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Produtor de leite ainda tem tempo para produzir silagem

01 fevereiro 2012 - 11h53Por Embrapa Agrossilvipastoril
Produtor de leite ainda tem tempo para produzir silagem
O período chuvoso representa alívio para muitos produtores de leite que vêem seus pastos verdes e em boas condições de alimentar o gado. O momento de aparente tranquilidade, entretanto, deve ser aproveitado para desenvolver ações visando à redução dos problemas durante a seca.

O planejamento para soluções como a recuperação de pastagens degradadas deve ser feito ainda durante a seca, uma vez que a reforma de pastos deve começar logo no início das águas. O mesmo ocorre com o plantio da cana, pois o canavial plantado nas chuvas só poderá ser utilizado na alimentação animal dentro de 12 a 18 meses.

Para aqueles produtores que não fizeram o planejamento antecipado, entretanto, ainda há uma possibilidade viável para complementar a nutrição do gado durante a seca: a silagem.

Confira na entrevista com a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril, Roberta Carnevalli, mais informações sobre a produção de silagem para gado de leite.

Já estamos na metade do período chuvoso, ainda é possível fazer o plantio de milho para silagem?
Roberta Carnevalli - Ainda dá sim para aproveitar o período que chamamos de safrinha. Até no máximo o meio de fevereiro ainda dá para plantar o milho e colher no fim de março, começo de abril.

O produtor que não se planejou antes e não tomou providências para a suplementação da alimentação dos animais na seca ainda tem uma possibilidade viável?
RC - Exatamente. Você tem ainda a possibilidade de plantar cana e colher esta cana com um ano e meio. Planta até o fim de março para colher na seca do ano seguinte. O milho ainda dá para tirar a safrinha. A pastagem ainda dá para formar uma boa pastagem plantando nesta época, mas está em último prazo.

Como deve ser feito o plantio do milho para silagem? Milho solteiro ou já consorciado com pastagem?
RC - Isto depende do objetivo do produtor e do maquinário que ele tem. Se ele tem maior possibilidade de fazer plantio direto, já faz o plantio com a pastagem, com alguma espécie de braquiária. Ele vai fazer o plantio já prevendo que vai utilizar esta pastagem no período da seca e vai fazer o plantio direto no ano seguinte. Agora, há produtores que não têm maquinário para plantio direto, então eles ainda têm de fazer a aração e gradagem para o plantio convencional. O interessante é que o produtor e as prefeituras já se preparem para começar a trabalhar com plantio direto, que é mais interessante em função da pastagem e do não revolvimento do solo. Evita erosão e melhora a qualidade e produtividade do solo.

O outro objetivo seria a reforma da pastagem. O produtor pode usar o plantio do milho ou do sorgo para fazer a reforma da pastagem. Ele colhe o milho ou o sorgo para a silagem e fica com o pasto.

Após o plantio, em quanto tempo o produtor poderá fazer o ensilamento?
RC - Isso varia conforme as condições climáticas. Para ter uma base, em torno de 90 dias. Mas, pode ter regiões onde se colha uma semana antes, dez dias antes... O mais provável, agora, é que se colha depois, com mais dez dias.

Como saber o ponto de colheita?
RC - O ponto de colheita é determinado pela quantidade de água na planta ou a quantidade de matéria seca. Se for avaliar a quantidade de água, é em torno de 67% de água. Ou 33% de matéria seca. Este é o ponto da ensilagem. Uma forma prática de determinar este ponto é avaliando o grão. O produtor pega, em alguns pontos, espigas médias, representativa da área dele, abre-a, quebra-a ao meio e verifica as condições. Se ele estiver muito leitoso, em ponto de pamonha e milho verde, ele ainda não está no ponto de silagem. Para detectar que está no ponto de silagem, ele tem de sentir a farinha. Espreme-se com a unha. O grão está mole, mas já sem leite, com uma farinha solta.

