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ENTREVISTA

Novo presidente da Aprosoja-MS não projeta números recordes para a atual safra

Jorge Michelc falou sobre os desafios enfrentados pelos produtores rurais, principalmente, em decorrência das intempéries climáticas

22 janeiro 2024 - 10h59Por Correio do Estado

O produtor rural, contador e empresário de Chapadão do Sul Jorge Michelc assumiu a presidência da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) no início deste ano. Eleito por unanimidade em novembro de 2023, Michelc estará à frente da instituição durante o biênio 2024-2025.

Em entrevista ao Correio do Estado, Jorge Michelc fala sobre a importância e o desafio de representar os produtores de soja e milho em Mato Grosso do Sul. O presidente da Aprosoja-MS aborda as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, principalmente, as intempéries climáticas, como grandes períodos de escassez hídrica, chuvas esparsas e ondas de calor trazidas pelo fenômeno El Niño.

Como consequência, o novo presidente da instituição aponta que para a safra 2023/2024 a expectativa para a soja é de uma quebra de quase 14% na produtividade por hectare. O produtor ainda discorre sobre os preços baixos que o produtor de grãos tem enfrentado na hora de comercializar sua produção. Além disso, fala sobre o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia para os fertilizantes aqui utilizados e sobre a demanda interna e externa da produção agrícola de Mato Grosso do Sul. 

Primeiramente, gostaria de saber quais os desafios para esse biênio à frente de uma das principais entidades representativas dos produtores do Estado?

Representar os produtores de soja e milho de um estado com tamanha relevância para a produção nacional é um grande desafio. Nosso objetivo é trabalhar para que os interesses da classe produtora continuem sendo alcançados de forma sustentável na esfera técnica, econômica, ambiental, política e social.
 
Falando efetivamente de produção local, temos uma projeção de 13,818 milhões de toneladas para a safra de soja 2023/2024. Você acredita que o Estado realmente consiga chegar a esses números, mesmo com o replantio de algumas áreas, atraso no plantio e efeitos do El Niño? 

O Siga MS[Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio] trabalha com estimativas baseadas em dados históricos das safras, considerando os últimos cinco ciclos. Para esta safra, apesar das condições adversas do clima, como deficit hídrico, altas temperaturas e necessidade de replantio em algumas áreas, até o momento, ainda trabalhamos com a estimativa média inicial de 54 sacas [de soja] por hectare em 4,2 milhões de hectares, totalizando as projeções de 13,8 milhões de toneladas. 

Apesar de uma produtividade menor, a área de soja deve ser maior em MS. Podemos esperar uma supersafra novamente? Quais as perspectivas?

Não. Assim como nos demais estados produtores e mesmo com acréscimo de 6,5% na área de cultivo, nesta safra não devemos ter números recordes. Esperamos atingir a estimativa inicial, que já considera uma quebra de quase 14% por hectare [saca por hectare] e 8% na produção total [toneladas], em relação à safra 2022/2023. 

Por que, mesmo com a estimativa de redução na produção nacional (quebra de 4,2%, segundo a Conab), o preço da saca tem se mantido tão baixo?

A estimativa de redução de produção da soja é referente à safra 2023/2024. O preço atual em queda diz respeito à comercialização da safra de soja 2022/2023, que foi uma safra com produção recorde, gerando excesso de oferta no mercado de grãos e pressionando os preços atuais. No entanto, segundo os dados da Stonex, o Brasil já comercializou 93% da safra 2022/2023 e 28,4% da safra 2023/2024. Caso a estimativa de quebra da safra 2023/2024 se concretize, a tendência é de que os preços voltem a melhorar no médio e longo prazos. Esse comportamento também depende das estimativas de produção de soja dos principais países produtores do grão. Segundo o USDA, a projeção de produção da soja dos EUA [safra 2023/2024] está estimada em 113,3 milhões de toneladas, da Argentina, em 50 milhões de toneladas, da China, em 20,3 milhões de toneladas, e do Brasil, maior produtor mundial, 157 milhões de toneladas, gerando uma expectativa de produção mundial de 399 milhões de toneladas. Como a produção de soja do Brasil representa quase 40% da produção mundial, a tendência é de que, caso haja quebra de safra brasileira, os preços internacionais voltem a crescer.
 
