O mercado internacional de café está perto de registrar um evento que não ocorre desde o início de 2003. Os estoques certificados da bolsa de Nova York estão perto de romper o patamar de 3 milhões de sacas e com a perspectiva de continuar caindo pelo menos até o mês de julho, quando começa a entrar no mercado a safra brasileira.
O último dado aponta para exatas 3.004.139 sacas certificadas que estão sob custódia da bolsa, mas esse volume já foi muito maior. Corretores informam que os estoques superaram 5,5 milhões de sacas nos últimos dois anos, entretanto começaram a recuar à medida que os preços começaram a subir.
Na prática, os estoques estão retornando para os níveis anteriores aos das safras recordes que o mundo colhia no início da década. Naquela época, a grande oferta fez com que os preços recuassem para valores ao redor de 70 centavos de dólar por libra-peso, mesmo com a tentativa dos países produtores de reter parte de suas exportações. "Foi a produção daquela época que elevou os estoques aos níveis que vimos há pouco tempo. Hoje, existe café, mas não como naquela época", afirma Rodrigo Costa, analista da corretora Newedge, com sede em Nova York.
Conforme cálculos do Valor Data, os preços do café acumulam uma valorização de 21% nos últimos doze meses, em Nova York. Ontem, os contratos para entrega em maio subiram 10 pontos e fecharam o dia cotados a 142,65 centavos de dólar por libra-peso. "Ficar abaixo de 3 milhões de sacas não significa que os preços subirão no dia seguinte, mas tem um efeito psicológico importante", afirma Costa.
E o sentimento do mercado é de que os estoques da bolsa continuarão caindo neste ano. As grandes indústrias torrefadoras do mundo sabem que a disponibilidade do grão, especialmente de qualidade superior, está menor. Por esse motivo, analistas consideram que as empresas vão queimar seus estoques antes de voltar ao mercado para fazer novas compras e em patamares de preços mais elevados.
"Se tudo ocorrer bem, o aperto na oferta de cafés finos será pequeno. As chuvas na colheita, se acontecerem, ainda podem prejudicar a qualidade da safra brasileira e fazer com que os valores dos cafés especiais subam ainda mais", afirma um corretor da BM&FBovespa, ao lembrar que os números apresentados pela Conab são um fator de baixa para os preços. Para 2010, a entidade prevê uma oferta entre 45,8 milhões e 48,6 milhões de sacas.
Diante desse cenário, a expectativa é de que os preços apresentem valorização no curto prazo. A estimativa da Newedge é de que até fevereiro a cotação chegue a 145 centavos de dólar, mas a moeda americana pode interferir diretamente no desempenho dos preços. "O café pode subir mais, já que não tivemos nenhuma alteração nos fundamentos do mercado. Uma alta do dólar, no entanto, representa enfraquecimento das commodities, incluindo o café", afirma Costa.