Nesta sexta-feira (25), o programa “A Banca”, da Rede Top FM, entrevistou o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai, que falou sobre a questão da arroba do boi no Estado devido ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros e a respeito da recondução dele ao cargo.
“Caso se concretize o tarifaço de 50%, esse problema não é tão drástico que obrigue o produtor rural a já começar a pagar a conta. Nós tínhamos no mercado uma arroba de R$ 325,00 e, no dia seguinte ao anúncio do possível tarifaço, a arroba do boi simplesmente despencou para R$ 290,00. Então isso realmente representa o quê? Uma pressão artificial dos frigoríficos”, denunciou.
Ele explicou que Mato Grosso do Sul tem 35 frigoríficos exportadores de carne bovina para o mercado norte-americano de um universo de mais de 300 no Brasil e todos esses frigoríficos que se quer exporta para os Estados Unidos estão se aproveitando da situação para abaixar o preço da arroba. “Mais uma vez o produtor rural vem pagando essa conta, uma conta que é artificial, porque se essa carne não for colocada no mercado americano, ela vai ser colocada em outro lugar”, avisou.
Bumlai acrescentou que um ponto importante é detalhar que a carne que é enviada para o mercado americano são retalhos e outros produtos do dianteiro, que são peças mais magras, que vão para moer para fazer um blend com a carne americana, que é uma carne gorda, que vai virar hambúrguer. “São peças que não são consumidas pelo mercado brasileiro, mas elas podem ser exportadas para outros países”, pontuou, reforçando que essa queda de preço é uma queda artificial.
Na avaliação do líder rural, é um movimento dos frigoríficos sul-mato-grossenses tentando se apropriar de todo esse contexto do tarifaço. “A gente precisa ter muita paciência, vender o estritamente necessário para pagar as contas, mas é hora de dar uma segurada no boi no pasto e esperar essa tempestade passar”, aconselhou, lembrando que as peças do dianteiro não são exportadas para os Estados Unidos, tais como filé mignon, picanha, contrafilé e alcatra.
O presidente da Acrissul argumentou que nenhuma dessas peças que tradicionalmente o brasileiro consome são exportadas para os Estados Unidos. “Então não é um dado de realidade dizer, olha, vai sobrar a carne no mercado interno e com isso vai baixar o preço. Há um jogo muito grande da indústria frigorífica no sentido de fazer toda essa pressão e realmente no primeiro momento eles conseguiram porque baixou mais de 10% o valor da rouba no dia seguinte do anúncio”, informou.
Reeleição
Ainda durante a entrevista, o Guilherme Bumlai também informou que vai ser reconduzido ao cargo de presidente da Acrissul para mais um mandato. “Bom, desde o início eu resolvi assumir essa missão com o compromisso da diretoria de me ajudar. Eu acho que é um trabalho importante na pecuária do Mato Grosso do Sul, a gente precisa ter apoio e isso foi o meu pedido para a minha diretoria quando eu assumi há quase três anos. Era uma diretoria participativa e graças a Deus a gente está indo para o fim do nosso mandato e eu pude contar com a participação maciça da minha diretoria”, declarou.
Ele explicou que ainda há algumas questões que ficaram pendentes e que gostaria de concluir, como obras dentro do parque de exposições e a entrada de algumas empresas que ainda estão em negociação. “A gente acha que ainda temos um bom trabalho a ser entregue ao longo dos próximos três anos e resolvemos ir para mais um mandato”, assegurou.
Na entrevista, o produtor rural abordou a criação da União Nacional da Pecuária há cerca de dois anos com o apoio da Acrimat (Associação dos Criadores do Mato Grosso). “O Mato Grosso hoje tem mais de 30 milhões de cabeças de gado e algumas discussões que aconteciam no setor pecuário local também aconteciam aqui em Mato Grosso do Sul. Por isso, a gente ia trocando ideias, experiências e vimos o quão importante foi isso. E, na medida que as coisas foram acontecendo, resolvemos também chamar outros estados para participar das nossas conversas que aconteciam de uma maneira informal. E aí entrou o Pará, entrou Rondônia, entrou Tocantins e, com isso, nós vimos a possibilidade de criar essa união nacional das associações de classe”, relembrou.
