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Impactos no BR da guerra comercial entre EUA e China

19 junho 2018 - 23h28Por DBO Rural

Na sexta-feira, 15, os norte-americanos anunciaram taxas de 25% sobre US$ 50 bilhões em importações chinesas a partir de 6 de julho. O lado asiático respondeu na mesma moeda, sobretaxando uma série de artigos, dentre eles soja, milho, carnes e outras commodities agrícolas. Mas como fica o Brasil nessa guerra comercial? “Com o anúncio das tarifas, os chineses vão tentar limpar o mercado por aqui. Recentemente, compraram soja até da Rússia, que nem é grande produtora. Mesmo que a barreira seja levantada e a China volte a comprar dos EUA, os americanos já terão perdido mercado nesta safra”, diz Flávio Roberto de França Junior, consultor de Grãos da Datagro.

Para ele, o Brasil pode se beneficiar de um aumento de volume das compras chinesas, mas não tanto em relação aos preços. Ele explica que as tarifas e o movimento das últimas semanas sinalizaram que a China vai comprar menos soja norte-americana, o que derrubou os preços internacionais na Bolsa de Chicago, que também baliza as exportações brasileiras. “Porém, perdemos menos do que os produtores norte-americanos. Com a indicação de que a China pode comprar mais soja no Brasil, o prêmio de exportação negociado nos portos já subiu desde sexta. Mas ele ainda não compensa a queda nas cotações”.
 
O aumento de demanda chinesa por soja brasileira, porém, tem sido limitado pelo impasse em relação ao tabelamento dos preços mínimos para o frete rodoviário. “Os prêmios estão mais altos, mas não estamos conseguindo fazer novos negócios e até mesmo cumprir vendas anteriores, porque ninguém sabe se vai conseguir levar a soja para o porto”, afirma o consultor.
 
França Junior ainda vê a possibilidade – caso a imposição de tarifas se cumpra e continue por mais tempo – de crescimento da procura chinesa por farelo de soja do Brasil. “Hoje, a China só compra soja em grão e processa internamente, mas, em situação de escassez do grão e sobretaxa nos EUA, pode fazer sentido para eles comprarem o farelo”.
 
Apesar dos efeitos da especulação no curtíssimo prazo, José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP, não acredita em grandes mudanças para o mercado brasileiro. “No caso de commodities agrícolas, a tendência é de equilíbrio global. O que provoca mudanças efetivas nos preços são alterações na oferta do produto”.
 
Acordo
 
Para os dois analistas, apesar do aumento de tensão, é possível que os dois países cheguem a um acordo. “O Trump cria dificuldades para ganhar facilidades. Mas talvez não esteja tão interessado em commodities agrícolas e, sim, em proteger a indústria norte-americana”, diz Ferraz. Mesmo que os dois países façam um acordo que envolva produtos agropecuários, em especial a soja, ele não acredita em grandes impactos no mercado nacional. “Se os chineses decidirem comprar mais soja dos Estados Unidos, os norte-americanos vão ter que deixar de exportar para outro destino, porque não há toda essa sobra. Então, os países que perderem o mercado chinês podem ocupar esse espaço nos outros lugares”.
 
Já o consultor de Grãos da Datagro acredita que é possível que a soja, uma vez que os Estados Unidos são o segundo maior fornecedor da China, seja parte de um possível acordo. “E daí pode ser que ganhemos em um primeiro momento, mas perdemos depois”.