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Conab prevê margens mais apertadas na safra 2009/10

07 dezembro 2009 - 00h00Por Valor Econômico, por Mauro Zanatta.

O cenário de preços e custos de produção para a atual safra 2009/10 deve resultar em margens de lucro menores para cinco das seis principais lavouras brasileiras. À exceção da soja, carro-chefe da produção nacional, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta, em estimativa inédita, uma piora na situação financeira dos produtores de algodão, arroz, feijão, milho e trigo em relação ao ciclo anterior (2008/09).

A previsão oficial reforça o estado de alerta dos produtores com riscos associados a preços futuros em baixa e câmbio desfavorável em 2010. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) desenha cenário de instabilidade para o próximo ano.

A soja deve ter uma queda generalizada na receita bruta, o que demandará intervenção mais forte do governo na sustentação dos preços agrícolas. Atenta às projeções, a bancada ruralista iniciou pressões de bastidores por uma nova renegociação das dívidas. E o movimento já preocupa os bancos operadores do crédito rural.

Mesmo o cenário favorável para soja pode mudar, já que os resultados dependem da valorização do dólar e do controle dos custos de produção. A ferrugem asiática na região Centro-Oeste já pressiona esses custos. "Há um risco elevado de preços porque só 40% dos produtores fixou preços, o câmbio não ajuda e 39% dos contratos estão na mão de fundos especulativos. Mas se a China mantiver a demanda firme, podemos ter preços melhores", diz a economista da CNA, Rosemeire dos Santos.

A Conab pondera que os preços projetados em 2008 estavam bem mais elevados do que a atual previsão de 2009. E que o cenário ainda deve melhorar no ano que vem. "O ano passado foi atípico, fora de contexto. Tivemos preços altos e uma soma das crises financeira, de alimentos e do petróleo", afirma o diretor de Política Agrícola da Conab, Silvio Porto.

As projeções, segundo Porto, estão "um pouco acima" da média histórica. "Podemos melhorar o cenário do milho, onde teremos área menor e clima difícil, e arroz deve reagir com os estragos no Sul", afirma.

Mas a evolução dos preços futuros já colocou os bancos em alerta. "As margens do setor estão extremamente apertadas, diria até negativas", afirma o assessor da diretoria técnica da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian. "As restrições de crédito vão se aprofundar porque o setor não está bem e a safra 2010/11 já começa a ficar complicada por causa dessa descapitalização".

Para ele, o momento exige uma ação do governo para além do crédito. "É preciso fazer política específica para cada cadeia produtiva com critérios diferenciados na tributação, crédito, importação e exportação", diz Vian. O foco tem que "sair do crédito" para auxiliar instrumentos de comercialização . "Crédito na dose certa, ajuda. Na dose errada, vai matando o produtor aos poucos", acrescenta.

A CNA avalia que o cenário de preços no segundo semestre de 2010 deve ser melhor. Em 2009, a situação para a soja não foi "tão ruim" porque a seca da Argentina ajudou a tirar 30 milhões de toneladas do mercado. A Conab projeta margens maiores, entre R$ 15,21 a R$ 21,60 por saca.

No algodão, a crise de demanda "podia ter sido pior", analisa Rosemeire dos Santos. Para 2010, a margem por saca deve ficar negativa em R$ 9 em Mato Grosso.

Mesmo com projeções limitadas, está no horizonte a aceleração das exportações e a redução dos estoques de milho, além da elevação na demanda dos Estados Unidos, o que deve contribuir para melhorar os preços. A Conab prevê margem negativa para o milho de R$ 6,10 por saca em Mato Grosso e positiva eme R$ 2,52 em Goiás.

No arroz, a quebra do Rio Grande do Sul também deve ajudar as cotações, já que os estoques serão menores. Por enquanto, a margem é negativa em R$ 1,99 por saca no Estado. No algodão, a redução da área plantada e a retomada da demanda já elevou os preços futuros. "A nova safra será grande, mas com fatores climáticos complicados. A demanda deve ficar em alta, mas o dólar tende a se desvalorizar. Estamos, ainda, numa encruzilhada", resume Rosemeire dos Santos, da CNA.