País terá de importar cerca de 6 mi de toneladas; como a Argentina também tem tido problemas, maior parte deve vir de fora do Mercosul Os produtores de trigo responderam aos incentivos do governo e a safra nacional deste ano voltou a ser boa, superando 5 milhões de toneladas. Um bom volume, mas que não irá todo à mesa dos brasileiros porque o excesso de chuva na reta final da colheita depreciou a qualidade do trigo. Na avaliação do mercado, pelo menos 2 milhões de toneladas não têm padrão suficiente para o consumo humano e deverão ir para ração. Para o gerente comercial da ADM no Brasil, Carsten Wegener, cerca de 800 mil toneladas do trigo de baixa qualidade ainda podem ser exportadas, uma vez que tradicionalmente há demanda pelo produto por países do norte da África. Um dos participantes do leilão de trigo do governo na semana passada já vendeu o cereal arrematado para Bangladesh e para países da África. A má qualidade do trigo brasileiro e os atuais problemas vividos pela Argentina, tradicional fornecedora brasileira, vai forçar o país a buscar mais trigo fora do Mercosul. Luiz Martins, da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), diz que pelo menos 40% do trigo do Paraná foi prejudicado pela brusone -doença provocada por um fungo que reduz o rendimento e a qualidade do trigo. Neste cenário, o país teria pouco mais de 3 milhões de toneladas resultantes da safra 2009/10. O volume, acrescido dos estoques governamentais, elevaria a oferta total de trigo para 4 milhões. "Ainda faltam 6 milhões para completar a demanda interna", diz Martins. As importações da Argentina ainda são uma incógnita. O presidente da Câmara Arbitral da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Javier Bujan, disse sexta-feira, em seminário da Abitrigo, que "as perguntas são muitas sobre o setor na Argentina, mas ainda não há respostas". A Argentina, que produziu 16,8 milhões de toneladas há duas safras, deve obter apenas 8 milhões neste ano. Bujan acredita que a oferta exportável possa chegar a 3 milhões. Mas os problemas na Argentina -tanto seca como retenções do governo- estão incentivando outros países do Mercosul a plantar trigo. Uma das principais áreas de crescimento ocorre no Uruguai. Gonzalo Souto, do Escritório de Programação e Política Agropecuária do Ministério de Agricultura do Uruguai, disse que o país deverá produzir 1,8 milhão de toneladas neste ano, tendo saldo exportável de 1,3 milhão -80% desse volume deverá vir para o Brasil. A produção cresce também no Paraguai, mas parte do trigo teve os mesmos problemas do produto brasileiro. Apesar disso, Marcos Villalba, do Ministério de Agricultura do Paraguai, diz que o país tem pelo menos 500 mil toneladas que podem ser exportadas para o Brasil. Diante desses números, o Brasil terá de importar de 2,5 milhões a 3 milhões de toneladas de fora do Mercosul, segundo o mercado. Os números de José Maria dos Anjos, do Ministério da Agricultura, ficam entre 1,5 milhão e 2 milhões.