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Propostas para alavancar agricultura familiar marcam 1ª Câmara Participativa na 79ª Expogrande

06 abril 2017 - 22h30Por Paulline Carrilho e Jeozadaque Garcia
Propostas para alavancar agricultura familiar marcam 1ª Câmara Participativa na 79ª Expogrande

O Auditório da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) ficou lotado na noite desta quarta-feira (5) com a realização da 1ª edição do Projeto "Câmara Participativa", que levou os trabalhos legislativos até a 79ª Expogrande, para debater Políticas Públicas para o Agronegócio.

A Câmara Participativa foi o primeiro evento externo da Câmara Municipal de Campo Grande a ser transmitido ao vivo pelo Facebook, permitindo que toda a população pudesse acompanhar em tempo real as discussões e propostas apresentadas no evento, que reuniu autoridades e cidadãos ligados ao setor do agronegócio e da agricultura familiar.

Na abertura do evento, o presidente da Acrissul, Jonatan Pereira Barbosa apresentou uma proposta para o setor, sugerindo aos parlamentares a criação de um cinturão verde na Capital. "Estamos aqui para lembrar que Campo Grade é muito importante também na área rural, somos uma cidade conhecida no Brasil como cidade da agropecuária. Cuidem bem de Campo Grande, queremos saber da Campo Grande rural, por isso convidamos a Câmara, que recebe hoje meu muito obrigado e de toda nossa sociedade rural. Quero sugerir uma proposta suprapartidária para criar um cinturão verde em Campo Grande. Uma Capital como a nossa, importar hortifruti é uma vergonha pra nós, com terras tão férteis, com agricultura familiar tão forte. Está faltando vontade política, prefeito concordou em implantar. Os vereadores são os legítimos representantes do povo. Campo Grande deve muito a vocês, contem com a Acrissul, contem com os produtores rurais e com a Campo Grande rural", afirmou.

O diretor executivo da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Lucas Galvan destacou que o Estado importa 70% dos hortifruti que consome. Quero trazer um outro tema importante para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o agronegócio. Existe uma mudança constante do uso e ocupação do solo. Em 2009, fizemos um projeto de monitoramente das atividade agrícolas, que geram muita renda, muito emprego, tínhamos 13 mil hectares em Campo Grande, uma cidade que tem 800 mil hectares. Em sete anos temos 43 mil hectares. Pouco mais que triplicamos a área produtiva de soja, que era de 5 mil hectares e passou para 16 hectares. Precisamos de investimento em tecnologia. A diversificação da matriz econômica rural exige esse desenvolvimento, que se deu em várias regiões do município, como na divisa com Terenos, Anhanduí, Sidrolândia. Esse desenvolvimento requer infraestrutura e logística para chegar os insumos. A população rural possui as mesmas necessidades da população urbana, também precisam que o transporte escolar chegue às propriedades rurais. A população rural também precisa de assistência de saúde, de assistência social", alegou.

Segundo o diretor presidente da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), Enelvo Felini "a união faz a diferença, quando trabalhamos separados todos perdem. Temos em Campo Grande 132 famílias quilombolas produzindo, outras 50 famílias indígenas. São oito assentamentos ao redor de Campo Grande, com 347 famílias. No total, fora os sitiantes e chacareiros, são 954 famílias no campo, na zona rural. 85% do alimento que chega ao Ceasa e é vendido para o Estado, vem de outros estados. Apenas 15% vem daqui de Campo Grande. Temos que avançar mais e fazer uma grande diferença na agricultura familiar, gerar mais emprego no campo, assegurando renda, segurando o homem no campo. Temos hoje 22 mil toneladas de tomate que chegam por ano em Campo Grade. São mais 19 mil de banana, 19 mil de batatinha. Só três alimentos não podemos produzir aqui, a cebola, a maça e a batatinha. O resto tudo podemos produzir aqui e comprar direto da agricultura familiar. Estamos negociando fornecer alimentos para a Santa Casa, que serve cinco mil refeições por dia. Queremos fornecer só produtos orgânicos, para ajudar a melhorar a saúde dos pacientes. A maioria desse consumo será adquirido ao redor de Campo Grande, diminuindo nossa importação", sugeriu.

O deputado estadual, Herculano Borges, membro da Comissão de Agricultura, Pecuária e Políticas Rural, Agrária e Pesqueira, afirmou que "muito bom poder ouvir esse importante segmento do agronegócio. Ouvir o que o segmento tem de demanda não só para CG mas para nosso Estado. Vamos nos unir para ajudar Campo Grande. Sempre se discute a Campo Grande urbana, sendo que a área rural é muito maior que a urbana, nos colocamos à disposição para intermediar essa questão", disse.

A pequena produtora Jaciara Palermo usou a Palavra para destacar a importância do trabalho desenvolvido pela Agraer no incentivo à agricultura familiar. "Se não fosse a Agraer e os técnicos que estão aqui, se não fosse esse trabalho, não poderíamos estar colocando nossa produção à venda a vista de todos. A população que já está sofrendo, temos como produzir sim, queremos fornecer alimentos orgânicos. Vocês tem força, vontade, garra e foram eleitos pra isso e farão alguma coisa para trazer esses alimentos para a mesa dos cidadão de Campo Grande e também para outros Estados. Não queremos mais ficar deitados em berço esplêndido", salientou.

