Os desembolsos de crédito rural caíram 12% no primeiro trimestre do Plano Safra 2025/26 em comparação com igual intervalo do ciclo anterior. Ao todo, os produtores rurais acessaram R$ 156 bilhões em financiamentos tradicionais e por meio de Cédulas de Produto Rural (CPRs), segundo balanço preliminar do Ministério da Agricultura.
Sem a contabilização dos títulos, o declínio do crédito rural “puro” seria ainda maior, de 27%, para cerca de R$ 100 bilhões. Juros altos, endividamento crescente da carteira de agronegócios das instituições financeiras e aumento das exigências de garantias reais para concessão de novos empréstimos têm feito com que menos produtores acessem crédito rural.
O número total de contratos de empréstimo caiu 16%. Entre grandes produtores, a queda foi de 48%, e entre os médios, de 30%. Os resultados são um pouco melhores nos financiamentos que integram o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). As contratações no segmento diminuíram 8% em relação aos três primeiros meses do ciclo 2024/25, para 452,8 mil contratos, e o montante dos empréstimos recuou 9%, somando R$ 20,5 bilhões.
Nos grupos de médios e grandes produtores, o declínio foi de 17% e 28%, respectivamente, para R$ 24 bilhões e R$ 55,5 bilhões, nessa ordem. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o número de contratos do Pronaf cresceu 24%, para 608,4 mil, e o valor das contratações entre julho e setembro aumentou 7%, chegando a R$ 24,1 bilhões.
No entanto, esse valor considera operações ainda sem liberação efetiva de recurso ao produtor. “No Pronaf, o acesso ao crédito rural está crescendo. Ou seja, mais agricultores familiares estão tendo acesso, principalmente os grupos mais vulneráveis”, disse a Pasta, em resposta ao Valor. O acesso a renegociações de dívidas no Desenrola Rural melhorou o ambiente de contratação de novos financiamentos na agricultura familiar, argumentou o ministério.
No geral, o recuo mais expressivo foi o dos empréstimos para investimentos. Em três meses, os produtores acessaram apenas R$ 17,1 bilhões, o que representou um declínio de 41% em comparação com o intervalo entre julho e setembro de 2024. As operações de custeio caíram 21%, para R$ 63,3 bilhões, e as de comercialização, 22%, a R$ 8,7 bilhões.
Apenas os financiamentos para industrialização cresceram — o aumento foi de 24%, para R$ 10,9 bilhões. O desembolso de CPRs, títulos que os produtores emitem em favor das instituições financeiras, cresceu 14%, a R$ 55,8 bilhões. Mesmo assim, o número de contratos diminuiu 12%, a 30,6 mil. Rafael Baldi, diretor de Produtos Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), afirmou ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, que os dados sobre o acesso ao crédito rural indicam que, nesta safra, as contratações deverão retornar ao patamar da temporada 2023/24, quando somaram — sem considerar as CPRs — R$ 400,7 bilhões.
O volume total de recursos disponíveis para este ciclo é de R$ 594,4 bilhões, sendo R$ 108 bilhões de CPRs. O Ministério da Agricultura também divulgou os valores que foram contratados até setembro, mas que os bancos ainda não liberaram aos produtores: até setembro, havia R$ 30,8 bilhões aguardando liberação. Se as contratações se efetivarem, os desembolsos chegarão a R$ 131 bilhões, montante superior aos R$ 129 bilhões dos três meses iniciais da safra 2024/25, sem considerar as CPRs.
Todas as linhas de investimentos do Plano Safra 2025/26 para médios e grandes produtores e que contam com subsídio do Tesouro Nacional encolheram no primeiro trimestre de 2025/26. No Moderfrota, principal programa de financiamento de máquinas agrícolas, as contratações diminuíram 68%. Dos mais de R$ 12,5 bilhões disponíveis, os financiamentos ficaram em R$ 1 bilhão.
No caso de custeio e comercialização com recursos equalizáveis, as liberações até agora correspondem a um terço dos R$ 64,2 bilhões disponíveis, sem considerar o Pronaf. Só o Banco do Brasil liberou R$ 11,5 bilhões nos três meses iniciais da safra. Neste ciclo, o governo federal adotou um modelo diferente de desembolso dos recursos com equalização. Parte da programação precisará ser aplicada na segunda metade do ciclo, a partir de janeiro de 2026.
Com isso, nem todo o recurso anunciado está efetivamente disponível. No caso do Pronaf, mais da metade dos financiamentos concedidos até agora (R$ 12,3 bilhões) é de fontes equalizadas, seguidos de recursos obrigatórios (R$ 6,3 bilhões) e fundos constitucionais (R$ 2 bilhões). Não houve aplicação de recursos livres para a agricultura familiar até agora, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Procurados, os ministérios da Agricultura e da Fazenda não comentaram.