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Enquanto Trump insiste no tarifaço, os EUA irão "colher" em 2025 a menor safra de bezerros desde 41

"Os pecuaritas (norte-americanos) sofreram impactos físicos, emocionais e financeiros significativos, cujos efeitos se estenderão por anos", diz o renomado analista Derrell S. Peel, da Oklahoma State University Extension

03 novembro 2025 - 14h53Por Portal DBO
Enquanto Trump insiste no tarifaço, os EUA irão "colher" em 2025 a menor safra de bezerros desde 41

Após sete anos consecutivos de liquidação de rebanhos nos EUA, a produção de bezerros projetada para 2025 é de 33,1 milhões de cabeças — a menor no país desde 1941, relata o analista norte-americano  Derrell S. Peel, renomado especialista em pecuária de corte da Oklahoma State University Extension. 

Em artigo publicado no site da Beef Magazine (www.beefmagazine), Peel diz que “não há maneira — nem política pública — capaz de mudar o fato de que a oferta de carne bovina nos EUA continuará restrita, e ficará ainda mais limitada nos próximos dois a quatro anos, até que a produção doméstica possa ser aumentada novamente”. 

Na prática, isso significa que as indústrias norte-americanas de processamento da carne continuarão, por um longo tempo, altamente dependentes da proteína importada, especialmente da “carne magra” utilizada largamente para a fabricação dos hambúrgueres.  

Tal constatação revela a política equivocada do presidente dos EUA, Donald Trump, que desde agosto/25 impõe tarifa abusiva de mais de 75% sobre a carne bovina produzida no Brasil, justamente o maior fornecedor mundial da proteína “magra”, e também capaz de oferecer aos importadores norte-americanos preços altamente competitivos em relação aos outros tradicionais fornecedores, como a Argentina e Austrália.

Segundo o artigo de Peel, em 1º de janeiro de 2025, o rebanho norte-americano de vacas de corte era de 27,86 milhões de cabeças, uma redução de 3,78 milhões (ou 11,9%) em relação ao pico cíclico de 31,64 milhões em 2019. 

Atualmente, o plantel de vacas de corte é o menor desde 1961, acrescenta ele.

“O que começou como uma modesta liquidação cíclica de rebanhos,  ganhou força entre 2021 a 2024, em razão de secas severas e generalizadas que afetaram grande parte da produção de gado de corte nos Estados Unidos”, relata o professor, que acrescenta: “A falta de pastagem e as condições adversas de produção obrigaram os produtores a reduzir seus rebanhos — e em proporções muito maiores do que planejavam”.

Peel continua: “A indústria de gado de corte é complexa e única entre as indústrias de proteína animal. O gado é um animal de crescimento lento, que se reproduz individualmente”. 

Um aspecto particularmente importante, continua o professor, é que os animais de reprodução e os animais destinados ao abate vêm do mesmo grupo genético. 

“Isso significa que a liquidação do rebanho, embora reduza o tamanho do efetivo, aumenta temporariamente o abate e a produção de carne bovina”.

Assim, explica o analista, à medida que o rebanho de vacas diminuiu após 2019, o maior abate de vacas e novilhas elevou a produção norte-americana de carne bovina a níveis recordes em 2022 (veja gráfico ao final deste texto). 

Dessa maneira, observa Peel, os consumidores norte-americanos desfrutaram hoje de “abundante oferta de carne bovina, sem perceber que isso significava que a produção futura inevitavelmente diminuiria”.

Segundo ele, atualmente, a produção doméstica de carne bovina está em queda, o que impulsionou os preços no varejo a níveis recordes. 

“Sem a recomposição dos rebanhos, a produção continuará baixa devido ao número limitado de animais”, reforça Peel, completando: “Essa recomposição deve ocorrer em algum momento — o que, paradoxalmente, reduzirá ainda mais a oferta de carne bovina no curto prazo”.

Ele explica que o oposto da liquidação de rebanhos significa que as novilhas passarão a ser retidas para reprodução, em vez de destinadas ao abate, tornando o suprimento de gado ainda mais escasso. 

“Isso leva a reduções adicionais na produção de carne enquanto os novos animais reprodutores não começam a produzir”.

Segundo Peel, os atuais preços elevados do gado e da carne nos EUA se formaram ao longo de vários anos — e a um alto custo. 

“Os pecuaristas (norte-americanos) sofreram impactos físicos, emocionais e financeiros significativos, cujos efeitos se estenderão por anos”, observa, acrescentando: “Muitos pecuaristas foram forçados a vender vacas reprodutivas produtivas prematuramente, com a maioria indo para o abate”.

Por sua vez, continua Pell, os produtores que tentaram resistir à seca enfrentaram custos de produção elevados, incluindo preços recordes para o feno, e ainda assim, em muitos casos, acabaram obrigados a vender seus animais. 

“A recuperação física das pastagens e a recuperação financeira das fazendas são processos lentos”, alerta.

Segundo o artigo de Peel, hoje, os pecuaristas norte-americanos estão obtendo preços altos e retornos recordes por cabeça, mas rebanhos menores significam que estão vendendo menos animais, enquanto continuam enfrentando altos custos fixos para manter pastagens, cercas, equipamentos e instalações de produção.

“Preços elevados por um período prolongado são necessários para permitir que as fazendas de gado se recuperem, reconstruam e se preparem para o próximo ciclo pecuário”, ressalta o professor.