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Aumento da demanda provoca uma "Revolução no leite"

03 outubro 2011 - 13h19Por GR

A Agrindus não para. Em três turnos, as 1.400 vacas puro sangue holandês produzem, em média, 32 litros por dia em sessões que duram sete horas. É só multiplicar: são cerca de 45 mil litros ao dia, 1,344 milhão no mês, e uma enxurrada no ano, mais de 16 milhões de litros. “Nos pequenos intervalos entre as ordenhas, é feita a limpeza das tetas dos animais e das instalações. Aqui não há descanso”, afirma Roberto Jank Júnior, de 46 anos, agrônomo e um dos proprietários da Agrindus S/A, fazenda de Descalvado, no interior de São Paulo, que completou 66 anos e virou referência em termos de tecnologia e alta produtividade na exploração leiteira.

A propriedade dos Jank ocupa o segundo lugar entre os maiores produtores do Brasil - fica atrás só da Bela Vista, que pertence ao “rei do leite”, o mineiro Olavo Barbosa, que capta 23 milhões de litros ao ano.

São fazendas de grande porte, como a Agrindus, junto com as de tamanho médio, as responsáveis por quase 80% do leite produzido no Brasil, que alcançou 30,5 bilhões de litros em 2010. Segundo Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, seus proprietários representam 11% dos criadores de gado de leite. A tendência, aposta o dirigente, é que a concentração da produção cresça ainda mais.

“Há, hoje, 1,2 milhão de produtores, entre grandes, médios e pequenos, número que deve cair para 600 mil nos próximos quatro a cinco anos. O setor vai se profissionalizar, até porque a indústria paga melhor pelo leite de ótima qualidade e o consumidor tornou-se mais exigente. Essa mudança em busca da excelência é lenta, mas virá”, diz Rubez.

E dos 30,5 bilhões de litros de 2010, o que torna o Brasil o sexto maior produtor mundial, cerca de 20% são provenientes dos chamados informais, que não possuem tecnologia e tiram leite de vacas de baixa produtividade. “A exclusão se dará nesse segmento, pois o consumidor percebeu que é um produto até perigoso para a saúde. Além disso, eles não terão como concorrer num mercado altamente competitivo, que trabalha com margens pequenas”, afirma Rubez. Ele lembra que o Brasil chegou a ter 1,8 milhão de criadores. “O enxugamento é inevitável. O número de grandes e médias propriedades deve saltar de 11% para mais de 50% em cinco anos.”

Historicamente cheia de altos e baixos e misturando nichos de alta tecnificação com outros de manejos rudimentares, a atividade leiteira, no entanto, cresce. De 1980 a 2010, a produção brasileira triplicou e anualmente o país aumenta de 4% a 5% o volume recolhido. “Isso significa 1,5 bilhão de litros. É um crescimento fantástico, talvez o maior do mundo”, ressalta Roberto Jank. Além disso, o mercado de lácteos faturou, em 2010, R$ 44,5 bilhões no país – 17,1% a mais em relação aos R$ 38 bilhões de 2009. Ficou atrás apenas da carne e do açúcar, cujos resultados são engordados pelas exportações, enquanto o leite, predominantemente, abastece o mercado interno, com 99% de suas receitas originadas no Brasil. Há previsão de acréscimo na litragem e no faturamento agora em 2011, apesar dos problemas climáticos.

Especialistas entendem que o leite vive uma fase de transição. “Não se justifica mais trabalhar sem eficiência. Vêm aí transformações profundas”, diz Marcelo Carvalho, analista de mercado do MilkPoint. Segundo ele, a tendência é que fazendas como a Agrindus aumentem a produção e, ao mesmo tempo, que os pequenos pecuaristas que permanecerem ativos se profissionalizem. Carvalho cita como exemplo os fazendeiros que aderiram aos “bem-sucedidos” projetos Balde Cheio, da Embrapa de São Carlos, e Educampo, do Sebrae, coordenado pelo professor Sebastião Teixeira Gomes, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. “Eles foram resgatados da margem e inseridos no mercado junto com suas famílias”, diz Carvalho.