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Criadores disputam nome de raça bovina

12 setembro 2011 - 11h33Por Globo Rural

Criadores de gado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina 'estão em pé de guerra'. Tudo porque, tanto os catarinenses quanto os gaúchos querem ter o direito de nomear uma determinada raça bovina criada nos dois estados. O gado, que tem grandes e pontudos chifres, é chamado de Crioulo Lageano em Santa Catarina e Franqueiro no Rio Grande do Sul. Criadores dos dois estado pleiteiam o pioneirismo da criação e o direito de sediar a associação nacional e obter o registro da raça. A briga pelos direitos de nomear a raça não é novidade, mas ganhou mais notoriedade na Expointer, que aconteceu em Esteio (RS).

A antiga disputa já havia levado os organizadores da feira a retirar a exposição de Franqueiros no evento, mas neste ano, eles puderam voltar à feira, embora proibidos de participarem de concursos. Nesta edição, novamente utilizaram o nome Franqueiro e despertaram a revolta dos criadores de Crioulo Lageano. A discussão novamente ganhou fôlego. Em 2006, os criadores gaúchos fundaram a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Franqueiros (ABCBF), em Gramado (RS) e, dois anos mais tarde, os catarinenses registraram a Associação Brasileira de Criadores de Gado Crioulo Lageano (ABCGCL), com base na Portaria 1.048 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 31 de Outubro de 2008, que também concedeu aos catarinenses o direito de registrar os animais da raça em todo o país e efetuar os trabalhos genealógicos. Segundo a ABCGCL, existem no Brasil aproximadamente 27 criadores e um rebanho de três mil animais espalhados pelos estados de Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás. 80% de todo o gado estaria em Sata Catarina. A ABCBF diz que no Rio Grande do Sul há cerca de onze criadores e 200 animais, um rebanho bem menor que o de Santa Catarina, mas mais antigo e tradicional e por isso, o direito do nome seria deles.

Edison Martins, presidente da ABCGL, acusa os criadores gaúchos de prejudicarem a raça e os demais criadores por usarem um nome falso para o gado. "É preciso cumprir a portaria ministerial. Eles (os gaúchos) poderiam registrar seus animais através da nossa associação sem necessariamente serem associados, mas isso não está acontecendo. Pelo contrário, há prejuízo para os criadores quando eles apresentam este gado com outro nome", protesta Martins. Sebastião de Oliveira, presidente da ABCGF, reconhece que o gado franqueiro não tem registro no Mapa, mas defende uma nomemclatura que exclua a denominação lageana. "Criamos este gado aqui no Rio Grande do Sul há dois séculos, este gado não é de Lages. Defendemos então que utilize o nome crioulo apenas, mas não lageano", defente Oliveira. Gado preservado O boi em questão - Lageano ou Franqueiro - provavelmente descende dos bovinos hamíticos, que também já tinham chifres longos. Da África, migraram para o Sul da Espanha e Portugal.

No Brasil, chegou na época da colonização e eles dominaram a região Sul até o início do Século XX, quando outras raças européias começaram a chegar. No entanto, o material genético desta raça foi preservado por criadores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Segundo o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Arthur Mariante, a adaptação desse bovino ao longo dos séculos resultou em uma enorme rusticidade, traduzida numa adaptação às baixas temperaturas registradas naquela região. Os bois Franqueiros e Lageanos são de grande porte, produtores de carne com aptidão leiteira.