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Soja: Forte avanço em Chicago é neutralizado pelo dólar para preços no Brasil

02 março 2017 - 00h00Por Notícias Agrícolas

O mês de março começou bastante positivo para os futuros da soja na Bolsa de Chicago e os principais contratos negociados no mercado futuro norte-americano encerraram a sessão desta quarta-feira (1) com ganhos de mais de 15 pontos. O vencimento maio/17, que é referência para a safra do Brasil, foi a US$ 10,51 por bushel. O março/17, que já sai da tela nos próximos dias, terminou o pregão com US$ 10,41.

As commodities agrícolas subiram de forma generalizada nesta quarta, principalmente milho e trigo negociados também em Chicago, com altas de mais de 2% e 3%, respectivamente. Em Nova York, os futuros do café arábica subiram mais de 1,9%, os do açúcar quase 1% e os de algodão, mais de 2%. O avanço foi possível mesmo diante de uma alta também do índice do dólar no exterior, que fechou o dia com um ganho de quase 0,4%.

A possibilidade de uma maior demanda norte-americana por biocombustíveis, com a revisão dos mandatos na política de Donald Trump atuaram como um catalisador para o avanço das cotações, como explicou o consultor de mercado Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. Em seu último discurso, o presidente norte-americano deu algumas 'pistas' de que isso poderia, de fato, se confirmar e estimulou os mercados.

Além disso, toda a projeção de investimentos em infraestrutura projetada por Trump para os Estados Unidos, com elevados volumes financeiros a serem investidos, deverão, ainda segundo Fernandes, estimular as commodities metálicas e contribuir com as agrícolas.

Preços no Brasil

No Brasil, os preços pegaram uma boa carona nos ganhos de Chicago e em boa parte das principais praças de comercialização as altas no mercado doméstico chegaram a superar os 25, como Cascavel e Castro, no Paraná, com valores de R$ 62,50 e R$ 71,00 por saca, respectivamente. As cotações subiram ainda no Rio Grande do Sul, na Bahia e em São Paulo. Em Mato Grosso, preços estáveis em relação à última sexta-feira (24), com referências entre R$ 56,00 e R$ 58,00 por saca.

Nos portos, os indicativos também subiram. A soja disponível foi a R$ 72,50 em Paranaguá, a R$ 73,50 em Rio Grande, a R$ 73,00 em Santos e a R$ 72,50 por saca em São Francisco do Sul, no disponível, com altas de até 2,115 nesta quarta. Já no mercado futuro, essas referências encerraram o dia com R$ 72,50 no porto paranaense e R$ 75,00 no gaúcho.

As altas vieram apesar do dólar. A moeda americana fechou os negócios com R$ 3,0932 e queda de 0,65% neste pregão, anulando os ganhos registrados no início deste pregão. "O dólar já tinha subido bem na sexta-feira, com investidores se protegendo da folga prolongada. Hoje, não enxergaram espaço para ir muito além", comentou o operador da Spinelli Corretora, José Carlos Amado à agência de notícias Reuters.

Comercialização

E esse ainda é o principal fator que limita tanto o alcance de preços melhores no mercado brasileiro, quanto um avanço da comercialização no Brasil daqui em diante. Segundo Ênio Fernandes, o país tem, aproximadamente, 40% da safra 2016/17 já vendida e quem fez as vendas antecipadas em maior volume foram os produtores maiores, mais profissionalizados. "E agora as origens brasileiras não deverão vender", explica o consultor, diante dos preços que, mesmo com as altas desta quarta, seguem distantes dos alvos dos sojicultores brasileiros.

"Tudo vai depender do câmbio e isso vai depender de para onde Janet Yellen vai levá-lo", diz Fernandes sobre os próximos movimentos da presidente do Federal Reserve - o banco central norte-americano - em relação à taxa de juros norte-americana. As perspectivas de novas altas nos próximos trimestres são cada vez mais fortes. "Se o juros sobem, o dólar também sobem", explica. "Em rallies de Chicago ou de dólar, o produtor tem que vender", completa.

Para o consultor, porém, Yellen deve manter sua postura moderada, tomando as medidas com cautela, equilibrando suas ações com as de Donald Trump. Ao mesmo tempo, ainda influenciando o câmbio, a atenção se divide com o desenvolvimento do cenário político no Brasil, que tem seu foco nas reformas que têm sido aprovadas ou que caminham de forma bastante satisfatória, mas, ao mesmo tempo, nas delações premiadas que podem comprometer ainda muitos políticos.

Até que esse movimento se defina e o dólar se mantenha próximo dos R$ 3,00, as vendas se mantêm lentas no Brasil, com boa parte dos compradores buscando garantir seu produto nos EUA. "E isso alonga um ciclo para a soja americana que já deveria estar terminando", explica Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais. Além disso, o atual patamar da moeda americana em relação à brasileira reduz a competitividade da soja do Brasil, já que torna-a mais cara para os importadores.

Motter explica ainda que, ao comparar março deste ano com o mesmo mês do passado, é possível observar um ganho de 20% nos preços da soja praticados na Bolsa de Chicago - o que justifica, inclusive, preços em dólares também para o produtor brasileiro bem melhores do que em 2016 - ao passo em que o dólar, no mesmo intervalo, cedeu 27%, aproximadamente.

A demanda, por sua vez, segue muito forte e crescendo, ainda atuando como o pilar fundamental das cotações. Reflexo disso são ainda os prêmios pagos para a soja brasileira nos portos. Em Paranaguá, por exemplo, as principais posições de entrega têm valores de 52 a 65 cents de dólar acima dos preços praticados na Bolsa de Chicago.