Já a presidente da Associação Broto Frutos Culinária do Cerrado, Rosa Maria da Silva solicitou aos vereadores ajuda na regularização de documentos dos lotes, que tem dificultado a implantação de agroindústrias pelos pequenos produtores. "Quero discorrer sobre as nossas dificuldades de produção e comercialização. Dificuldades que os quilombolas e a comunidade indígena enfrentam em primeiro lugar, que é o problema documental dos assentamentos e áreas rurais. Muitos não tem documentação pessoal regularizada e nem documentação dos lotes e não consegue instalar uma agroindústria. Não conseguimos fazer a diversificação da produção. In natura dá, mas precisamos agregar valor à produção. Já encontramos no próprio local uma dificuldade. As incubadoras não conseguem trazer todos os produtores pra cá, por falta da regularização dos documentos, do alvará sanitário  e o fiscal barra o produto. Nos falta estrada bem conservada, ponte, ponto fixo para comercializar os produtos diariamente, para que os produtores possam se revezar, precisamos dessa logística de transporte e armazenamento", afirmou.

De acordo com Natal Baglioni, da Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e Agronegócio) "existe instrumento de estatística para se fazer um planejamento como quiser. Se quiser saber o preço da cenoura em 1995, está escrito da Ceasa. Isso está gravado e está no site da Ceasa e todos podem acessar. Temos também aproximadamente 14 assentamentos. Temos uma infraestrutura pronta e cara, pois não é barato fazer assentamento, seja pelo Incra ou pelo crédito fundiário. Essas pessoas estão aí e já mostraram que são capazes de produzir, que podem se organizar. Então hoje, um supermercado grande deixa de comprar na Cooperativa, pois ela não tem condições de fechar contrato por 30 dias, entregar todos os dias os produtos que precisa. Esses produtos que comercializamos e que vem de fora, qual é o problema? Ele tem que ser produzido com qualidade, com preço adequado. O Governo Federal tem instrumentos que podem ajudar muito o pequeno produtor, mas ele tem que se organizar. Tem que ter toda documentação e isso é o Poder Público que pode ajudar. Se não pegar na mão desse pessoal, eles têm dificuldade para entender a legislação, para tirar uma nota fiscal e até com regulamentação da sua área. Mas nós podemos produzir, os instrumentos estão todos na nossa mão. É preciso começar", afirmou.

O gerente de Inspeção e Defesa Sanitária Animal da Iagro, Rubens de Castro Rondon, destacou o papel desempenhado pela Iagro no setor. "A Iagro é responsável por manter a sanidade do rebanho de Mato Grosso do Sul. A responsabilidade é imensa. Hoje, MS detém, com certeza, o título de melhor produtor, melhor carne do Brasil. A agricultura não foge disso: a soja, o algodão, o milho, além da qualidade, tem uma participação muito grande. Todos sabem que o agronegócio em MS tem uma participação gigantesca na balança comercial do Estado. A Iagro, às vezes, tem uma imagem não muito amigável aos olhos do produtor e do pequeno produtor. Temos trabalhado muito no sentido de educação. Fazemos educação sanitária orientando a forma correta de iniciar um cultivo ou criação de animais. Nesse sentido, mantemos a condição sanitária de MS. Hoje, estamos há 11 anos sem foco de febre aftosa. Não sei se todos tem noção da dimensão do prejuízo que um foco de doença causa à economia do Estado. Não só o efeito de baixa financeira, mas social. É um problema gigantesco para o Estado. Se MS hoje tem essa condição sanitária, tem a carne mais requisitada pelo mundo afora, isso, em grande parte, se deve ao trabalho da Iagro em conjunto com os produtores. É uma responsabilidade compartilhada", afirmou.

Em seu pronunciamento, o superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Antonio Castro Vieira, afirmou que "parabenizo por essa Câmara Participativa, pois através de sessões como essa conseguimos visualizar um pouquinho além, sair da cadeira e enxergar o que está lá fora. Hoje, estou à frente de um órgão que tem tudo a ver com isso que nos conversamos. Muitas vezes o Ibama é visto como aquele órgão repressor. É comum se falar que o Ibama apenas multa. Nós estamos fazendo exatamente um trabalho, levando esse órgão até o homem do campo. A prova disso é cada uma das visitas do nosso governador até os produtores. Eu, pessoalmente, tenho feito visitas. Quando temos um ilícito, um erro, ele vai multar, vai autuar, mas também temos a obrigação de orientar. O Ibama deve ser parceiro e estamos fazendo o possível para que sejamos parceiros, sim, da população. A nossa vocação é proteger o meio ambiente. Quem protege o meio ambiente não é o Ibama, quem protege são os senhores. Os produtores rurais, as pessoas que estão lá no campo, mas são também aqueles que estão aqui na cidade. Estamos de portas abertas, à disposição", destacou.

O presidente da Câmara Municipal, vereador Prof. João Rocha destacou que foram colhidos durante a 1ª Câmara Participativa, 20 pontos que poderão ser transformados em indicações a serem encaminhadas ao Executivo. "Tudo graças a presença de vocês. É o nosso feito para com segmento e com a sociedade. Temos vontade política de fazer melhor, de honrar a confiança que nos foi depositada nas eleições. Quero destacar o quanto foi rica essa nossa sessão, aprendemos muito, temos muito material para trabalhar", disse o chefe do Poder Legilativo.

A 1ª edição da Câmara Participativa contou ainda com a presença do secretário municipal de saúde, Marcelo Vilela e do secretário da Sedesc, Mário Inácio Ocampos Bernobic, além dos vereadores Prof. João Rocha, Carlão, Gilmar da Cruz, Ademir Santana, Lucas de Lima, Ayrton Araújo do PT, Otávio Trad, Junior Longo, Vinícius Siqueira, Enfermeira Cida Amaral, Odilon de Oliveira, João César Mattogrosso, Dharleng Campos, William Maksoud, Chiquinho Telles, Cazuza, Pastor Jeremias Flores, Wilson Sami, Papy, Wellington, Francisco Veterinário e Valdir Gomes.