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Terenas já controlam 6.621 dos 17,3 mil hectares que reivindicam

26 julho 2011 - 12h05Por Região News
Terenas já controlam 6.621 dos 17,3 mil hectares que reivindicam

Os terenas das aldeias Buriti, Lagoinha, Água Azul  e Córrego do Meio gradativamente estão atropelando o arrastado processo judicial e administrativo de demarcação das terras  que reivindicam. Eles já ocupam 11 propriedades, sendo cinco em Sidrolândia (somando 2.296 hectares) e seis em Dois Irmãos do Buriti (com 4.025 hectares), totalizando 6.321 hectares, mais de 36,5% dos 17,3 mil hectares que há 10 anos foram reconhecidos pelo Ministério da Justiça como “terra indígena”.  A Reserva Buriti tem 2.100 hectares ocupados por 3.400 índios.

Há 30 dias uma equipe da FUNAI está na região para levantar as benfeitorias das propriedades. O estudo servirá de base para o cálculo do valor de indenização que cada um dos fazendeiros terá direito quando as propriedades forem entregues aos índios. Pela atual legislação ninguém receberá pelo valor da terra nua, só terá ressarcimento pelas benfeitorias que implantou. Em um mês a equipe só conseguiu vistoriar quatro propriedades.

Levantamento do Movimento Nacional dos Produtores mostra que em Sidrolândia estão ocupadas as Fazendas Estância Alegre (370 hectares); Flórida (370 hectares); Santo Antônio (56 hectares); 3R (300 hectares) e Bom Jesus (1.200 hectares) que foram ocupadas mais recentemente. Os índios pleiteiam ainda as fazendas Querência São José (300 hectares) e Buri (300 hectares). Todas elas foram ocupadas pelo menos uma vez desde 2000.

Já em Dois Irmãos do Buriti, os índios ocupam as fazendas Buriti (425 hectares); São Sebastião (300 hectares); Recanto do Sabiá (300 hectares); Furna da Estrela (3 mil hectares) e pleiteiam ainda a  Nossa Senhora Aparecida (1.300 hectares).

Entre as propriedades em litígio três pertencem a família Bacha: a  Buriti de 300 hectares (pertencente a Ricardo Bacha); a Querência do Norte (de Lourdes Bacha com 300 hectares) e a 3 R (de Roberto Bacha, com 300 hectares). Só a 3 R,  que está ocupada por 2 mil índios desde o início de maio,  já foi invadida seis vezes.

Roberto  Bacha diz que nesta última ocupação, ele, a família e os empregados foram rendidos pelos índios que estavam armados. Bacha aguarda o julgamento do Tribunal Regional Federal que numa decisão provisória, suspendeu a liminar (concedida em primeira instância) que determina a retirada dos terenas da propriedade. Mesmo assim, parece resignado a perder a propriedade.

Em dois meses de ocupação da Fazenda 3 R, os índios fizeram uma lavoura de seis hectares, construíram barracos e trabalham na retirada das cerca que separava a fazenda de uma propriedade vizinha, a Bom Jesus, que invadiram no mês passado, expulsando os dois arrendatários da pastagem. 

As últimas ocupações de fazendas reacenderam o  clima de conflito eminente. Os produtores que ainda não tiveram a fazenda ocupada contrataram seguranças particulares, armados, para proteger as terras. Os fazendeiros argumentam que os índios também estão armados. Bacha mostra um livro ata que teria sido encontrado em uma das fazendas ocupadas. Nele há anotações de armas que estariam em poder dos índios terenas, como os nomes de quem usa o armamento, o modelo e o número de munições.

Bacha conta que a propriedade foi adquirida por seus pais e pertence a família há muitos anos. “Naquela fazenda estava até o cheiro do meu pai e isso nunca mais vai ser resgatado. Eu não me sinto em condições de voltar na propriedade”, conta o produtor. Todos os fazendeiros tem título de propriedade emitidos pelo Governo do Estado ou pelo Governo Federal.

O ex-cacique Noel Patrocínio, de 78 anos, morador na reserva Buriti, diz que os jovens terenas estão certos na luta pelo espaço territorial. “Quando a etnia branca chegou aqui, o que é que foi encontrado. Ele garante que os índios não vão desistir da ocupação. “Esse pensamento nunca vai morrer. Ele vai existir enquanto existir o índio, o sonho e o desejo de retomada de território”, enfatiza o cacique.