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Carne de laboratório chega ao mercado em 2021

08 maio 2018 - 00h15Por Revista Globo Rural

O hambúrguer de laboratório estará no mercado em até três anos. Quem garante é o professor de fisiologia da Universidade de Maastrich (Holanda), Mark Post, que chamou a atenção do mundo ao apresentar a carne produzida de células-tronco de músculos de vacas.

“Se a carne cultivada se tornar uma alternativa aceita, acabará por eliminar a carne convencional. No entanto, isso deve levar 20 anos”, acredita Mark, que concedeu entrevista por telefone à Globo Rural.

A partir da pesquisa, fundou a MosaMeat, da qual é o executivo-chefe da área científica. A missão da companhia é desenvolver a engenharia de tecidos para a produção em massa de carne a preço acessível, diz, que prevê no futuro filés, lombos e até asas de frango de laboratório.

Por que ter uma carne produzida em laboratório?
Existem muitas boas razões para esse investimento. A carne, evidentemente, representa uma parte importante das nossas dietas diárias. É altamente apreciada. Mas ela também representa uma parte muito cara da dieta, em termos dos recursos naturais que são necessários para produzi-la. A produção de carne também está associada à emissão de gases de efeito estufa. Estudos indicam que cerca de 15% a 20% de todas as emissões de gases de efeito estufa no planeta são provenientes da atividade pecuária. E, em terceiro, há uma preocupação crescente da população com a questão do bem-estar animal, em relação ao fato de se abater tantos animais no mundo para servir de alimento.
 
Como a carne de laboratório é feita?
O tecido é finamente cortado em fibras musculares quase individuais e, em seguida, as fibras são tratadas com uma enzima para liberar as células-tronco. Elas são, então, cultivadas em frascos de tecido sob um meio adequado. Percisam ser células-tronco de músculo. Em nove semanas, o hambúrguer fica pronto.
 
Em que fase está seu trabalho agora?
Nós criamos uma empresa, chamada MosaMeat, que visa elevar a escala de produção e obter a aprovação regulatória na União Europeia para produzir. Isso leva pelo menos um ano e meio a partir do início do pedido às autoridades. Acredito que em três anos, provavelmente, teremos um produto no mercado, embora ele ainda possa estar relativamente caro. Primeiro, estará em restaurantes na Europa. Depois, deverá estar em supermercados ao redor do mundo. Mas, para que isso aconteça, precisa tornar-se barato.
 
Qual seria esse preço?
O preço em três anos ainda ficará um pouco alto. Provavelmente, teríamos de pensar em algo como US$ 10 por hambúrguer em restaurantes e casas especializadas. Mas acredito que, nos anos seguintes, conseguiremos baixar ao nível dos supermercados, mas isso ainda levará algum tempo. É muito difícil dizer em quanto tempo, mas, provavelmente, não será nos próximos três anos.
 
Você pretende testar ou já está testando em outras espécies, como suínos ou frango?
Outras companhias estão fazendo isso. Estamos concentrados na carne bovina, por causa dos recursos e das emissões de metano. Mas há pessoas concentradas na carne de aves e outras concentradas na carne suína. Eu acredito que nós ainda vamos ver algum tipo de especialização de algumas companhias em diferentes espécies.
 
Você acredita que é possível cultivar outros cortes, além de hambúrgueres, como filés, por exemplo?
Sim. É possível, mas requer um pouco de tecnologia adicional. Agora, quanto tempo isso vai levar, acredito, pelo menos de cinco a seis anos até termos uma primeira prova de conceito do que podemos fazer.
 
Estou perguntando isso e imaginando uma asa de frango criada em laboratório, com ossos e tudo. É possível?
É possível. Acredito que é possível fazer isso.
 
Que tipo de tecnologia adicional seria necessária para chegar a um bife ou a uma asa de frango em um laboratório?
Impor uma maior estrutura 3D nas células, cultivar tecido adiposo junto com o tecido muscular (atualmente estamos fazendo isso separadamente) e criar um canal e um sistema de perfusão para distribuir equilibradamente oxigênio e nutrientes.
 
O que o senhor espera da resposta das pessoas quando lhes forem oferecidas a carne tradicional e a cultivada? Como o senhor vê o impacto sobre as pessoas?
Eu sou otimista em relação a isso porque acredito ser relativamente fácil mostrar para as pessoas que isso traz benefícios à sociedade em termos ambientais e ao bem-estar animal. Isso será relativamente fácil. Claro que, no começo, as pessoas terão de superar o medo, e isso leva algum tempo, mas eu estou relativamente otimista de que isso acontecerá em breve.
 
Como pesquisador, de que forma um trabalho como o seu pode mudar a relação das pessoas com o consumo de alimentos?
Minha maior preocupação é reduzir a pegada de carbono na produção de alimentos. É por isso que produtos como uma carne cultivada seriam muito interessantes. Claro que isso também mudaria nosso padrão de consumo, porque você poderá querer passar de uma carne muito apreciada para uma carne que, embora parecida ou até mesmo igual, não tem a mesma qualidade cultural. Então, vai mudar um pouco. A maneira como pensamos a respeito da carne vai mudar. Acho que já está mudando. O que quero dizer é, se você perguntar para crianças de escolas primárias ou secundárias de onde vem a carne, elas dirão do supermercado, e não de uma vaca.
 
O que o senhor diz parece paradoxal. Fala em usar células-tronco para produzir carne e não precisar abater animais. Em teoria, com mais carne cultivada, o que seria feito desses animais que não seriam mais abatidos?
Temos 1,5 bilhão de bois neste planeta, o que é muito. E, evidentemente, agora estamos abatendo para produzir carne. Se passarmos para uma carne cultivada, precisaríamos de muito menos bovinos, cerca de 30 mil animais apenas em todo o planeta. Reduziríamos o número de bovinos consideravelmente. Precisaríamos de bem menos animais.
 
Comida de laboratório, seja carne ou qualquer outra, é o futuro da alimentação em larga escala em sua opinião?
Acredito que sim. Para uma proteína animal que é cara, não em termos de custos, mas em se tratando de recursos naturais, creio que tentar criar alternativas em laboratório é uma grande ideia. Acredito que há uma oportunidade para isso. E não seria necessariamente mais cara. Poderia ser relativamente barata ou mais barata que os produtos atuais. Sim, comida de laboratório poderá ser um padrão no futuro. Se a carne cultivada se tornar uma alternativa aceita, poderá, eventualmente, substituir a convencional. No entanto, isso pode levar 20 anos ou mais.
 
Como você vê a produção de proteína atualmente?
Nós ainda gostamos muito de proteínas de origem animal e, enquanto for esse o caso, passaremos um bom tempo comendo carne. Nós não precisamos, necessariamente, comer carne, pensando em uma perspectiva das proteínas. Podemos também consumir proteínas vegetais. Não precisamos necessariamente de proteínas animais, mas acho que não é uma questão tão importante, pois acho que gostamos tanto que não vamos deixar esse hábito de lado tão cedo.
 
Está claro quando você diz que busca uma alternativa em uma carne cultivada em laboratório com menor pegada de carbono. Mas, em suas apresentações, diz também, categoricamente, que é preciso que seja uma carne. Você acredita que hoje tem uma carne com sabor, textura, cor?
A qualidade ainda não pode ser considerada boa o suficiente. Ainda temos de trabalhar na obtenção de uma qualidade ainda mais alta e, evidentemente, como já mencionei, precisamos também trabalhar para obter bifes e lombos, e isso vai levar um pouco mais de tempo.