O real valorizado derrubou o indicador da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) para o nível mais baixo desde 1985, quando a série começou a ser calculada. As empresas relatam que a demanda externa começou a se recuperar lentamente, depois da queda abrupta nas vendas provocada pela crise global. Os preços dos produtos embarcados pelo País também tiveram uma pequena alta, puxados pelo desempenho das commodities. Mas o real valorizado anulou os ganhos.
"Se não fosse pelo câmbio, as exportações seriam até bastante positivas", disse a diretora de exportação da A. Grings, dona da marca Piccadilly, Micheline Grings Twigger. Segundo ela, a fabricante de calçados gaúcha percebe uma movimentação do mercado, mas o câmbio deixou seus produtos fora do preço ideal. "Para recuperar os mercados que perdemos, um preço competitivo era essencial."
O indicador de rentabilidade da Funcex é calculado com base na taxa de câmbio, nos preços das exportações e em uma estimativa de custo das empresas. Em agosto, o índice estava 3,9% abaixo de julho e 11,6% abaixo de agosto de 2008. Segundo Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, uma projeção preliminar aponta mais uma queda da rentabilidade da exportação de 1% em setembro. "As perspectivas são negativas para as margens de lucro dos exportadores, porque não sabemos para onde vai o câmbio. O Brasil está muito atraente para os investidores. A tendência de entrada de capital no País é significativa, o que provoca a valorização da moeda", explica Ribeiro.
O impacto do real forte é mais complicado para os produtos manufaturados, porque o mundo pós-crise está mais competitivo, com menos compradores e mais vendedores. Para as vendas de commodities, o Brasil possui um mercado praticamente cativo. O dólar fechou cotado a R$ 1,737 na sexta-feira. Em relação ao início do ano, o real acumula uma valorização de 34,4% em relação à moeda americana.