A pecuária de corte brasileira — que conta com um rebanho comercial estimado em 194 milhões de cabeças, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes — ganhará um reforço nacional. O movimento de valorização do setor deve ser impulsionado pela criação da União Nacional de Pecuária, entidade anunciada no início deste mês.
O grupo reúne as Associações dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Mato Grosso, do Pará e dos pecuaristas de Rondônia, além da Associação Nacional dos Confinadores e Associação Novilho Precoce do Tocantins. A união destas entidades responde por 45% do rebanho nacional, equivalente a 106 milhões de cabeças.
Ao Agro Estadão, Guilherme de Barros Bumlai, presidente da Acrissul e responsável por liderar a União Nacional de Pecuária neste momento de estruturação das diretrizes da entidade, explicou que a criação do grupo consiste em trabalhar um conjunto de pautas comuns e prioritárias. “A ideia é justamente fortalecer o setor para que possamos fazer a defesa da pecuária como um todo, não só no Brasil, mas internacional também. […] Então, assim, acredito que a gente ganha representatividade na hora que somamos as forças. E essa é a ideia da União e não de uma associação”, afirmou.
Bumlai ressaltou ainda que a pecuária brasileira já tem uma boa representação institucional, por meio das federações estaduais e representantes nacionalmente como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Porém faltava, na visão dele e dos demais presidentes estaduais, uma representação nacional para as associações. “Por isso, sentimos a necessidade de fortalecer essa união entre as associações, para que elas também possam ter uma representação própria e coordenada, complementando o trabalho das federações e da CNA”, salientou.
Estruturação
A União contará com uma diretoria inicialmente constituída, tendo como presidente provisório Bumlai, que foi escolhido pelos próprios presidentes das associações estaduais que integram o grupo. O objetivo dessa diretoria transitória é conduzir o trâmite inicial, cuidando da parte regulatória, documental e da formalização jurídica da entidade.
Durante essa fase, caberá à presidência provisória liderar as discussões sobre o formato definitivo da União, que será definido em estatuto. A prioridade é viabilizar a estrutura jurídica e garantir que a representatividade das associações estaduais seja fortalecida por meio de uma atuação coordenada.
Como as conversas entre as entidades já vinham acontecendo há cerca de seis meses, a expectativa é que, no prazo de três a seis meses, a União esteja formalmente constituída, com seu modelo de governança e funcionamento plenamente estabelecidos.
Apesar das diretrizes ainda estarem sendo elaboradas, Guilherme antecipou ao Agro Estadão os pontos principais que vão nortear o documento:
• Integração das associações de pecuária, promovendo a união, a representatividade e o fortalecimento do setor pecuário brasileiro;
• União das associações de pecuária em torno de pautas comuns e prioritárias, trabalhando de forma integrada e colaborativa, atuando com legitimidade na defesa do setor;
• Promoção do equilíbrio entre produção, meio ambiente e sociedade, além de busca por soluções práticas que fortaleçam o futuro da pecuária;
• Fortalecimento da representatividade do setor junto ao Poder público, entidades privadas e sociedade civil;
• Desenvolvimento e compartilhamento de soluções técnicas, econômicas e ambientais inovadoras;
• Promoção da integração regional, respeitando as especificidades e potencialidades de cada estado.
Taxa dos EUA contra o Brasil
A criação da União Nacional de Pecuária ocorre em um momento crucial para o comércio do setor, já que os Estados Unidos, segundo maior mercado consumidor da carne bovina brasileira, deve elevar para 50% a tarifa de importação do produto do Brasil.
Neste contexto, Bumlai acredita que o trabalho de diplomacia brasileiro será primordial para reversão dessa taxação. “Os Estados Unidos estão com o menor rebanho da história. Então, estão precisando importar carne para atender a demanda interna. Assim, vale questionar até que ponto é interessante para eles manterem essa taxação sobre o Brasil? Por isso, a gente acredita em um trabalho da diplomacia brasileira para que possamos reverter essa tarifa”, ressalta.
Nos primeiro semestre deste ano, os Estados Unidos compraram 181,5 mil toneladas de carne bovina brasileira, totalizando US$ 1,04 bilhão — alta de 102% na comparação com o mesmo período de 2024.