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Bacia do Rio Paraguai deve ter temperatura mais alta

11 setembro 2010 - 00h00Por MS Notícias

A etapa de debates do ADAPTCLIM – Os desafios da mudança climática e da adaptação em bacias tropicais, evento que teve como sede a capital do Paraguai, Assunção, encerrou-se na quinta-feira, 9, onde pesquisadores do Brasil, da Bolívia, da Argentina e do Paraguai trocaram informações que podem antecipar como a natureza vai reagir no futuro.

De acordo com as discussões, uma das alterações está no clima. Segundo o INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a temperatura média na região deve aumentar em pelo menos 2 graus até o fim deste século. Haverá períodos de chuva com maior possibilidade de grandes inundações e os períodos de seca com cada vez menos água, e as adaptações vão ter que ocorrer em todas as áreas.

Na Argentina, o rio Bermejo, um dos alimentadores do rio Paraguai, já é considerado o segundo no mundo em produção de sedimentos que vem da erosão. Pela vulnerabilidade da situação o rio já possui treze estações de monitoramento ao longo dos cerca de 1.300 Km, montadas por meio de um projeto bi-nacional, já que a nascente fica na Bolívia. Outra área que deve sofrer com as alterações climáticas é a agricultura. Os pesquisadores apontam para a necessidade de intensificar os estudos para a descoberta de novas variedades de plantas que sejam mais resistentes as estas variações. Na Argentina, o professor e pesquisador do IRD – Instituto francês de pesquisa para o desenvolvimento, Jean Philippe Boulanger, coordena um trabalho investigação de culturas nativas que envolve os próprios agricultores. “São eles que conhecem as plantas e essa troca de informações entre o conhecimento popular e a ciência vai permitir que possamos avançar na identificação e classificação das espécies que vão garantir a produção de alimentos no futuro.” Projeto semelhante foi implantado em Santa Catarina, pela pesquisadora Michelle Bonatti. Com o apoio dos agricultores foi possível identificar, classificar e difundir a semente de milho crioulo, que é muito mais resistente e adaptada à região. “Hoje os agricultores promovem até a festa do Milho crioulo na região onde eles trocam as sementes que eles mesmos produzem, então tem um processo de autonomia, de participação, de construção social e de estratégia muito importante.” A saúde é um segmento que também exige maior atenção das autoridades, segundo os pesquisadores. Um estudo apresentado pela pesquisadora do Centro de Desenvolvimento da Ciência, Antonieta Rojas, mostra a relação do aumento da temperatura e da precipitação pluviométrica com doenças como a dengue e a malária. Há uma tendência constatada pelos números dos últimos dez anos, de aumento destas doenças nos períodos em que o verão foi mais intenso e choveu mais no Paraguai.

"Isto é um alerta significativo que deve ser levado em conta na hora de traçar políticas públicas", afirma Rojas. A situação no Brasil não é diferente. O pesquisador da FIOCRUZ, Ulisses Confalonieri, disse que essa vulnerabilidade da saúde diante das mudanças climáticas deve implicar necessariamente num reforço dos investimentos em hospitais, no atendimento ambulatorial e principalmente no combate ao mosquito aedes aegypti, o transmissor da dengue. E ele vai além, "não adianta também só investir nesta área, é fundamental melhorar o saneamento básico na periferia dos grandes centros para prevenir as doenças." Moradias Adaptadas “A construção civil também deve se adaptar às mudanças climáticas”. A afirmação é da arquiteta Beatriz Franco Paats da Universidade Columbia del Paraguai.

De acordo com ela, estas mudanças devem começar pelas áreas ribeirinhas. Em vez de transferir as famílias atingidas pelas cheias, o que significa mais custo para o Estado, é preciso começar a pensar numa elevação das casas com uma estrutura sólida, para suportar o período de cheias sem o transtorno de deslocamento. A arquiteta também sugere a edificação de casas mais arejadas com maior circulação de ar e aproveitamento da luminosidade natural para os períodos de calor intenso. Outra sugestão é o aproveitamento de matéria prima local para reduzir o gasto com combustível e energia para o deslocamento. Beatriz, que também coordena um Centro de Análise para o desenvolvimento Ambiental Urbano, está implantando um projeto inovador em Assunção: o uso de baterias usadas na construção civil. Oficinas Construtivas Divididos em grupos os pesquisadores também participaram de várias oficinas.

Uma delas usou a técnica do RPG para desenvolver a criatividade das pessoas em situações críticas. No jogo foram simuladas situações hipotéticas como uma grande inundação, epidemias e secas extremas. Os participantes tinham poucas informações sobre a dimensão do problema. A tarefa era criar estratégias de ações imediatas para socorrer a população e minimizar os impactos sociais, econômicos e sobre a saúde das pessoas. Para Erlon Bispo, do ICV - Jardim Vitória de Cuiabá, é fundamental se preparar para situações de emergência. “Gostei muito, este tipo de atividade nos permite dar uma resposta mais rápida quando houver necessidade”. O Futuro é Agora O ADAPTCLIM foi promovido pelo projeto SINERGIA, financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e coordenado pelo CPP – Centro de Pesquisas do Pantanal com sede em Cuiabá. Para o coordenador do projeto, professor da UFMT, Pierre Girard, esta etapa do trabalho foi muito proveitosa, não só pela qualidade dos trabalhos apresentados, mas também pelo envolvimento dos países que fazem parte da bacia do rio Paraguai e pelo nível dos debates.

Também foi possível perceber o empenho dos pesquisadores em mostrar para a sociedade que, mais importante do que antecipar o que vai acontecer no futuro, que mudanças climáticas vão ocorrer, é promover uma mudança de comportamento hoje. “A imprensa nos mostra todo dia o quanto avançam o desmatamento, a devastação provocada pelas queimadas e o uso indevido do solo e da água. O futuro é agora, temos que começar já a tentar mudar este cenário,” alerta Girard