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Crescimento da irrigação é acelerado na agricultura brasileira

Pivô central é a principal tecnologia, que ganha importância nas culturas de soja, milho e algodão

17 outubro 2022 - 12h09Por José Roberto dos Santos
Crescimento da irrigação é acelerado na agricultura brasileira

Impulsionado pelas culturas de soja, milho e algodão, o ritmo de adoção de técnicas de irrigação está crescendo de forma acelerada no Brasil. De acordo com a Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o crescimento da área irrigada no país passou de 118.520 hectares (ha) ao ano em 2000, para 370.302 ha no ano passado. As taxas mais altas de crescimento são verificadas na instalação de pivôs centrais, geralmente utilizados para irrigar grandes áreas.

“Há 20 anos, era o feijão que liderava o crescimento, hoje é soja, milho e algodão, por causa do preço das commodities”, diz Everardo Mantovani, presidente da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID) e professor sênior da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

De acordo com o Atlas Irrigação, lançado em 2021 pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a área irrigada no Brasil chega a 8,2 milhões de hectares, mas representa apenas 13,24% da agricultura brasileira, de acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Potencial

Segundo Mantovani, há potencial para crescer mais 55 milhões de ha, sendo 13,6 milhões em médio e curto prazos. “O desafio é desenvolver estratégias e estudos para que haja sustentabilidade nesse crescimento, garantindo o abastecimento da população com alimentos, equilíbrio no uso de recursos hídricos e aumento de investimentos e renda para produtores”, diz o especialista, que estima que a irrigação usa 0,7% da vazão dos rios brasileiros.

O presidente da ABID gosta de se utilizar de analogias com os veículos para comparar com a situação das máquinas. Na década de 1980, ter um carro com ar condicionado era um luxo inimaginável, mas com o desenvolvimento da tecnologia, praticamente todo veículo sai com esse item de fábrica. Para ele, a mesma coisa acontece com os preços das máquinas de irrigação. “A irrigação era muito cara ao produtor. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, é um produto acessível, embora não seja barato.”

Há 20 anos, pensava-se na irrigação como forma de combater a seca, lembra o executivo, enquanto hoje se busca elevar a produtividade. Segundo o Atlas Irrigação, as culturas irrigadas têm produtividade até três vezes maior que aquelas produzidas em sequeiro.

Mantovani cita como exemplo a produção do algodão no Oeste da Bahia, no qual a safra 21/22 apresentou produtividade de 180 arrobas por ha, enquanto a safra irrigada gerou 420 arrobas por ha. “Esse tipo de produtividade paga o investimento na irrigação em um ano só. Imagina a avidez dos produtores de investirem em agricultura irrigada”, afirma.

Os financiamentos, diz o executivo, também estão facilitados. E tanto para grandes investidores quanto pequenos e médios, Mantovani defende o uso de leasing de máquinas, que podem ser adquiridas ao final do acordo. “É uma coisa que boto muita fé. Primeiro, porque o produtor ao alugar a máquina não vai imobilizar o capital dele. E isso pode ser solução para médios e pequenos produtores que podem ter alguma dificuldade com crédito”, explica.

Orientações

O pesquisador Lineu Rodrigues, da Embrapa Cerrados, é um especialista em irrigação e recursos hídricos. Ele conta que os produtores de soja no Mato Grosso, por exemplo, muitas vezes precisam esperar a chuva para começar a plantar. E, com a irrigação, é possível plantar no tempo certo.

“A irrigação propicia antecipar o plantio, você pode tirar vantagens em relação a quem está esperando a chuva. E a grande vantagem a irrigação é como se ela fosse um seguro agrícola, porque reduz as perdas por produtividade. É o melhor seguro agrícola que o produtor pode ter, mais cedo ou mais tarde, e independentemente do local do país que ele estiver”, diz Rodrigues.

A sua primeira dica para o produtor que quer implantar irrigação em sua cultura é encontrar um técnico capacitado para assessorá-lo, porque são diversas variáveis que influenciam a instalação de um sistema. Segundo Rodrigues, o produtor precisa definir qual a cultura vai produzir e quanto de água ela demanda; precisa saber se há disposição de água suficiente na área, ou se precisar construir um reservatório.

“A outra pergunta é se tem energia suficiente disponível para ele. E junto com a demanda hídrica, ele precisa pedir alguma outorga para a sua região? Tem possibilidade de conseguir uma outorga, precisa de licença ambiental para remover a vegetação? E qual é o tipo de relevo e de solo. E em função disso começa a se definir o melhor sistema de irrigação para atender as características dele. É um combinado de coisas que tem para avaliar.”

Área irrigada no Brasil a cada ano por sistema (em hectares)

Ano Pivô central Carretel Convencional Localizada Total
2000 47.320 25.000 16.200 30.000 118.520
2001 50.540 29.000 15.300 33.000 127.840
2002 57.820 30.000 14.650 37.000 139.470
2003 59.500 30.000 15.500 40.000 147.000
2004 47.600 22.500 15.000 35.000 97.600
2005 26.600 21.000 15.000 35.000 97.600
2006 17.500 30.000 15.000 30.000 92.500
2007 19.600 30.000 16.500 40.000 106.100
2008 49.000 30.000 20.000 47.000 146.000
2009 49.500 25.000 17.000 40.000 131.500
2010 52.000 30.000 25.000 50.000 157.000
2011 57.750 32.500 29.500 56.000 175.750
2012 84.000 32.500 35.400 60.480 212.380
2013 126.000 32.500 40.710 72.576 271.786
2014 102.000 10.500 28.497 79.834 220.831
2015 78.000 6.000 28.000 75.000 187.000
2016 91.000 18.000 31.000 75.000 215.000
2017 94.000 14.000 31.000 64.000 203.000
2018 92.000 13.750 31.000 64.000 200.750
2019 97.500 12.500 31.000 68.500 209.500
2020 117.000 16.250 37.200 78.775 249.225
2021 206.336 28.625 37.200 98.141 370.302

Fonte: CSEI/Abimaq

Garantia de rentabilidade

O engenheiro agrônomo e produtor Leandro Munaretto Granella, de Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul, já adquiriu seu terceiro pivô central, com o qual consegue irrigar 20% da propriedade de 310 ha, onde produz trigo no inverno e soja e milho no verão. O primeiro pivô foi implantado em 2019 e, com os ótimos resultados obtidos, Granella buscou ampliar a área irrigada.

“Como nós temos frequentes veranicos e estiagem na nossa região, isso é para garantir uma renda mínima no meu negócio, que me permita, mesmo em anos de dificuldade, ter capital de giro para manter o negócio com boa saúde financeira”, diz ele, que buscará ampliar a área irrigada no futuro, quando os juros dos financiamentos estiverem mais atrativos.

Suas principais orientações ao produtor que tem interesse em investir em irrigação é ter acesso à água, realizar o mais rápido possível as aprovações ambientais sobre o uso da água, análise sobre o fornecimento de energia elétrica e estudar a topografia do terreno, para que o pivô central possa ser usado plenamente.

“Tem que começar a ver a parte de energia e a parte ambiental no mínimo um ano antes que se quer usar na lavoura”, explica ele, que já tinha um açude na propriedade que lhe ajudou na instalação da irrigação. “Demorou nove meses para ligarem a energia, tive que instalar um um gerador para atender a safra de milho, tudo devido à burocracia e a morosidade da concessionária de energia que passa na minha propriedade".