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Saiba como definir uma suplementação nutricional estratégica durante o período das secas

22 maio 2017 - 00h00Por Scot Consultoria

Gustavo Rezende Siqueira é formado em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras, possui mestrado e doutorado pela UNESP, campus de Jaboticabal e há 12 anos é pesquisador Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), com ênfase em produção animal.

Scot Consultoria: O que você delimita como os primeiros passos para definir uma estratégia de suplementação adequada durante o período das secas?

Gustavo Rezende: Seja nas secas ou nas águas, o produtor precisa ter uma meta definida. A base da suplementação é o sal mineral, o ganho adicional nas secas é melhor do que o ganho adicional nas águas, porque o produtor tem um espaço maior para trabalhar. Como há mais espaço, há também a disponibilidade de expandir a suplementação para mais categorias.

Ela pode ser feita em vacas, objetivando a mantença ou o ganho de peso para melhorar o escore corporal e possibilitar um melhor resultado de prenhez, ou também podemos suplementar essa fêmea para fazer o que chamamos de “programação fetal”, com o objetivo de produzir bezerros de maior qualidade. Isso fica mais importante ainda para vacas que estão no terço médio da gestação durante o período da seca, no qual o desafio é maior.

Podemos traçar estratégias semelhantes para animais de recria ou animais de terminação. Mas em qualquer uma dessas estratégias é primordial que o pecuarista tenha pasto na seca.

Normalmente, podemos considerar suplementações altas na recria em torno de 1,0 kg/dia por animal, no entanto essa quantidade representa de 10,0 a 15,0% da exigência de consumo de matéria seca desse animal, então às vezes o produtor oferece 300 gramas de suplementação esperando que o animal tenha um excelente desempenho, mas quando olhamos para o pasto, ele está muito aquém do desejado.

Suplementos de baixo consumo são excelentes ferramentas, desde que o produtor tenha pasto. Mas isso não quer dizer que o produtor que não tem pasto não deve suplementar, ele tem que entender que se ele for suplementar sem pasto o ganho de peso vai ser muito baixo. Nas secas a suplementação não é opcional, é obrigatória. Agora é necessário avaliar qual suplemento e qual manejo é adequado para sua situação.

Para traçar a estratégia de suplementação o primeiro ponto necessário é ter pasto com quantidade de matéria seca adequada, o segundo ponto é ter cocho e o terceiro é ter mão de obra qualificada para fornecer o suplemento para o gado. Essas são as questões que habilitam o produtor a suplementar, e depois ele avalia qual a viabilidade em cada uma das categorias dos animais.

SC: Você acredita que a suplementação no Brasil é uma tecnologia ainda pouco usada?

Gustavo: Eu considero que, pensando em animais de recria e terminação, é crescente o uso de suplemento durante o período de seca, mas ainda é menos do que deveria ser.

Durante a recria há uma ótima resposta do animal frente à suplementação, mas acredito que os pecuaristas têm “negligenciado” essa categoria, por estarem ainda longe da fase final de terminação.

Para recria, animais em crescimento, que na próxima fase estarão à pasto na seca, temos recomendado o uso de um grama por quilo de peso vivo de suplemento proteinado, sendo assim um consumo de 200 a 300 gramas por cabeça por dia. Esse é um manejo mais generalizado, é obvio que podemos fazer mais ou menos para casos mais específicos, se a demanda de ganho for maior é possível entrar com mais suplemento, se a demanda for menor, com menos, nunca esquecendo que o pasto é a base da alimentação desse animal.

A terminação é onde o produtor mais usa o suplemento, mas existem muitos erros principalmente para terminação a pasto. O produtor tem que perceber que uma estratégia para terminar bovinos nas águas é muito diferente da estratégia para terminar nas secas. A qualidade do pasto está diferente então o tipo do suplemento e o manejo também devem ser alterados.

