiológicos. Entretanto, para confirmar que a causa da morte foi uma clostridioses é necessário que o médico veterinário realize a necropsia do animal e envie o material, adequadamente acondicionado, ao laboratório, já que essas bactérias estão presentes no ambiente e nos próprios organismos.

Mais um alerta com relação às vacinas. Esse tipo de produto é sensível ao calor e não deve ser guardado fora da temperatura ideal, que é de 2ºC a 8ºC. Caso contrário, não funcionará. Não é recomendado guardar os produtos nas fazendas, pois nesses locais há maior probabilidade de haver falhas de manutenção da refrigeração e falta de controle da temperatura. Congelar a vacina faz com que ela perca totalmente o seu efeito. Diante disso, o apropriado para garantir a eficácia do produto é comprá-lo momentos antes de sua aplicação e transportá-lo de maneira adequada.

Um bom programa de vacinação é outro ponto fundamental e garante um resultado eficaz. Para o sucesso no rebanho, os produtores precisam respeitar o calendário de vacinação, a dose por animal e a via de aplicação. Uma falha encontrada nas fazendas ainda é a falta da revacinação. Não podemos esquecer que a segunda dose do produto é tão importante quanto a primeira e essa reaplicação deve ser seguida rigorosamente. A proteção dos animais não depende só de uma única dose.

Portanto, a indicação é de que a vacina seja aplicada em bezerros a partir dos dois meses de idade e reforçada após 30 dias. A partir daí, uma dose anual é suficiente em situações normais. Além disso, revacinar as vacas, preferencialmente, um a dois meses antes do parto previsto, e os animais, pelo menos duas semanas antes da entrada no confinamento e pelo menos duas semanas antes da castração.

Por Rudsen Pimenta, zootecnista e diretor de marketing da Ouro Fino Agronegócio.