Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram nesta segunda-feira (17/4), no estado de São Paulo, duas fazendas já ocupadas anteriormente para pedir pressa no assentamento das famÃlias. Segundo militantes, a manifestação faz parte da Jornada Nacional de Lutas do MST.
Uma das propriedades fica em Taubaté, no Vale do ParaÃba, interior do estado, à s margens da Rodovia Presidente Dutra, na altura do km 119. A Fazenda Guassahy tem cerca de 100 hectares (cada hectare corresponde, aproximadamente, à área de um campo de futebol de medidas oficiais) e, segundo o MST, está abandonada e pertence à prefeitura de Taubaté.
A prefeitura não confirmou se é proprietária do terreno. Procurada pela Agência Brasil, a assessoria de imprensa disse que, por causa do feriado municipal, a situação cadastral da área não pôde ser verificada. “Nesta terça-feira [18], com o retorno à s atividades, será possÃvel confirmar e avaliar a necessidade de acionarmos a Secretaria de Negócios JurÃdicos para adotar as medidas cabÃveis”, informou a assessoria, em nota.
Guardas municipais e policiais militares estiveram no local e deixaram a área sem confronto. Dois funcionários de empresas próximas ao terreno informaram que o local é usado para criação de gado e, eventualmente, provas esportivas. Em abril de 2009, quando ocupou a Fazenda Guassahy, como parte do chamado Abril Vermelho, o MST alegou que a área era improdutiva e estava em situação de abandono.
A Lei Municipal 4.444, de 2010, autorizou a prefeitura a doar parte da área da antiga Fazenda Guassahy para empresas do grupo Unimetal Participações, ao qual pertence a Brasil Carbonos S/A, proprietária de uma extensa área contÃgua ao terreno ocupado. A Petrobras Distribuidora é sócia do Grupo Unimetal no empreendimento.
Todos os anos, o MST realiza, em abril, atos para lembrar a morte de 19 camponeses em 1996, no episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás.
Segundo o movimento, milhares de sem-terra estão acampados na Praça Sinimbu, em Maceió (AL), para cobrar a reforma agrária. Em Minas Gerais, um grupo de militantes fechou um trecho da BR-116, próximo a Frei Inocêncio. Lideranças do movimento informou que há mobilizações também em Santa Catarina, no Pará, em Pernambuco, no PiauÃ, em São Paulo e Alagoas, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e Goiás, no Ceará, na Bahia, no Paraná e Distrito Federal.
Cutrale
Na mesma hora em que os sem-terra agiam em Taubaté, cerca de 300 famÃlias ocupavam uma fazenda em Borebi (SP), a cerca de 450 quilômetros de distância. Segundo o MST, os 2.500 hectares da Fazenda Santo Henrique pertencem à União e estão sendo usadas indevidamente pela Cutrale, maior exportadora mundial de suco de laranja.
O MST já ocupou a área outras vezes. Entre 2001 e 2014, houve 14 ocupações, com o objetivo de pressionar as autoridades públicas a destinar a área para a reforma agrária. Em 2009, imagens de sem-terra usando um trator para destruir parte dos laranjais da fazenda levaram ao indiciamento de 21 integrantes do movimento.
De acordo com o MST, enquanto terras públicas são “griladas” por grandes empresas denunciadas por desrespeito aos direitos trabalhistas, cerca de 3 mil famÃlias estão acampadas apenas em São Paulo, sem ter onde morar e trabalhar, à espera de uma solução do Poder Público. O MST diz que, no paÃs todo, existem 120 mil famÃlias acampadas, à espera de terra.
A reportagem entrou em contato com a Cutrale, que ainda não se pronunciou sobre a ocupação.