Vários produtores e técnicos comentem erros básicos querendo o mesmo ganho durante as secas e as águas usando o mesmo tipo de estratégia. Isso não vai acontecer, principalmente quando estamos falando de suplementações com 1,0% do peso vivo ou menos.

Nas secas temos duas situações: se o produtor quer abater o seu animal nesse período ele tem que entender que o pasto apresenta uma série de limitações nutricionais, que o ganho de peso advindo somente do pasto será muito baixo ou até mesmo nulo, por isso, se o objetivo for abater o animal nessa época é necessário fornecer um incremento alto de nutrientes a ponto de ele ganhar peso e ter rendimento e acabamento de carcaça adequados. Ou seja, para terminar animais na seca é necessário o uso de altas doses de suplementos, cinco, seis ou até oito quilos de suplemento por dia por cabeça.

Fornecer de um a três quilos por cabeça por dia, durante a seca, com o objetivo de terminação, é insuficiente, o desembolso é muito alto e a resposta é péssima. Economicamente essa estratégia é muito ruim.

Na seca ou você faz a suplementação com proteinado e sal ureado para o animal ficar em mantença ou você entra com uma suplementação pesada para terminar ele. Não existe “meio do caminho”. E a maior parte das pessoas fica no meio do caminho, apuram um péssimo resultado econômico e creditam isso à suplementação.

Fazendo uma analogia... Antigamente o confinador fornecia quatro quilos de ração e volumoso a vontade. Um pecuarista escolheu produzir silagem de milho para ser o volumoso já outro pecuarista fornecia bagaço de cana à vontade. Nutricionalmente esse último volumoso tem muito menos qualidade nutricional que a silagem de milho, então os resultados de desempenho serão piores, mesmo todos usando a mesma quantidade de ração. Ou seja, usando quatro quilos de ração nas águas o resultado será ótimo porque o pasto está bom, agora se o pasto for ruim usar os mesmos quatro quilos não é suficiente. A suplementação é necessária, mas deve ser bem feita e considerar a dieta do animal a pasto.

SC: Tanto o subconsumo quanto o superconsumo é prejudicial, mas algum é pior que o outro?

Gustavo: Ambos causam prejuízo para o produtor.

No subconsumo o animal não come aquilo que precisa então o resultado será aquém do esperado, é prejuízo, o produtor está desembolsando e não terá o resultado planejado. O problema não é só o dinheiro que o produtor gasta, mas também o dinheiro que ele deixa de ganhar.

Já o superconsumo pode levar ao desempenho desejado ou até mesmo maior, mas o produtor desembolsa muito mais do que deveria. A resposta do ganho de peso não será na mesma proporção do excesso de consumo.

É muito importante que o produtor acompanhe o consumo de suplemento dos animais para avaliar se está de acordo com o planejamento. O não acompanhamento das atividades é a principal causa de insucessos dentro da cadeia, esse é o principal gargalo da utilização de suplementos.

E hoje já possuímos diversas tecnológicas eficazes capazes de acompanhar o fornecimento e o consumo de suplemento, desde o uso de softwares como o uso de pranchetas, nas quais os responsáveis pela dieta do animal anotam quantos sacos foram colocados para aquele lote. O produtor tem que saber a média de consumo do lote, e verificar se está dentro do planejado.

SC: Qual a linha de cocho mais adequada, Gustavo?

Gustavo: Cada tipo de suplemento necessita de uma linha de cocho específica. A suplementação que necessita de mais atenção é aquela que é fornecida de 1 a 2 quilos por cabeça por dia, normalmente eles são suplementos de consumo rápido, se isso acontece, a área de cocho tem que permitir o acesso de todos os animais ao mesmo tempo. Um metro linear de cocho suporta de 3 a 4 animais.

SC: Quais são as principais deficiências mineiras de bovinos criados a pasto?

Gustavo: Atualmente, a suplementação mineral é “guiada” pelo fósforo. O pasto, grosseiramente, atende uma boa parte das exigências de macrominerais, mas muito pouco das de microminerais. Procuramos fornecê-los via suplemento para não ocorrer deficiência.

