Do norte ao sul do Paraguai Oriental, a faixa mais próxima da fronteira com o Brasil e onde está localizada quase toda a produção de grãos do país e a maior parte da população, o assunto na área do agronegócio é um só: a conquista do Chaco, a nova fronteira agrícola do Paraguai que está atraindo investidores internacionais, principalmente brasileiros, além dos que já trabalham no país vizinho. Com sua natureza agreste e atravessado por uma única rodovia, a Ruta 9, que liga Assunção à Bolívia, o Chaco ocupa 60% do território paraguaio e é para lá que está se dirigindo toda a expansão da criação de gado que está colocando o país entre os dez maiores exportadores mundiais de carne, com previsão de alcançar 300 mil toneladas em 2012. Para se ter uma ideia, somente entre 2010 e 2011, aproximadamente 500 mil hectares foram transformados de áreas de pasto natural para pasto subtropical e há perto de 4 milhões de hectares em processo de ocupação. O preço da terra tem subido, acompanhando o interesse dos novos colonizadores: há 4 anos o hectare era vendido por menos de 70 dólares e atualmente chega a 200 dólares, o que ainda é muito barato, comparando-se com o Brasil e outras áreas do próprio Paraguai.
Os pioneiros na região foram colonos menonitas, com seus hábitos frugais e a fama de bons fazendeiros, vindos do Canadá, Rússia e Ucrânia e que hoje somam um contingente de 20 mil pessoas na região distribuídas por três centros principais – Neuland, Loma Plata e Filadélfia.
“A terra é fértil, mas os problemas do Chaco vão desde a falta de umidade ao excesso de salinidade, o que para o gado pode ser bom. Além disso, falta infraestrutura e não há como escoar a produção, mas a ocupação é um processo irreversível”, informa Ovídio Zanquet, Diretor Geral da cooperativa paranaense Lar, que está operando há 15 anos no Paraguai, com um faturamento de mais de US$ 140 milhões em 2011.
O Paraguai deve atrair gente de todos os lugares, como aconteceu com o paranaense de São Miguel do Iguaçu, Valdeli da Silva Soares, 62 anos, que desembarcou no país vizinho nos anos 70 com apenas uma enxada e uma foice e a troca de roupa para alguns dias numa sacola. Trabalhando na limpeza de áreas, em quatro anos ele comprou seus primeiros 25 hectares de terra por 300 mil guaranis na localidade de Nova Esperança, a 170 quilômetros de Ciudad del Este, ou o equivalente a pouco mais de R$ 160,00 e um ano depois incorporou outros 25 hectares por 600 mil guaranis. “Hoje a propriedade vale mais de US$ 500 mil e não vendo de maneira alguma”, diz ele que planta soja e milho numa área de 300 alqueires. “Com a seca, minha produção de soja caiu de 135 sacas no ano passado para 85 sacas, mas deu para ter um pequeno lucro”, explica. O seu custo de produção está ao redor de 50 sacas por alqueire, “bem abaixo do que custaria produzir no Brasil”, conclui.