Há uma projeção de que falte potássio no mercado mundial, caso a guerra entre Ucrânia e Rússia continue. Isso pode trazer prejuízos para a produção de Mato Grosso do Sul?

Não se vislumbra risco para o desabastecimento do composto NPK [nitrogênio, potássio e fósforo]. Mesmo com a guerra entre Ucrânia e Rússia, as importações de fertilizantes cresceram. Em 2023, o Brasil importou 40,9 milhões de toneladas, resultado 7,48% superior ao volume comprado em 2022. Mato Grosso do Sul apresentou o mesmo comportamento, houve aumento de 6,47% nas importações de fertilizantes, que totalizaram 1,3 milhão de toneladas em 2023. Não houve e não haverá prejuízos para a produção de MS.

A demanda por milho e soja no Estado para suprir a necessidade das agroindústrias tem aumentado e o mercado exportador deve seguir como grande comprador. Queria que você comentasse sobre esse novo perfil comprador. Como ele agrega à produção rural e quais as perspectivas de a produção acompanhar essa demanda mais forte por grãos?

Segundo os dados da Secex [Secretaria de Comércio Exterior], a China é o principal país importador do complexo de soja e se tornou, em 2023, o maior importador de milho de MS. Somente no ano passado, a China importou de MS mais de 5 milhões de toneladas do complexo soja e 1,06 milhão de toneladas de milho. A partir desse cenário, a tendência é de que tanto a China quanto os demais países importadores de commodities agrícolas continuem demandando soja e milho de Mato Grosso do Sul, visto que as economias desenvolvidas e emergentes estão se recuperando da crise financeira e estão reduzindo as taxas de juros. Essa redução favorece o aquecimento das economias, e, por conseguinte, a tendência é de aumento das importações, em especial, a importação de commodities agrícolas, como soja e milho. Isso porque boa parte da nutrição animal e do consumo humano utiliza a soja e o milho como componentes nutricionais. Sobre a perspectiva interna, a demanda por grãos em MS está aquecida, muito por conta das indústrias esmagadoras de soja e das indústrias de processamento de milho para produzir etanol. Em Dourados, já está em operação a Inpasa, que consome 1,8 milhão de toneladas de milho por ano, com 460 milhões de toneladas de DDGS [coprodutos da produção do etanol do milho], e tem capacidade de produção de 900 milhões de litros de etanol por ano e 44 mil toneladas de óleo de milho. A Inpasa divulgou recentemente a construção de uma indústria filial na cidade de Sidrolândia, ampliando ainda mais a demanda. Ainda tem a Neomille S.A., em Maracaju, que está em construção e terá capacidade de consumo de 1,2 milhão de toneladas de milho por ano, com capacidade de produção de 537 milhões de litros de etanol por ano e 1.086 toneladas de DDGS e óleo de milho por dia. Com a demanda aquecida com as agroindústrias, em especial a de milho, a tendência é de que parte significativa da produção seja consumida localmente.

Mato Grosso do Sul tem potencial para produzir outras culturas, além de soja e milho. Há algum interesse dos produtores em investirem mais na rotação de culturas?

A adoção de culturas alternativas é sempre uma boa opção para o produtor rural, em termos agronômicos, já que a partir desta prática é possível interromper o ciclo de desenvolvimento de insetos-praga, plantas invasoras e organismos patogênicos, além de favorecer a estruturação física e biológica do solo. Contudo, devem ser considerados aspectos de mercado como a demanda ou os compradores e a cotação dos produtos. Um exemplo dessa diversificação de produção já vem ocorrendo aqui em Mato Grosso do Sul, onde, na última safra, foram cultivados 216 mil hectares de sorgo, ocupando 5,4% da área destinada à soja. A cada ano, novas áreas vêm sendo cultivadas, tanto que, para esta safra, a estimativa é de que o sorgo ocupe 7% das áreas de soja. Esse incremento de área ocorre, principalmente, em localidades com altitude reduzida, que é um limitante para a produção de milho. Neste caso, como há demanda de mercado para os grãos, o sorgo tem se mostrado como uma opção em potencial, tanto para melhora do sistema de produção como para fomento do fluxo de caixa.