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JBS faz troca 'caseira' na chefia e foca integração

02 fevereiro 2011 - 00h00Por Valor Online

A JBS busca mudar sem mudar muito. Depois de cinco anos como presidente-executivo da empresa, Joesley Batista passa o bastão - palavras suas - para o irmão Wesley Batista. O agora ex-CEO continuará como presidente do conselho de administração da companhia, posição que acumulava desde 2007. Wesley Batista, que foi presidente da JBS USA por quatro anos, será substituído nos Estados Unidos por Don Jackson, executivo que presidia a americana Pilgrim's Pride, comprada pela empresa brasileira em setembro de 2009.

 

As decisões foram tomadas pelo conselho de administração e anunciadas ontem ao mercado.

Em entrevista ao Valor na sede da empresa em São Paulo, Joesley disse que sua saída não tem relação com o desempenho das ações da companhia - a maior de carnes no mundo - na bolsa brasileira. Três anos e meio após a empresa ter aberto o capital, o valor dos papéis patina. Ontem as ações subiram 1,58%, mas do lançamento (março de 2007) até ontem, a queda chega a 19,63%.

"Não tem nenhuma relação com o mercado. Continuo sendo o principal responsável pela direção estratégica e pelos rumos que a empresa vai tomar. Em relação a preço de ação, isso não diz respeito a mim. A nós, diz respeito operar a empresa, gerar resultado. Preço de ação diz respeito ao mercado", afirmou ele, minutos antes de Wesley também se juntar à entrevista.

De acordo com Joesley, o irmão "vai estar mais focado na operação do dia a dia da JBS". Depois da integração das plataformas da JBS em nível local e após várias aquisições em diferentes países - Brasil, EUA e Austrália -, a tarefa de Wesley será integrar os negócios globalmente.

 

 

"Como o Wesley já estava administrando 70% da empresa, a gente acha mais lógico ele assumir a função de CEO. Ele conhece os negócios no Brasil. Tenho cada dia mais tido a demanda de cuidar de coisas estratégicas, de cuidar do médio e longo prazos da empresa, da cultura, das relações institucionais", disse. A JBS USA, que inclui os negócios na Austrália, é responsável por 70% das receitas da JBS S.A.

Por mais críticas que a administração familiar da JBS gere no mercado, Joesley afirmou que o fato de a família estar na direção da empresa - fundada há 58 anos por seu pai José Batista Sobrinho - é mais uma prova do cuidado com a governança da companhia. "Vou exercer a função de presidente do conselho de administração de fato, realmente cuidando e zelando pela governança, pela perenidade da empresa", declarou ele.

Apesar de estar "passando o bastão", Joesley ainda foi o que mais expôs opiniões na entrevista. Quando Wesley foi questionado sobre o que muda com sua chegada à presidência, Joesley respondeu: "Toda vida trabalhamos muito juntos. Sem dúvida o Wesley vai ter mais tempo e condição de focar na operação no dia a dia da empresa ao mesmo tempo em que vou ter mais chances de ficar na estratégia".

Já Wesley, ainda um pouco contido, disse que "não muda muito". "O time é o mesmo, as pessoas que tocam nossa operação eram as pessoas que trabalhavam comigo, que ficaram olhando o dia a dia, reportando ao Joesley. Na verdade, nós nunca desconectamos", afirmou. Joesley, de seu lado, reforçou que a empresa "não fará nenhuma mudança em seu plano estratégico".

Para o novo presidente, esta é a oportunidade de integrar mais ainda a operação da JBS globalmente. "Este é momento de maturidade da empresa, (...) temos a oportunidade de aproveitar coisas boas que temos em cada lugar que operamos, transferir isso para todos os lugares. (...) Esse é o momento de capturar sinergias e oportunidades que ainda existem". Ele avalia que sua experiência nos EUA - sempre lembrando que a operação inclui a Austrália - deve facilitar a implementação e a continuidade da integração global, processo que "irá trazer mais valor para o acionista".

Para os acionistas e para as ações. Na visão da JBS, os papéis estão subavaliados. "Se o mercado hoje percebesse a JBS nos mesmo múltiplos de quando abrimos o capital, o preço da ação deveria valer R$ 24. Por que não vale? Não sei", reconheceu Joesley.

O empresário tem uma teoria para as ações da empresa não deslancharem. "A JBS é uma empresa que cresce em ritmo acima da média. (...) Acho que, no fundo, o mercado quase que fica em negação, querendo não acreditar que a gente foi e é capaz de entregar o que a gente entrega", disse, citando o caso da Swift americana - "uma empresa que ninguém queria". A companhia, adquirida pela JBS em 2007 com resultado negativo, fechou 2010 com Ebitda de US$ 750 milhões, segundo Joesley. O número não considera a área de frango, representada pela Pilgrim's.

Para ele, o mercado reconhece a capacidade da JBS de entregar resultado, mas a empresa também tem sido penalizada na bolsa pela situação da economia nos EUA, que ainda vive momento desfavorável. Questionado se em algum momento as ações terão o valor esperado pelo companhia, Joesley disse apenas que há uma "curva de aprendizado" para o investidor conhecer o ramo e a companhia.

Ele reconheceu que houve erros por parte da empresa nos últimos anos, mas disse que "como presidente, faria tudo de novo". "Seria até arrogante dizer que não erramos em nada (...) mas até as coisas que erramos serviram para nos ensinar. Diria que pagamos preço barato pelo aprendizado", acrescentou. E onde a JBS errou? "Como presidente, acho melhor as pessoas me julgarem do que eu me julgar."

Para o empresário, de todos os passos dados nos últimos anos, a empresa cometeu mais acertos do que erros. E um dos acertos foi ter lançado ações na bolsa.

Sobre a abertura de capital da JBS USA, adiada, Joesley disse que a empresa "não está indo atrás disso" no momento. "A gente não abre capital por abrir". Mas reiteirou que o IPO é uma possibilidade caso a empresa precise de dinheiro para financiar sua expansão.

No mês passado, a JBS anunciou uma operação de recompra de debêntures no valor de R$ 3,5 bilhões de ações permutáveis em ações e a emissão de R$ 4 bilhões de debêntures conversíveis em ações. Os termos dessa nova emissão desobrigam a JBS de abrir o capital de sua subsidiária nos EUA ainda em 2011, como estava previsto na primeira operação de debêntures subscristas pelo BNDES. Agora, isso poderá ocorrer em cinco anos.