Porém, cada categoria animal tem uma exigência diferente, mas ainda nos faltam muitas informações e pesquisas quanto à especificidade da exigência mineral de cada categoria animal e o quanto é fornecido pela forragem.

De uma forma geral, estimasse um nível médio de minerais do pasto para poder ponderar a deficiência do animal, porém existem grandes variações. Por exemplo, áreas de ILP normalmente possuem maior qualidade de minerais no solo e consequentemente melhores níveis nutricionais do pasto, o que pode reduzir a quantidade de minerais a ser fornecido via suplemento.

SC: Você acredita que as doenças causadas pela deficiência mineral são negligenciadas pelo produtor?

Gustavo: Eu acho que o maior problema que o animal enfrenta é a falta de pasto, essa é a questão primária. Eu acredito que as doenças ou sinais clínicos causados por deficiências minerais não são muito recorrentes no Brasil, não estou dizendo que não existe. O mais comum é a falta de ganho de peso pela falta de pasto ou pela falta de suplementação adequada para a categoria animal em questão. No confinamento ainda temos alguns problemas metabólicos como a laminite e a acidose clínica ou subclínica.

SC: Até que ponto é seguro usar ureia na alimentação de bovinos? Como o produtor deve fazer a adaptação do gado para fornecer a ureia?

Gustavo: Isso é muito mais um mito do que realidade. Temos muito mais animais morrendo por falta de ureia do que por excesso, principalmente na época de seca, em uma escala hipotética eu diria que para cada animal que morre por intoxicação de ureia, 100 morrem por falta dela na alimentação. Durante a seca, a ureia é uma fonte de nitrogênio indispensável para os animais.

Diversas fazendas que acompanhamos usam ureia durante o ano todo com segurança e sem nenhum problema. O que sugerimos é o uso de metade da dose nas primeiras duas semanas para o animal se adaptar. A ureia pode causar problemas, mas isso é raro e pontual. O produtor que toma cuidado para adaptar o animal e faz o manejo correto, não deixando a ureia entrar em contato com a água, não terá problemas.

SC: Quais são os gastos do produtor para suplementar o gado durante a seca?

Gustavo: Isso varia de categoria para categoria.

Para a cria e a recria, em média, gastasse de R$0,15 a R$0,20 de sal mineral por cabeça por dia. O uso de proteinado na seca para a recria despende em média R$0,30. Dobrasse os gastos com suplementação, porém a resposta de ganho é em torno de 4 a 5 vezes maior. A relação custo-benefício de um proteinado na seca é na ordem de 4 para 1, a cada R$1,00 real investido o produtor tem R$4,00 de retorno. Falando em suplementação proteica mais intensa, em torno de 0,3% do peso corporal, para animais em recria, gastasse em torno de R$1,00 por dia.

Para terminação, o gasto com suplementação de proteinado com 0,3% do peso vivo seria em torno de R$1,20 por dia. Já os gastos com suplementação de 1,0% do peso vivo seriam em torno de R$3,00 a R$4,00 reais, dependendo do preço do insumo, claro.

A suplementação intensiva a pasto, fornecendo em torno de oito a nove quilos de ração, o produtor gastaria de R$6,00 a R$7,00 reais por cabeça por dia, semelhante ao desembolso nutricional de um confinamento.

Não existe tecnologia cara, existe tecnologia boa ou ruim. Às vezes, gasta-se R$ 0,10 por animal e essa tecnologia não trás retorno, então ela é cara. Por outro lado, pode-se gastar R$ 5,00 e ter ótimo retorno econômico. O produtor deve conhecer a realidade de sua fazenda, deve saber seu objetivo para então traçar qual será a melhor estratégia de suplementação para ser usada. E partir desse momento toda vez que ele suplementar um animal, ele deve passar a entender o ganho real e o ganho em carcaça, contas em cima do ganho de peso vivo só “contam metade da história”.