Quais os tipos de silos que existem e o que determina a escolha?
RC - Existem várias formas de ensilar. Você tem o silo de posso, que é o mais antigo. É como se fosse uma cisterna revestida, na qual o produtor vai colocando a silagem lá dentro e compactando. Este silo já caiu em desuso pela dificuldade de se tirar do poço. Evoluiu para um silo trincheira, no qual o produtor cava uma trincheira no chão, uma vala. Uns revestem, outros não. Mas também gera um custo tanto da escavação quanto do revestimento, assim, já não tem sido muito utilizado.
 
Hoje, o que se usa é o silo de superfície. O produtor escolhe uma área onde não junta água, limpa aquela área e coloca a ensilagem ali mesmo, na superfície do solo. Além da questão do custo, isto facilita a mudança de lugar, caso mude o planejamento da fazenda, sem custo maior. Este silo de superfície tem sido mais recomendado.

Qual o tamanho adequado para os silos?
RC - É importante que os produtores não façam silos muito grandes. Ele deve dividir a porção de silagem dele em três a quatro áreas. Por quê? Porque toda vez que o silo é aberto, ele tem de ser utilizado por completo. Não se pode utilizar um silo aberto de um ano para o outro. É interessante que os silos sejam menores para que ele abra e consuma tudo. Se sobrar silo de um ano para o outro, ele deve sobrar lacrado.

Quais os cuidados devem ser observados na ensilagem e no manejo do silo?
RC - No processo de silagem, como qualquer processo de colheita, é fundamental o cuidado com as perdas. A ensilagem tem muitas fontes de perdas. Trator amassando ruas, a questão do descarregamento, desregulagem da máquina... O tamanho do picado tem de ser controlado. As partículas devem ter em média um centímetro. Agora, um ponto crucial na ensilagem é a compactação. O produtor tem de compactar até cansar e, quando achar que está bom, tem de compactar mais um pouco. A compactação é o fundamental para evitar perdas na fermentação. Se não fizer a compactação bem feita, terá ar dentro do material e este ar faz com que a silagem apodreça ao invés de conservar. Após ser feita a compactação, deve-se fazer uma boa vedação. Usar uma lona adequada. Normalmente utiliza-se lona de 200 micras de espessura, preta e branca para questão de absorção de calor. Esta é uma lona mais resistente, pois aquele silo ficará seis meses, um ano, dois anos na área. Depois de coberto com uma lona adequada, o produtor ainda irá enterrar as pontas com terra para evitar a entrada de água e de qualquer bicho e também irá jogar terra por cima do silo para que não formem bolsões de ar e apodreça silagem naqueles locais.

É necessário grande investimento em maquinário para fazer a silagem?
RC - Os maquinários dependem da escala que o produtor está trabalhando. Aquele produtor pequeno, que vai plantar um hectare, dois hectares de milho, pode trabalhar com ferramentas mais simples. Ele pode plantar com matraca, com tração animal. Ele pode cortar no facão e levar até sua ensiladeira estacionária e ali mesmo faz o silo. A compactação ele faz com pessoas pisando ou animais. Então ele pode fazer silo sem muito maquinário. Lógico que um produtor que vai trabalhar com dez, vinte, trinta hectares já não tem condições de fazer com este maquinário. Ele pode lançar mão de uso das patrulhas mecanizadas que têm nas prefeituras. A maioria das prefeituras de Mato Grosso possui patrulhas mecanizadas que conseguem fazer o plantio de áreas maiores e a colheita também. As prefeituras possuem ensiladeiras e carretas para fazer a colheita. Já os grandes produtores, eles se equipam com uma quantidade maior de máquinas.

Qual a quantidade de silagem necessária para alimentar um animal adulto durante um ano?
RC - O consumo de um animal varia em função de seu peso vivo. Podemos calcular que o consumo total de um animal varia entre 2% e 2,5%, ou até 3% se é uma vaca em lactação de alta produção. Descontando o que este animal consome de concentrado, a gente tem que um animal adulto vai consumir de 30 a 35 kg de silagem por dia. Por aí o produtor faz as contas de quanto seu rebanho precisa no período de seca. Há lugares em Mato Grosso que têm três meses de seca, outros que têm seis, sete. Então a quantidade consumida varia conforme o período.

