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Crise sanitária e encolhimento do rebanho devem forçar Europa a importar mais carne do Brasil

Apesar do avanço de salvaguardas e de um discurso cada vez mais protecionista dentro da União Europeia, a tendência para os próximos anos é de aumento das importações de carne bovina e de aves do Brasil

17 dezembro 2025 - 16h19Por Estadão Agro
Crise sanitária e encolhimento do rebanho devem forçar Europa a importar mais carne do Brasil

Segundo Iglesias, a Europa enfrenta um processo contínuo de encolhimento do rebanho bovino ao longo desta década, além dos impactos recorrentes da influenza aviária de alta patogenicidade, especialmente no setor de carne de frango.

Esse cenário reduz a capacidade produtiva interna e obriga o bloco a buscar fornecedores mais competitivos no mercado internacional, com destaque para o Brasil. “Hoje, o europeu precisa do produto brasileiro para se abastecer. Existe uma necessidade real de compra de carne do Brasil muito em função desse descompasso de produção que a Europa enfrenta”, avalia o analista.

Em Portugal, a escassez de animais para abate e o redirecionamento de parte da produção para o mercado externo já refletem diretamente nos preços ao consumidor. O movimento acompanha uma tendência mais ampla no continente, onde a produção local não tem conseguido acompanhar o crescimento do consumo.

Na França, a situação é agravada por novos focos de doenças no campo. A dermatose nodular contagiosa (DNC), enfermidade viral que afeta bovinos, sem risco para humanos, foi detectada pela primeira vez em uma fazenda na região de Savoie. O surto levou ao abate de mais de 70 animais em uma propriedade. Até o momento, cerca de 3 mil cabeças de gado já foram abatidas no país.

De acordo com o Ministério da Agricultura francês, até o momento foram identificados 110 surtos da doença, atingindo 75 fazendas em diferentes regiões. A dermatose nodular se soma a outros desafios sanitários enfrentados pela agropecuária francesa.

Na avicultura, a gripe aviária continua sendo uma ameaça relevante. As autoridades confirmaram um novo foco da doença na última sexta-feira (12) na região de Landes, no sudoeste do país, principal polo produtor de patos para foie gras e referência na produção avícola francesa.

O avanço da doença reforça as dificuldades de abastecimento de carne de aves no mercado europeu. Ao mesmo tempo, Iglesias pondera que esse movimento de aumento das importações da Europa tende a ocorrer em meio a um ambiente de maior vigilância comercial.

Medidas de salvaguarda e mecanismos de proteção podem ser acionados pela União Europeia como forma de conter o avanço das importações e proteger o produtor local. O Parlamento Europeu aprovou, nesta terça-feira, 16, o pacote de medidas legislativas que terá impacto direto no setor agrícola do bloco, incluindo novas salvaguardas comerciais relacionadas ao acordo com o Mercosul e a simplificação de regras da Política Agrícola Comum (PAC).

A posição do Parlamento sobre o tratado comercial, aprovada por 431 votos a favor e 161 contra, estabelece mecanismos mais rigorosos para proteger os produtores europeus, permitindo a suspensão temporária de preferências tarifárias para produtos sensíveis, como carne bovina e aves, oriundos de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, caso se verifique prejuízo à produção local.

A dificuldade de competição, segundo Iglesias, é um fator concreto. Produzir carne na Europa tornou-se um processo cada vez mais caro, oneroso tanto para a indústria quanto para o produtor rural, em função de exigências ambientais, custos trabalhistas elevados e regras sanitárias rigorosas.

Nesse contexto, a competitividade da carne brasileira se impõe de forma natural. “A alegação do produtor europeu de que não consegue competir com o produto brasileiro é verdadeira. Produzir carne hoje na Europa é muito custoso, e competir com o Brasil se torna extremamente difícil”, explica Iglesias.

O desafio para a União Europeia, na avaliação do analista da Safras & Mercado, será equilibrar interesses muitas vezes conflitantes: atender à demanda interna por proteína animal, garantir o abastecimento do mercado e, ao mesmo tempo, manter o produtor local em níveis aceitáveis de rentabilidade e satisfação. Mesmo diante dessas tensões, Iglesias projeta que a necessidade de importação deve prevalecer.

Para ele, o bloco europeu seguirá ampliando as compras de carne brasileira nos próximos anos — e já no próximo ano esse movimento tende a ficar mais evidente —, ainda que acompanhado de discursos políticos mais duros e de tentativas de controle comercial. “O cenário aponta para uma maior importação da Europa no próximo ano para a carne brasileira. Existe uma dependência crescente do produto do Brasil, mesmo com toda a dificuldade política e a resistência dos produtores locais”, conclui.