JBS tem margem negativa com bovinos nos EUA e encerra 3º trimestre com lucro 16% menor
Negócio de bovinos do Brasil foi afetado por tarifaço americano, e Seara ainda sentiu impactos dos embargos ao frango brasileiro
A gigante de carnes JBS registrou lucro líquido de US$ 581 milhões no terceiro trimestre deste ano, 16,16% menos que em igual intervalo de 2024, segundo balanço divulgado ontem. O cenário se agravou no mercado de bovinos nos Estados Unidos, que vive um ciclo de restrição na oferta de animais, o que levou a JBS Beef North America a ter margens negativas no período.
A operação americana representa cerca de 30% do resultado do grupo. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado também recuou, ao passar de US$ 1,83 bilhão no terceiro trimestre de 2024 para US$ 1,62 bilhão no mesmo intervalo deste ano. “Tivemos uma queda no Ebitda que é quase toda explicada pelo bovino nos EUA. Estávamos com margem positiva e agora estamos com margem negativa”, disse o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni.
Ao Valor, o executivo afirmou que a operação de bovinos continua sendo a mais desafiadora do grupo, mas que isso já era esperado, pois o processo de recuperação da oferta de gado ocorre lentamente. Além disso, as áreas de pecuária dos EUA foram atingidas por uma seca severa. “Vemos o começo da retenção de animais. Não é uma coisa que vai se resolver no quarto trimestre, nem no ano que vem. Acho que para 2027 vamos ver uma recuperação”, afirmou Tomazoni.
Nesse cenário, o Ebitda ajustado da JBS Beef North America ficou negativo em US$ 42 milhões no terceiro trimestre. Um ano antes, o indicador estava positivo em US$ 117 milhões. A margem caiu 2,5 pontos percentuais, para -0,6%. Os negócios de frango, que vinham impulsionando o desempenho da JBS até o primeiro semestre, arrefeceram.
O Ebitda ajustado da Pilgrim’s Pride teve queda de 0,8% no terceiro trimestre, para US$ 770 milhões. Apesar do recuo, Tomazoni considera o resultado robusto, devido a um trabalho bem-sucedido nos produtos de valor agregado e no portfólio de marcas. A Seara, operação de aves e suínos da JBS no Brasil, teve o resultado afetado pelas restrições temporárias nas exportações brasileiras de frango para diversos países compradores, após foco de gripe aviária em uma granja comercial em Montenegro (RS).
O foco da doença foi encerrado em junho, mas os importadores tiveram um retorno gradativo. As ausências de China e União Europeia prejudicaram as exportações. Com isso, o Ebitda ajustado da Seara recuou 30% no terceiro trimestre para US$ 323 milhões e a margem baixou 7,3 pontos, para 13,7%. Entretanto, Tomazoni destacou que a expectativa é positiva para a Seara, com o retorno da demanda dos chineses e europeus ao frango brasileiro.
A China retirou o embargo ao produto na última semana e a União Europeia, em setembro. “É bem positiva a condição da Seara ao voltar a acessar esses dois mercados. Faz uma diferença significativa”, enfatizou. Na área de bovinos, a JBS Brasil registrou redução de 18,7% no Ebitda ajustado, para US$ 307 milhões no terceiro trimestre. Sem dar detalhes, Tomazoni admitiu que a imposição de tarifas adicionais de 50% dos EUA contra produtos do Brasil — que levou o imposto sobre a carne bovina para 76,4% — reduziu os volumes exportados aos americanos, embora a venda ainda continue, e teve impacto negativo para algumas fábricas da Friboi, marca de cortes bovinos da JBS Brasil.
“Os EUA pagavam um preço premium comparado com os outros mercados”, disse Tomazoni. No entanto, ele observou que os volumes foram realocados para outros mercados e a demanda, tanto interna quanto externa, continua grande. Apesar das adversidades operacionais em diferentes segmentos do grupo, o faturamento da JBS foi recorde e ficou positivo em todas as unidades de negócios no terceiro trimestre. Assim, a receita líquida consolidada da companhia subiu 13,4%, para US$ 22,6 bilhões.
Na entrevista, o diretor de finanças e relações com investidores da JBS, Guilherme Cavalcanti, afirmou que o nível de controle da empresa sobre a alavancagem foi um destaque do período. “A gente espera terminar o ano abaixo de 2,5 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda, é uma posição confortável”, estimou.
O grupo também utilizou estratégias de alongamento de dívida nos últimos meses e, segundo Cavalcanti, nos próximos cinco anos “praticamente não há amortização de dívida para fazer, o que deixa a companhia preparada para qualquer situação”. Assim, disse, numa eventual crise, a empresa está preparada para suportá-la financeiramente. E, num cenário favorável, há espaço para aquisições e outras medidas de expansão.