Quais os benefícios da complementação da alimentação com a silagem?
RC - Considerando que vaca em lactação não produz leite comendo pasto seco, a grande vantagem é que ele vai ter uma vaca produzindo leite o ano todo. Você consegue manter com uma pastagem vedada e com concentrado animais sem estar em lactação ou uma novilha. Agora, vaca em lactação, ou você faz suplementação com cana-de-açúcar ou com silagem. Não tem outro jeito do animal produzir leite. Com a silagem, você terá uma produção mais constante ao longo do ano. Isto será bonificado pelo laticínio, que bonifica quem tem produção constante. O produtor ainda vai ter uma segurança alimentar dentro da fazenda, pois não terá animais morrendo de fome e sim produzindo e reproduzindo. Se o animal não estiver bem alimentado ele não reproduz.

Qual o custo estimado para se produzir a silagem? Como o produtor tem o retorno deste investimento?
RC - Isto vai variar de acordo com o que o produtor tem de investir em máquinas, se ele tem máquinas disponíveis na prefeitura, se ele tem de pagar horas/máquina. Normalmente o custo está associado com adubação, semente e com algum inseticida para lagarta e algum herbicida. O custo histórico da silagem é em torno de R$ 0,15 a R$ 0,18 por quilo de silagem, que ele tem já colocada no cocho. Já com todos os gastos inclusos. Mas vai variar em função do quanto ele está gastando para fazer aquele plantio e a colheita. Quanto mais ele produzir, menor será o custo. Mas ele consegue ter o retorno do investimento, com certeza, se ele tiver uma boa produção por área. Os animais vão dar o retorno ao produtor, uma vez que a silagem vai garantir pelo menos oito litros de leite por dia. Com o uso de concentrado, esta produção será ainda maior.

E quanto à silagem com sorgo? É uma boa alternativa?
RC - O sorgo é uma alternativa bastante interessante porque ele rebrota. O produtor que plantou sorgo vai ter uma produtividade muito semelhante à do milho na primeira colheita. É interessante que ele plante logo no início do período chuvoso para aproveitar as rebrotas. Após a primeira colheita, o produtor faz a adubação desta rebrota e ele terá uma nova colheita sem gastar com sementes. Em termos de qualidade, o sorgo é um pouquinho inferior ao milho, mas tem compensado por esta rebrota que, bem conduzida, produz cerca de 70% daquilo que ele colheu na safra. Dependendo do período de chuva, você ainda tem uma segunda rebrota que pode ser utilizada como pastejo animal. No caso de se fazer o plantio como safrinha, o sorgo é mais resistente ao déficit hídrico do que o milho. Se for uma região em que começa a faltar água a partir de fevereiro, o mais adequado seria o produtor plantar o sorgo.

E qual o ponto de colheita do sorgo?
RC - É um pouquinho anterior ao ponto de colheita do milho. O sorgo a gente colhe com o grão com um pouco mais de leite do que o milho, no ponto farináceo/leitoso. Se você deixar um pouco mais no campo, os passarinhos comem os grãos do sorgo, uma vez que eles ficam expostos. Além disso, tem a questão da moagem mesmo. Como o grão do sorgo é muito pequeno, ele acaba passando sem ser triturado, assim o aproveitamento não é tão bom. O ponto de colheita do sorgo é em torno de 30% de matéria seca, com o grão um pouco mais leitoso.

Neste processo de ensilagem é importante que o produtor tenha o acompanhamento do técnico?
RC - Com certeza. Toda vez que ele tiver o acompanhamento do técnico, a chance de errar é muito menor. Hoje já existem técnicos treinados no estado para detectar, para saber plantar, saber cultivar e identificar o ponto. Então, toda vez que o produtor tiver um técnico, seja ele da prefeitura, da Empaer, da cooperativa, ou da assistência técnica privada, a chance de errar é muito menor.