MERCADO PECUÁRIO

Tarifas: impacto para a carne bovina brasileira deve ser limitado e não deve impulsionar exportações

Segundo analistas, corte de 10% deve sustentar preços na B3, mas Brasil segue pouco competitivo e ainda distante de um avanço expressivo nas exportações aos Estados Unidos

18 NOV 2025 • POR Scot Consultoria • 11h41

A redução de 50% para 40% na tarifa aplicada pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira trouxe algum alívio ao mercado, mas o efeito prático deve ser limitado. Apesar do corte de 10 pontos percentuais trazer um ânimo ao mercado, o Brasil continua pouco competitivo diante de concorrentes como Austrália, Uruguai e Argentina. Para analistas, a medida não é suficiente para impulsionar de forma relevante as exportações ao mercado norte-americano.

Publicada na última sexta-feira (14), a ordem executiva do presidente Donald Trump marcou o primeiro recuo tarifário desde o acirramento das disputas comerciais com o Brasil. Antes das tarifas, os EUA eram o segundo maior destino da carne bovina brasileira, com 156 mil toneladas importadas e participação de 12,2% nas exportações totais do país.

No mesmo período, a China respondeu por 49,1% dos embarques. Apesar de representar um gesto diplomático importante, a redução na tarifa aplicada pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira ainda está longe de garantir uma retomada robusta das exportações. A avaliação é de Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, que considera o impacto da medida positivo, porém insuficiente para recolocar o Brasil em posição de plena competitividade no mercado norte-americano. “Com a tarifa em 40%, continuamos menos competitivos do que esses países.

Ainda não é um mercado que o Brasil consiga acessar ativamente. Precisamos ver como as negociações comerciais vão avançar e qual será o nível final dessas tarifas”, explica. Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria, também ressalta que o corte é positivo, porém insuficiente para melhorar de forma significativa a competitividade do Brasil no mercado norte-americano. Segundo Fabbri, a leitura do mercado tende a ser imediata: “Para quem olhar apenas a manchete, a expectativa é de alta na B3 e, de fato, isso deve ocorrer”.

O analista afirma que o noticiário deve estimular um movimento especulativo ao longo dos próximos dias, sustentando os preços tanto no mercado futuro quanto no físico. De acordo com a análise do João Bosco Bittencourt Júnior, Aliá Investimentos, o mercado também está acompanhando as informações da China, que podem trazer informações sobre as salvaguardas.

Fabbri observa desaceleração esperada das compras chinesas, embora ainda em volumes elevados; a possibilidade de Pequim adotar medidas protecionistas; e uma tendência de melhora no consumo doméstico na virada do ano. Segundo ele, esses três fundamentos combinados tendem a reforçar a firmeza do mercado, e os Estados Unidos entram apenas como um elemento adicional de sustentação.

Os contratos futuros na Bolsa Brasileira operam na faixa de R$ 317,00 a R$ 325,00, mas a projeção é de que a arroba encerre o ano próxima de R$ 340,00/@, sustentada por um mercado físico mais firme e por um ambiente externo menos pressionado. Apesar da perspectiva de alta, Fabbri afasta a possibilidade de um salto expressivo nos preços.

Ele projeta que a arroba alcance entre R$ 335 e R$ 340 no ponto máximo de 2025, dependendo do comportamento da demanda interna e das exportações. “A redução tarifária aumenta a especulação, mas não muda a margem da indústria de forma significativa. Por isso, não vemos espaço para explosão de preços nem para a B3 romper as máximas anteriores”, diz, lembrando que o contrato de novembro chegou a operar próximo de R$ 333 no final de outubro e início de novembro.

O analista afirma que apenas a retirada completa da tarifa poderia alterar o quadro de forma decisiva, estimulando compras mais agressivas pelos frigoríficos exportadores e garantindo sustentação mais forte às cotações.