A erradicação da febre aftosa traz boas perspectivas para a cadeia produtiva da carne bovina, como a abertura de novos mercados e o incremento na produção e na rentabilidade. Por esse motivo, o controle e a possível eliminação da doença são preocupações constantes no Brasil.
A suspensão da vacinação, entretanto, é uma medida polêmica e provoca divergências entre os pecuaristas. “A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) é enfaticamente contra a retirada da vacinação neste momento, justamente por perceber que o sistema de vigilância não é totalmente seguro como gostaríamos”, afirma Eduardo Biagi, presidente da entidade. “Embora a atividade viral seja baixa, isso se deve ao fato do pecuarista estar efetivamente vacinando o rebanho”, acrescenta. Já para José Antonio Fontes, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte (ANPBC), a suspensão da vacinação deve ser realizada simultaneamente em todas as regiões do Brasil e em conjunto com os países limítrofes. “Somos contrários a suspensão da vacina contra febre aftosa por estado ou por uma região”, conclui Fontes.
Entretanto, a suspensão da vacina reduz a proteção do rebanho, deixando-o mais suscetível. Nesse caso, em uma possível reincidência da aftosa, sua difusão seria muito mais rápida. “Cria-se então um problema maior, não só pela perda de mercados para onde nossa carne é exportada como também uma perda para os criadores, como aconteceu no Uruguai há alguns anos”, alerta Biagi. Para Fontes, “a organização e integração entre os bovinocultores e governo de forma organizada e sem interesses políticos eleitoreiros e/ou partidários será uma proteção contra estes riscos”.
Atualmente, campanhas de vacinação atingem todos os estados brasileiros, com exceção de Santa Catarina, que foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), como livre de febre aftosa sem vacinação desde 2007. Ao todo, 14 estados e o Distrito Federal são livres da doença com vacinação: Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins. O centro-sul do Pará (46 municípios) e as cidades de Boca do Acre e Guajará (Amazonas) apresentam a mesma classificação. Os demais estados da região Nordeste e o nordeste do Pará são considerados como médio risco para a doença; Roraima e noroeste do Pará, como alto risco, e Amazonas e Amapá, risco desconhecido.
Para os dirigentes da ABCZ e da ANPBC, a política brasileira de controle da doença é eficiente, já que a atividade viral no país tem sido baixa. Mas ainda é preciso avançar na questão da vigilância. Na opinião de Eduardo Biagi, seria preciso, ainda, informatizar o processo e interligar o sistema nacionalmente. “Precisamos também desenvolver um programa de vigilância nas fronteiras ou ações via Itamaraty visando ampliar o programa de controle brasileiro para países como Bolívia e Paraguai principalmente; este é um esforço desenvolvido pelo GIEFA (Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa) e apoiado pela ABCZ”, acrescenta o presidente da ABCZ. José Antonio Fontes acredita que é preciso informar o público sobre a importância da imunização contra a febre aftosa e a ausência de risco ao consumidor de carne vacinada.
Para um estado receber o status de Zona Livre de Aftosa Sem Vacinação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento avalia se o local alcançou percentual superior a 90% nas duas últimas campanhas de vacinação, o serviço veterinário estadual e o trânsito de animais de estados e países vizinhos.