A baixa remuneração do litro de leite há muito é a principal reclamação dos produtores de Mato Grosso do Sul, mas hoje em dia são menos os que reclamam. Não é porque a indústria está pagando melhor, isso é reflexo do abandono da atividade em função do valor que é pago. Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que em dez anos 5.609 produtores deixaram o ramo no Estado. A pesquisa traz dados entre 1996 e 2006.
No Brasil o número dos que abandonaram a pecuária leiteira também aumentou, em 1996 eram 1,81 milhão, em 2006 apenas 1,34 milhão.
Piorando a situação, os produtores têm de enfrentar a concorrência com o leite importado da Argentina e do Uruguai. De janeiro a julho, o país exportou 45,3 mil toneladas (US$ 109,9 milhões) e importou 81,9 mil toneladas (US$ 290,6 milhões). Esta situação motivou, no mês passado, uma comissão de parlamentares pedir ao ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinto Guimarães, que adote meditas para proteger o setor leiteiro.
De acordo com o professor André Rozemberg Peixoto Simões, zootecnista da Mcs Economia Aplicada, atualmente, a única forma de se ter lucro com o leite é produzi-lo no sistema intensivo - e não passa de 5,1%-, porém, no Estado, esse modelo representa apenas 10% do total de produtores. A maioria deles é de assentados que tem na produção familiar sua fonte de sustento.
Enquanto uma vaca, em sistema intensivo, produz em média 17 litros de leite por dia, no modelo extensivo essa quantidade cai para apenas 6 litros. Entre os fatores que causam a baixa produtividade, a produção estadual apresenta certas características que não colaboram para que este quadro mude.
“Apesar de ter um dos maiores rebanhos do país, aqui existe a predominância de genética de gado de corte. Há também um sistema misto de produção -leite e carne-, baixa especialização da atividade, manejo de pastagens inadequado. Tudo isso faz com que Mato Grosso do Sul produza menos de mil litros/hectare/ano”, resume.
Aliado a esses fatores ainda pode ser incluso a falta de informações gerenciais das propriedades e ainda a Escassez de técnicos capacitados para realizar a transferência tecnológica apropriada à produção de leite.
Pode ser diferente - Contudo, apesar de haver um horizonte de dificuldades e clima de desânimo entre os produtores, para reverter esse quadro, conforme Simões, é muito simples. Pois a tecnologia para isso já existe, portanto não se necessita investir dinheiro nesta área.
“Podemos citar ainda que a produção de leite é uma atividade altamente atrativa, principalmente para pequenos produtores, e tem capacidade de concorrer e conviver com outras culturas de alta rentabilidade”, acrescenta.
Mesmo com uma situação atual desfavorável, Simões acredita da atividade e lembra que é praticada principalmente por pequenos produtores de economia familiar e, portanto, tem alto impacto social na geração de renda e emprego no campo.
Nos Estados Unidos, houve uma profissionalização do setor leiteiro que resultou em rebanhos menores e maior produção. Em 1950, existiam 3,5 milhões de produtores, 22 milhões de vacas que produziam 53 bilhões de litros de leite por ano. Em 2001, número de produtores caiu vertiginosamente para meros 83 mil, 9 milhões de vacas e a quantidade de leite pulou para 76 bilhões de litro ao ano.