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Agricultura

No Brasil nasce uma nova fronteira agrícola

27 junho 2011 - 11h18Por Globo Rural

O estado de São Paulo, que figura entre as mais importantes regiões agrícolas do país, com Valor Bruto da Produção (VBP) projetado em R$ 29,8 bilhões neste ano, pode ganhar novas áreas para expansão das plantações que já lideraram o crescimento de sua agricultura nos últimos anos, a exemplo da cana-de-açúcar e da seringueira.

É o que indica um estudo realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura, que mostra que, até 2030, cerca de 2,8 milhões de hectares de pastos serão ocupados por canaviais, eucaliptos e seringueiras. “Poderá ser criada uma nova fronteira agrícola no estado nas próximas décadas”, diz o pesquisador Mário Pires de Almeida Olivette, organizador do estudo. O termo “nova fronteira agrícola”, na concepção de Olivette, não é empregado no sentido de desbravar novas áreas, mas sim para reforçar a ideia de melhoria da eficiência das áreas que já foram desbravadas. “Quando digo que estamos abrindo novas fronteiras no estado de São Paulo significa que estamos melhorando os índices de conhecimento e de produtividade das áreas agrícolas que já existem, mas que atuam com baixo desempenho”, diz o pesquisador.

O documento Evolução e prospecção da agricultura paulista: liberação da área de pastagem para o cultivo da cana-de-açúcar, eucalipto, seringueira e reflexos na pecuária, 1996—2030 foi originado a partir das dúvidas sobre o fato de o cultivo de cana-de-açúcar estar avançando sobre a produção de alimentos. “Os resultados nos mostraram que o avanço da cana se dá sobre áreas degradadas e que não só os canaviais, mas também o eucalipto e a seringueira avançam sobre as pastagens utilizadas de maneira sofrível. A pecuária perde área, mas ganha eficiência”, avalia Olivette. O mapeamento da agricultura paulista, iniciado em 2010 e concluído no início deste ano, contou com a elaboração de um extenso relatório, que foi enviado para as 645 casas de agricultura do estado.

A partir da resposta a esses relatórios identificou-se que 30% das áreas de pastagem em 2008 eram degradadas, o que gera a disponibilidade dos 2,8 milhões de hectares. Com esse resultado em mãos, foram feitas projeções de crescimento da demanda para 20 e 25 anos em modelos com perspectivas semelhantes à taxa histórica e à taxa otimista e de que forma essa demanda impactaria na procura por área para plantios. “A conclusão é que a concorrência entre cana, seringueira e eucalipto pelas áreas que serão abertas pelo adensamento da pecuária será grande, mas a borracha é a cultura que tem potencial para avançar mais”, avalia Olivette. ”O mercado está forçando a pecuária a se mexer, e isso vai promover o rearranjo na produção agrícola do estado de São Paulo”, avalia Felipe Pires de Camargo, um dos pesquisadores do estudo. Em 2008, de acordo com o estudo, a pecuária ocupava 8,07 milhões de hectares no estado.

Já o plantio de cana usava 4,9 milhões de hectares, enquanto o eucalipto demandava 860 mil hectares e a seringueira 77 mil hectares. No horizonte traçado pelos pesquisadores, em 2030 a área de pastagens terá caído para 5,27 milhões de hectares, a cana estará disputando um espaço entre 5,33 milhões e 6,8 milhões de hectares, o eucalipto poderá alcançar entre 1,4 milhão e 2,7 milhões de hectares e as seringueiras estarão com área de cultivo entre 300 mil e 400 mil hectares. Caso as previsões do estudo se confirmem, a área de cana poderia aumentar até 38,8%, a de eucalipto 214% e a de seringueiras até 419,5%. “É preciso considerar as tendências de alta das demandas no período também do desenvolvimento de novas tecnologias nas respectivas cadeias de produção”, ressalta o pesquisador. O estudo indica que o campo paulista não ficará estagnado, apesar das poucas áreas virgens passíveis de ser abertas no estado.

A notícia vem em boa hora, uma vez que dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que o Mato Grosso pode tirar de São Paulo a liderança no ranking dos estados com maior Valor Bruto da Produção (VBP). O VBP mato-grossense previsto para 2011 é de R$ 33,41 bilhões, com expansão de 54,94% em relação aos R$ 21,38 bilhões de 2010, enquanto São Paulo deve registrar queda de receita de 9,56%, com o VBP passando de R$ 32,99 bilhões, no ano passado, para R$ 29,81 bilhões.

O VBP é calculado com base na produção e nos preços de mercado das principais lavouras do Brasil e de cada estado. Em Mato Grosso, 80% virão somente de duas culturas: soja, com VBP previsto de R$ 15,58 bilhões, e algodão, com VBP em R$ 13,19 bilhões. Já em São Paulo, a safra menor de cana-de-açúcar deve contribuir para a queda projetada para o período. Participaram do estudo do IEA os pesquisadores Mário Pires de Almeida Olivette, Eduardo Pires Castanho Filho, Raquel Castellucci Caruso Sachs, Katia Nachiluk, Renata Martins, Felipe Pires de Camargo, José Alberto Ângelo e Luiz Henrique Domicildes Câmara Leal Oliveira.