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Agricultura

Irrigação será obrigatória para o agricultor

05 julho 2010 - 00h00Por Correio do Povo, por Marcela Caetano.

Os agricultores devem preparar-se para uma década de frio e pouca chuva, na qual a irrigação e o armazenamento de água serão ferramentas essenciais para manter a produtividade das lavouras. Aqueles que não se prepararem, terão grandes dificuldades em enfrentar o período de estiagem esperado. Esta é a previsão do meteorologista e fundador do Weather Channel, Joseph D''Aleo, que esteve em Gramado no 5 Encontro Analys Agricultura de Precisão. Em entrevista exclusiva ao Correio do Povo, o especialista afirma ainda que o fenômeno La Niña será mais frequente que o El Niño nesta década, trazendo problemas principalmente para países como a Argentina, o Uruguai e a região Sul do Brasil.

Correio do Povo - O que podemos esperar em termos de El Niño e La Niña na próxima década?

Joseph D''Aleo - Espero que o La Niña, que se inicia agora, prolongue-se por dois anos. Isso acontece quando a Oscilação Decadal do Pacífico (PDO), que é um padrão de temperatura da superfície do Pacífico, entra em sua fase fria ou negativa. Os El Niños vão ocorrer em períodos mais curtos, como o último, e vão durar um ano ou menos. Os La Niñas vão dominar. Ainda teremos períodos de El Niños, mas eles tendem a ser mais breves, fracos a moderados, enquanto os La Niñas tendem a ser mais longos e mais fortes.

CP - Esse cenário poderia durar quanto tempo?

D''Aleo - Provavelmente, possa durar uns 20 anos, talvez 30, mas podemos garantir que dez anos. O sol está quieto (ele tem ciclos que costumam ser de 11 anos e estaria entrando em uma fase de menor atividade), indicando que, talvez, com o PDO baixo mais frequente, poderia permanecer por até 40 anos.

CP - Em que proporção pode-se esperar a ocorrência dos fenômenos?

D''Aleo - No último ciclo, a proporção foi de dois para um em um ciclo frio. Mas com o sol estando mais "quieto", podemos esperar algo como três para um. La Niñas serão mais frequentes do que El Niños. E isso, junto com a baixa luz solar, significa problemas, especialmente para Argentina, Uruguai e o Sul do Brasil. O La Niña também traz seca para áreas estratégicas dos Estados Unidos. Já neste ano, os meses de julho a setembro devem ser de mais frio e chuva, e, de outubro a fevereiro, mais quente e seco no Centro Sul do RS.

CP - O que se pode esperar do comportamento do clima nestas fases e o que o produtor pode fazer?

D''Aleo - Pode ser que a temperatura global caia, mas haverá calor e seca. Por isso que acredito que precisamos estabelecer a irrigação e formas de economizar e guardar água para as lavouras. Mais do que nunca, ao invés de promessas governamentais de ações para irrigação, precisamos de ação. Os produtores até podem produzir sem esta ferramenta, mas os riscos são muito maiores.

CP - Como serão as chuvas e como os produtores podem preparar-se?

D''Aleo - Eles devem agir como as pessoas de áreas que têm menos chuvas fazem rotineiramente. Se tiverem como armazenar a água, devem criar um lago artificial ou algo para que possam irrigar as lavouras.

CP - Podemos esperar, então, por recuo na produção?

D''Aleo - Minha preocupação é que, se a temperatura começar a baixar (ela vai baixar com o La Niña agora), pode acontecer uma profunda queda como os russos preveem - que poderá ser comparável à chamada Pequena Idade do Gelo, em 1600. Isso quer dizer que, nos próximos cinco anos, teremos menores períodos de cultivo. Nos últimos anos, as culturas foram semeadas mais tarde por causa das nevascas e houve replantio. Ao invés de julho ser o mês-chave para o milho, foi agosto. E o tradicional agosto da soja foi transferido para setembro.