Minerva aumentou estoques nos EUA antes das tarifas
Segundo reportagem publicada pelo Valor, a empresa acelerou suas exportações para os EUA sob a cota de isenção de impostos já em janeiro/25
O frigorífico brasileiro Minerva, maior exportador de carne bovina da América do Sul, aumentou os seus estoques nos Estados Unidos antes das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump ao Brasil, informam reportagens da Bloomberg e do Valor Econômico, com base em informações repassadas pelo diretor financeiro da empresa, Edison Ticle.
A Minerva, diz o texto da Bloomberg, “se apressou em enviar carne bovina do Brasil para os EUA”. A medida ajudou a impulsionar as vendas totais de carne bovina brasileira para novos dados recordes em julho/25 e também no período acumulado dos sete meses do ano.
Segundo reportagem publicada pelo Valor, “a Minerva acelerou suas exportações para os EUA sob a cota de isenção de impostos já em janeiro/25, antecipando um aumento de tarifas pelo governo norte-americano que se materializaria posteriormente”.
Com os EUA como principal comprador da Minerva, maximizar os embarques sob a cota livre de tarifas continua sendo uma prioridade, diz o texto. Dentro de uma cota distribuída para 10 países, incluindo o Brasil, os EUA permitem a importação de apenas 65.000 toneladas de carne bovina in natura isenta de impostos.
Em 2024, a Minerva embarcou 12.000 toneladas sob a cota. Este ano, relata o Valor, o número subiu para 28.000 toneladas, parte das quais foi enviada para a subsidiária norte-americana da empresa, que administrará o estoque e o venderá gradualmente no mercado local.
O custo de manutenção desse estoque elevou o fluxo de caixa livre da Minerva para R$ 514 milhões negativos no primeiro trimestre, observa a reportagem do jornal brasileiro.
No entanto, Ticle afirmou que essa estratégia deve se traduzir em maiores receitas nos próximos trimestres. No primeiro trimestre de 2025, a Minerva Foods registrou lucro líquido de R$ 185 milhões, uma recuperação significativa em relação ao prejuízo de R$ 186,2 milhões observado em igual período de 2024.
Tal resultado, justifica a reportagem do Valor, reflete a crescente contribuição das plantas adquiridas da Marfrig e o aumento das exportações para os Estados Unidos e a China.
As vendas internacionais da Minerva geraram R$ 6,63 bilhões em receita bruta, um aumento de 48,2% em relação ao ano anterior.
Segundo dados mencionados pelo Valor, os EUA foram responsáveis por 35% da receita de exportação, seguidos pela China, com 15%. A Minerva, diz a reportagem, espera que a participação da China aumente para entre 25% e 30%, já que as licenças de exportação para algumas das novas plantas foram aprovadas recentemente.
Mercado global em transformação
A decisão inesperada do presidente Donald Trump de impor uma tarifa adicional de 50% ao Brasil corre o risco de perturbar os mercados globais de commodities, interrompendo o comércio de tudo, da carne bovina ao café, observa reportagem da Bloomberg.
Ainda assim, diz o texto, a força do Brasil em commodities lhe confere alguma flexibilidade, e o país poderia amenizar o impacto encontrando compradores em outros lugares.
“É provável que esses produtos precisem ser redirecionados”, disse à Bloomberg Marcos Fava Neves, professor da Faculdade de Administração de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
“A carne bovina está sendo exportada para muitos lugares, o suco de laranja está escasso e o café também”, acrescentou.
A reportagem da Bloomberg lembra que os frigoríficos norte-americanos, que enfrentam o menor rebanho bovino dos EUA desde a década de 1950, têm dependido cada vez mais do fornecimento de países como o Brasil.
“A demanda também está aumentando, à medida que consumidores que tomam medicamentos para emagrecer buscam alimentos ricos em proteína”, observa o texto.
Em 2024, cerca de US$ 1,4 bilhão em carne bovina foi importada do Brasil para o mercado norte-americano, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).