O presidente da Acrissul acrescentou que, com a União Nacional da Pecuária, os pecuaristas podem fazer uma coordenação da ideia das associações de uma forma melhor e com uma interlocução melhor. “Principalmente nas questões políticas e colocar um escritório de representação das associações em Brasília (DF) para que a gente possa estar participando das discussões em nível ambiental e outros temas que constantemente acabam passando pelo Congresso Nacional”, explicou, revelando que os estados participantes representam 45% do rebanho nacional.
O pecuarista revelou ainda que a União Nacional da Pecuária já fez algumas consultas de outras entidades querendo entrar e deve fazer o convite à Sociedade Rural do Paraná. “Nós teremos aí um representante do Paraná na nossa União e com certeza estamos abertos a entrar em novos estados para que a gente realmente tenha uma entidade representativa da pecuária de corte do nosso país”, assegurou, completando que a prioridade da União neste momento é realmente participar desses temas que estarão sendo votados no Congresso Nacional.
Sanidade animal
Guilherme Bumlai destacou que a sanidade animal é uma grande preocupação do produtro rural sul-mato-grossense e brasileiro. “O Brasil tem feito essa união muito bem feita no que tanja a gente combater essas notícias que acabam vindo por guerras comerciais de outros países. A União Europeia veio com essa conversa fiada há um tempo atrás e agora essa associação dos pecuaristas dos Estados Unidos também. Ser favorável ao tarifaço, ele colocou dúvidas em relação às questões sanitárias e ambientais da carne brasileira e isso é um completo absurdo”, afirmou.
O presidente da Acrissul disse que essa associação norte-americana colocou que o Brasil teria casos de vaca louca. “Os mesmos casos de vaca louca atípica que nós tivemos no Brasil, os Estados Unidos também tiveram. Ele teve, em 2023, um caso de vaca louca, mas atípica. Então, o caso atípico não tem o menor problema, acontece isoladamente, um animal um pouco mais velho, mas não é relativo à ingestão de produtos de origem animal, então, não tem problema nenhum quando você tem um caso de vaca louca atípica, que foi o que o Brasil teve também em 2023”, detalhou.
Ele completou que o Brasil é o país hoje que mais casa atividade pecuária com sustentabilidade. “O produtor rural está atento a isso, não há o que se falar mais em pecuária sem estar atrelado na questão ambiental. O Brasil está muito atento a isso e a gente vem fazendo o dever de casa”, garantiu.
Política
Como liderança do agronegócio, o produto rural também falou sobre política e defendeu que o setor precisa dialogar entre si para ter um caminho unânime entre as associações existentes. “E aí eu sempre busco um grande amigo, que é o Marcelo Bertoni, presidente da Famasul, que tem feito um trabalho excepcional, principalmente em Brasília, com essas pautas bombas, vamos dizer assim, e o Marcelo está sempre lá, quase toda semana, defendendo o produtor”, revelou.
Ele relatou que a Acrissul vem em um alinhamento muito importante com a Famasul para que realmente possam estar juntos em todas as pautas que vão acontecendo. “E assim é o nosso entendimento. A gente espera, junto com a Unapec agora, trazer exatamente isso. É um alinhamento de ideias para que esse fortalecimento de todas as entidades, falando a mesma língua e fazendo os mesmos pedidos, a gente possa ter cada vez mais força junto aos nossos deputados, aos nossos senadores, para que a gente consiga as aprovações necessárias”, declarou.
Sobre ter candidato nas eleições gerais do próximo ano, Bumlai disse que isso tem que acontecer de uma forma orgânica. “É óbvio que nós temos as nossas conversas em nível de associativismo, aqueles políticos que estão mais alinhados com o nosso segmento. Então, seja um representante novo que possa surgir do agro, ou aqueles representantes que já estão e que muito bem defendem o agro, o importante para nós, independentemente de quem seja, é nós apoiarmos aqueles que têm um compromisso com a nossa pecuária, essa pecuária feita de forma sustentável, e é isso que a gente busca”, avisou.
Assista a entrevista completa clicando AQUI.