TARIFAÇO

Brasil e EUA iniciaram negociação ainda no domingo para suspensão de tarifas

O presidente dos EUA, Donald Trump, aceitou o pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e determinou que sua equipe inicie ainda no domingo, em Kuala Lumpur, negociações para suspender o tarifaço de 50%

27 OUT 2025 • POR Reuters • 11h18

Para o governo brasileiro, o saldo da conversa entre Lula e Trump foi a superação de problemas de política interna antes levantados por Washington, com o diálogo agora concentrado em comércio.

Com a China, os Estados Unidos suspenderam tarifas pesadas enquanto negociam um acordo com Pequim. A expectativa brasileira é que o mesmo ocorra rapidamente com o Brasil. Foram 45 minutos de conversa “muito positiva, muito produtiva”, resumiu o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

Segundo ele, os presidentes trataram de todos os assuntos. Durante cerca de nove minutos, Trump respondeu a perguntas. Afirmou ser “uma grande honra estar com o presidente do Brasil, um grande país. É um país grande e bonito”. Em seguida, disse acreditar que os dois lados seriam capazes de firmar “acordos muito bons” e que “acabaremos tendo um relacionamento muito bom”.

“Vamos discutir isso [as tarifas] por um tempo. Nós nos conhecemos, sabemos o que cada um quer”, disse Trump. Lula comentou que havia levado um documento com dados já traduzidos para o inglês. Questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump o elogiou na frente de Lula: “Sempre gostei dele. Sinto muito pelo que aconteceu. Sempre achei que era uma pessoa direta, mas passou por muita coisa.” Perguntado se haveria algo que o Brasil pudesse oferecer para melhorar as relações bilaterais, Trump respondeu: “Provavelmente. Saberemos em 15 minutos. Eles podem oferecer muito, e nós também.”

Trump só não continuou respondendo porque Lula parecia ansioso para iniciar logo a parte privada da reunião. Quando Lula comentou que poderia faltar tempo para a conversa bilateral, Trump observou que o teor das perguntas até eram “aborrecidas” e parou de responder. A conversa, que durou 45 minutos, contou, do lado americano, com os secretários do Tesouro, Scott Bessent, e de Estado, Marco Rubio, além do chefe do USTR (agência de representação comercial dos EUA), Jamieson Greer. Do lado brasileiro, participaram o ministro Mauro Vieira, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, e o assessor internacional Audo Faleiro.

Segundo Mauro Vieira, o encontro foi “muito descontraído, até alegre”. Segundo ele, Trump elogiou a trajetória política de Lula, destacando o fato de ter sido duas vezes presidente, “de ter sido perseguido judicialmente no Brasil, de provar sua inocência e de conquistar um terceiro mandato”, conforme Vieira. Ficou acertado que haverá visitas recíprocas.

Trump manifestou o desejo de ir ao Brasil, e Lula disse que aceitaria com prazer um convite para visitar os Estados Unidos. O ponto central da conversa foi mesmo o tema das tarifas. Lula insistiu que a justificativa americana para impor o tarifaço não se aplica ao Brasil, já que, nos últimos 15 anos, os EUA registraram superavit comercial de US$ 410 bilhões na relação bilateral. Ele entregou a Trump um documento com esses dados, em inglês. Lula pediu então a suspensão temporária das tarifas durante o período de negociação e Trump concordou com a importância de discutir o tema rapidamente.

A ênfase foi forte, a ponto de ambos decidirem que as equipes técnicas se reuniriam ainda neste domingo, em Kuala Lumpur. “Trump, muito simpático, ouviu com atenção e orientou sua equipe a negociar para chegar a bom termo”, relatou Márcio Rosa. Não se esperavam decisões imediatas na reunião entre os ministros dos dois lados, mas o objetivo é definir cronograma para concluir as negociações em poucas semanas, abordando cada setor afetado pelo tarifaço.

Segundo participantes, Trump não fez nenhum pedido específico em troca da demanda brasileira. Quem mencionou Bolsonaro na conversa, na verdade, foi o próprio Lula, ao discutir a aplicação da Lei Magnitsky, argumentando que não fazia sentido a punição a autoridades brasileiras. Ele disse que o processo judicial contra o ex-presidente foi correto e respaldado em provas robustas.

O governo brasileiro saiu entusiasmado com o resultado do encontro. Primeiro, pela decisão de iniciar as negociações sobre as tarifas com urgência. Segundo, pelo clima de abertura e escuta do governo americano. Segundo o Palácio do Planalto, em nenhum dos temas houve tom de confronto. Pelo contrário, o ambiente foi de entendimento.

“O saldo final é ótimo”, afirmou Mauro Vieira. “O presidente Lula manteve um diálogo muito franco e colaborativo com Trump, e a reciprocidade foi verdadeira”, acrescentou Márcio Rosa. A reunião neste domingo entre Mauro Vieira e Márcio Rosa, de um lado, e os secretários americanos Bessent, Rubio e o chefe do USTR Greer estava sendo acertada em meio a agendas cheias dos dois lados.