Na manhã desta sexta-feira (15 de agosto), dentro de uma cabine de vidro montada no coração do Parque de Exposições Laucídio Coelho, sede da Acrissul em Campo Grande, Guilherme Bumlai falava ao vivo para milhares de ouvintes espalhados por todo o Mato Grosso do Sul. A entrevista, transmitida em tempo real por rádio (emissoras do Grupo Feitosa de Comunicação) e redes sociais, parecia mais uma conversa com o campo — pausada, precisa, sem rodeios.
E logo na primeira resposta, uma previsão que prendeu a atenção: a arroba pode chegar a R$ 350 nos próximos meses. “Acredito que seja possível, sim. A arroba vem numa crescente, as escalas estão curtas e vai faltar animal no mercado”, disse ele, como quem não gosta de dar manchete, mas também não foge dela.
O cenário, segundo ele, é simples de entender: as geadas no sul do estado prejudicaram as pastagens e isso comprometeu a engorda. “Sem pasto, o boi não engorda. E se não engorda, não vai pra abate. Aí o frigorífico precisa pagar mais.”
Mas Bumlai não quis alimentar otimismo desmedido. “Falar em R$ 400 é chute. O mercado oscila muito. Eu prefiro trabalhar com o pé no chão.”
Ao longo da entrevista, ele voltou várias vezes ao mesmo ponto: a falta de previsibilidade é o que realmente afeta o produtor. “Você começa hoje uma produção que vai durar três anos. E quando chega a hora de vender, não sabe quanto vai receber. Isso desestrutura qualquer planejamento. É angustiante.”
O episódio que ilustra melhor essa falta de estabilidade foi a queda repentina no preço da arroba em julho, após o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos. “A arroba tava em R$ 320 e, do nada, caiu pra R$ 290. Usaram o tarifaço como desculpa. Não havia base pra isso. Foi especulação pura da indústria.”
E ainda veio o socorro do governo — mas não para o produtor. “Anunciaram ajuda para os frigoríficos exportadores. E quem foi prejudicado? O produtor rural. Sempre ele.”
Bumlai destacou o contraste entre o aperto no campo e os lucros das grandes indústrias. “A JBS divulgou lucro de R$ 530 milhões no segundo trimestre. Crescimento de 60%. E me dizem que precisam de ajuda? Ajuda precisa quem tá no pasto, não no escritório climatizado.”
Apesar das críticas, ele reconheceu avanços. Sobretudo no que chamou de “realocação de mercado”. O Brasil, segundo ele, já redireciona sua carne para México, Chile e está perto de abrir um novo e estratégico destino: o Japão. “As conversas estão avançadas. A gente acredita que nos próximos meses a carne brasileira já esteja no mercado japonês. E isso muda o jogo. Abre novas possibilidades, eleva o valor agregado.”
Falando da estrutura do parque onde estava — o Laucídio Coelho, movimentado por criadores, feiras e eventos agropecuários ao longo do ano — Bumlai reafirmou a importância de espaços como aquele para conectar o campo às decisões estratégicas. “É aqui que a gente debate o futuro. Onde o produtor fala, escuta e entende como se posicionar diante de um mercado que muda toda semana.”
Ao fim da entrevista, o entrevistador tentou voltar à pergunta inicial: a arroba vai mesmo bater os R$ 350? Bumlai respirou, ajeitou o microfone e, num tom mais reflexivo, resumiu tudo o que havia dito em uma frase:
“Pode chegar, sim. Mas o que importa não é o valor exato. É saber antes. Ter segurança. Porque não dá mais pra viver à mercê da sorte. O produtor não pode ser o último a saber o preço do próprio produto.”
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