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Grupo Pinesso terá algodão e soja no Sudão

30 abril 2010 - 00h00Por Valor Econômico, por Fabiana Batista.

A rotina do empresário rural Gilson Pinesso vai mudar um pouco a partir de maio. Ele terá que dividir a administração do grupo que leva seu sobrenome no Brasil e cultiva 80 mil hectares de soja e algodão no Centro-Oeste, com viagens de quase 20 horas ao Sudão, no nordeste da África.

A cada 40 dias, entre junho e dezembro, Pinesso terá de ir ao país para acompanhar de perto o desenvolvimento de lavouras de soja e algodão em áreas que estão sendo cultivadas em sociedade com o grupo sudanês Agadi, a primeira parceria privada que se tem notícia de cultivo de algodão e soja por brasileiros no continente africano.

O plantio de 400 hectares de algodão e 100 hectares de soja no Sudão começa em 15 de junho. Nesta primeira etapa do projeto, estão sendo investidos US$ 1 milhão para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas, além de US$ 500 mil para o custeio da lavoura.

Mas é só o início. A ideia é investir US$ 200 milhões ao longo dos próximos quatro anos para que o cultivo alcance 100 mil hectares, divididos em partes iguais entre soja e algodão. Na próxima safra, a área deverá chegar a 30,5 mil hectares no Sudão, e o grupo brasileiro pretende iniciar um cultivo experimental de milho na Etiópia. Se tudo der certo, o projeto será verticalizado com produção de frangos.

Os investimentos financeiros no Sudão serão feitos pela empresa local. O Grupo Pinesso, que em 2009 faturou R$ 250 milhões, entrará com as técnicas de plantio e novas tecnologias. O lucro líquido será distribuído em partes iguais.

O governo do país africano concederá isenção de impostos sobre aquisição de máquinas e equipamentos e financiamento a juros de 3% ao ano. Também presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), o presidente do grupo brasileiro, Gilson Pinesso, explica que não há grandes desafios em produzir algodão no Sudão, que já foi um grande país produtor da pluma e ainda produz, apesar de a área ter despencado.

A própria Agadi cultiva 3,5 mil hectares, mas com uma produtividade de 300 quilos por hectare. Segundo Pinesso, há condições para elevar esse desempenho para 1,2 mil quilos por hectare com tecnologia e manejo brasileiros. Em Mato Grosso, maior Estado produtor do Brasil, a produtividade chega a 1,5 mil.

As condições de cultivo no Sudão são muito favoráveis, segundo Pinesso. O solo é naturalmente fértil por causa da umidade do Nilo, o que reduz custos. "Usamos metade o adubo que precisamos usar no Brasil". Os recursos hídricos também são abundantes, já que os dois Nilos (Branco e Azul) passam pelo Sudão, e há lençóis freáticos a 40 e 50 metros do solo.

Outra vantagem é que as chuvas são concentradas entre junho e setembro, o que diminui a incidência de pragas e doenças. "Os cotonicultores sudaneses fazem de 3 a 4 aplicações de agroquímicos na lavoura por safra. No Brasil, precisamos realizar em torno de 18", diz Pinesso.

Por essas e outras é que, no fim, a conta fecha bem, explica o empresário. O custo de produção do algodão por hectare no Sudão é praticamente metade do brasileiro. Os sudaneses plantam com US$ 850 por hectare, enquanto no Brasil são cerca de US$ 1,9 mil. A fazenda onde o projeto será implantado é da Agadi e fica a 400 quilômetros de um porto, outra vantagem em relação ao Centro-Oeste brasileiro, distante 2 mil quilômetros dos portos do Sudeste.

Por ser mais longa, semelhante às do Egito, a fibra do Sudão é muito valorizada no mercado. E o empresário também destaca a localização estratégica do país africano para atender aos mercados da Ásia - sobretudo China e Índia - e do Oriente Médio, além do potencial da própria indústria local, que foi desativada após o declínio do cultivo de algodão sudanês - que chegou a 500 mil hectares e agora está em 80 mil.

No Brasil, Pinesso tem, sozinho, 80 mil hectares, sendo 60 mil de soja e 15 mil de algodão. Segundo ele, na safra 2010/11 o grupo vai adicionar mais 12 mil hectares ao cultivo da oleaginosa no Brasil.

O empresário esteve na quinta-feira na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), para concluir a compra de equipamentos para encerrar a etapa de investimento de US$ 1 milhão no projeto sudanês e também verificar os prazos de entrega das máquinas no país africano.

"Precisamos que os maquinários sejam embarcados até 5 de maio". Uma equipe de quatro engenheiros agrônomos de Mato Grosso contratados pelo projeto embarcam também nas próximas semanas para acompanhar plantio e desenvolvimento das duas lavouras, algodão e soja. O algodão será colhido entre novembro e dezembro; a soja, 120 dias após o cultivo.

"Há dois anos, enviamos algumas sementes de soja do Brasil para serem cultivadas no Sudão, mas o resultado não foi bom, devido a deficiências no manejo e na tecnologia aplicados", disse. "A produção da oleaginosa ainda é um desafio".

Inicialmente, a produção de soja no Sudão será comercializada no mercado interno de grão - o país importa cerca de 400 mil toneladas de soja por ano, e o preço pago ao produtor local atualmente equivale a R$ 70 a saca, ante os R$ 30 praticados hoje em Rondonópolis (MT).

Mas a intenção é verticalizar com a produção de frangos, perspectiva ainda não dimensionada. Para isso, no próximo ano será iniciado um plantio experimental, só que na Etiópia. "O país tem altitude favorável para esta cultura, de 1,2 mil metros. O potencial é que a área de milho atinja em quatro anos 50 mil hectares para atender ao projeto de produção de proteína".

A descoberta do Sudão como oportunidade de negócio vem de alguns anos, quando Pinesso integrava comitiva de produtores de algodão do Brasil para o Oriente Médio. Ele conta que foi procurado pelo Ministério da Agricultura do Sudão para trocar informações sobre o cultivo e a tecnologia usadas nas lavouras brasileiras. "As conversas foram sucedidas de visitas e contatos, até que as negociações avançaram para o campo privado", comenta Pinesso.