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Capital estrangeiro troca projetos por usinas já construídas

28 outubro 2009 - 00h00Por Folha de São Paulo

Segundo especialista da USP, participação de investidor externo cresce, mas sem dominar setor

GITÂNIO FORTES

Uma boa e uma má notícia para o setor de açúcar e álcool no Brasil. A boa: o investimento de multinacionais mostra que os fundamentos para o segmento são consistentes para os próximos anos. A má: ao contrário do que se esperava, o capital externo não vem para o chamado "green field", o campo verde, os novos projetos. Fica no "brown field", o campo marrom, usinas já construídas.
Essa é a avaliação de Marcos Fava Neves, professor de estratégia da USP-Ribeirão Preto, que coordenou o estudo "Mapeamento e Quantificação do Setor Sucroenergético", divulgado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
"As multinacionais tinham projetos para novas usinas, mas os investimentos migraram para unidades estabelecidas."
Se o investimento viesse como "green field", os benefícios se espalhariam por outros elos da cadeia produtiva, a partir do setor de bens de capital -máquinas e equipamentos que servem para a produção de outros bens, afirma Neves.
Isso não ocorreu por causa da crise dos últimos anos, em que vários grupos nacionais investiram de forma arrojada, esperando uma demanda internacional por biocombustíveis que não se consumou. Os preços também não colaboraram. O agravamento da crise internacional em 2008 asfixiou o crédito e deixou as empresas com margem financeira limitada.
A consultoria KPMG apurou que, de 2000 a setembro deste ano, o setor de açúcar e álcool contou com 99 fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras. Apenas nos últimos três anos, foram 45, sendo 22 negócios de empresas de capital estrangeiro adquirindo unidades de capital brasileiro estabelecidas no país.

Comparação
Mesmo com o avanço da consolidação, Neves avalia que a participação estrangeira, que não chega a 20%, ainda é muito baixa no setor. "A questão da concentração está longe de ser preocupante." Ele compara com a indústria de suco de laranja. "Uma usina e uma fábrica exigem investimento semelhante, da ordem de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. Enquanto existem 15 fábricas de suco, há mais de 400 usinas." Ele prevê que, até o fim da próxima década, investidores de outros países terão até 40% do setor sucroenergético.
Segundo José Rezende, sócio da PricewaterhouseCoopers, é natural que esse processo de consolidação continue.
Um universo de 400 a 450 usinas no país é controlado por 140 a 160 grupos, estima. Segundo ele, a participação estrangeira no setor é de 15%. Eram 12% há quatro anos.
Com o bom momento do mercado de açúcar, causado pelas quebras de safra na Índia, e com a demanda firme por álcool combustível por causa da frota flex, as empresas brasileiras ganharam dois anos de fôlego. Esse impulso, porém, não deve ser suficiente para companhias do setor replicarem a experiência de internacionalização de frigoríficos. "O espaço para a influência do etanol brasileiro se limita à América Central e à África, no futuro."