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Criadores investem na produção de carne ovina

20 janeiro 2010 - 00h00Por Estadão, por Fernanda Yoneya e Leandro Costa.

O tempo em que a ovinocultura se resumia a uma pequena criação destinada à extração de lã e abate para consumo caseiro parece estar ficando para trás. Com o aumento da demanda pela carne por consumidores exigentes e o surgimento de frigoríficos especializados no abate de cordeiros (animais com até um ano de vida), produtores estão se profissionalizando e investindo em melhoramento genético, nutrição, sanidade e gestão do negócio com o objetivo de abocanhar uma fatia deste mercado, hoje abastecido praticamente por importações do Uruguai e Nova Zelândia.

"De 2005 a 2007 a ovinocultura estourou, mas quem se mantém até hoje na atividade teve de se profissionalizar", diz o presidente da Aspaco (Associação Paulista de Criadores de Ovinos), Arnaldo dos Santos Vieira Filho. "A ovinocultura atraiu muita gente interessada em ter um giro rápido, mas, como toda atividade rural comercial, exige dedicação em tempo integral", diz Vieira Filho, que preside a Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos do Estado de São Paulo e é vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos.

Segundo Vieira Filho, embora o Rio Grande do Sul tenha o maior rebanho ovino do País, São Paulo é, hoje, o polo da genética. "O rebanho paulista, estimado em aproximadamente 500 mil cabeças, cresceu 97% nos últimos 20 anos. E o produtor está entendendo que se não houver animais melhoradores no plantel, não haverá bons cordeiros para o abate." Em São Paulo, a média de idade de abate é de seis meses, mas criatórios eficientes conseguem abater cordeiros com 90, 100 dias.

"Criar como se fazia antigamente é inviável", diz o produtor José Maurício Lima Verde, de Piratininga (SP), que possui rebanho de 300 matrizes. Ele conta que desde 2001 vem investindo na compra de reprodutores de elite. "Além disso, temos investido nas pastagens, com adubação e irrigação, o que reduz gastos com ração", explica Lima. Segundo a Aspaco, em média, pode-se colocar de 15 a 20 ovelhas por hectare; com manejo intensivo da área, a lotação pode chegar a 40 animais por hectare. Há cinco anos Lima adotou o confinamento dos animais. "Foi uma evolução. Melhora a qualidade do rebanho e forneço aos frigoríficos um produto de ponta, à altura do produto importado."

De olho no mercado, em 2003, o produtor Nelson Varela, de Pedra Bela (SP), trocou a criação de gado pela ovinocultura. De lá para cá seu rebanho passou de 200 matrizes para cerca de mil ovelhas das raças dorper e santa inês. No ano passado o produtor abateu 950 cordeiros. "E a procura só cresce. Não consigo atender a todos que me ligam em busca de animais", diz. Por isso, pretende, em dois anos, aumentar o plantel para 1.500 matrizes e elevar em 50% a produção de cordeiros.

Varela conta que quando começou a trabalhar com ovinos investiu em genética, com a compra de bons reprodutores. "Faço cruzamentos entre reprodutores da raça dorper e matrizes santa inês. O resultado é um borrego que rende mais carne", explica.

Profissionalismo - Há 25 anos na atividade, o criador Fernando Gottardi, de Araçatuba (SP), acredita que o setor está se profissionalizando, apoiado em uma boa gestão da propriedade e em investimentos em manejo, sanidade, nutrição e genética. "Essa é a base da atividade. Quem está se mantendo no ramo tem consciência disso", diz o criador, cujo plantel é de 2 mil animais. Para Gottardi, o fato de a indústria ser exigente estimula a profissionalização do produtor.

"A indústria adota critérios de qualidade e o produtor tem de seguir tais critérios. Isso padroniza o abate e torna o setor mais competitivo, porque só produzindo uma carne de qualidade temos como competir com o produto importado", diz Gottardi, que coordena o projeto de ovinos do Marfrig. "Há oito meses o Marfrig instalou uma unidade de abate exclusiva para cordeiros em Promissão (SP). Até agora, já são mais de 100 produtores parceiros. E todos preocupados em produzir com qualidade, porque, do contrário, o frigorífico não abate."

Para o responsável do projeto de cordeiros do Marfrig, Ricardo Maluf, a demanda por fornecedores mostra o crescimento da atividade. "Estamos sempre buscando novos fornecedores, que atendam aos nossos critérios de padronização para a produção de uma carne de qualidade diferenciada. O animal precisa ser bem acabado e bem terminado." Em 2009 o frigorífico abateu 16 mil cordeiros e trabalhou com 96 produtores, de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas, Goiás e Mato Grosso.

Maluf explica que o frigorífico só abate cordeiros 100% terminados em confinamento. A safra de cordeiro é de novembro a fevereiro, mas, para ter oferta o ano inteiro, o Marfrig investiu em um confinamento próprio, em Getulina (SP), onde são mantidos 2 mil cordeiros. "Não há volume suficiente para atender a demanda."

"Hoje, a aceitação da carne é muito boa e a demanda é crescente, tanto no mercado interno quanto externo. Temos que crescer de forma organizada e eficiente para atender a essa demanda reprimida", diz Vieira Filho, da Aspaco.