EFEITO TRUMP

Redução de preços tem pressão interna de frigoríficos e não por tarifa americana

"Há margem para que a carne chegue mais barata à população, porque a redução ao produtor já está em andamento há pelo menos 10 dias", explica Bumlai

21 JUL 2025 • POR JORNAL O ESTADO • 09h00

Apesar da recente imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre os produtos exportados pelo
Brasil, a queda de 1,15% nos preços do produto em Campo Grande não está diretamente relacionada à medida norte-americana. É o que afirma Guilherme Bumlai, presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), ao destacar que o movimento de retração nos preços tem como causa principal a pressão dos frigoríficos sobre os pecuaristas locais, e não os efeitos comerciais da possível nova tarifa.

Segundo Bumlai, os frigoríficos vêm utilizando o anúncio da tarifa como justificativa para forçar uma redução no valor da arroba pago aos produtores, mesmo que o impacto real da medida seja bastante
limitado. “Temos no Brasil mais de mil plantas frigoríficas, e menos de 55 estão habilitadas para exportar aos Estados Unidos. Ainda assim, muitos frigoríficos, inclusive os que não exportam, estão se aproveitando do momento para pagar menos pela arroba”, afirmou.

Esse recuo nos preços pagos ao produtor ainda não foi repassado totalmente ao consumidor final, mas a tendência, segundo a Acrissul, é que os valores continuem caindo nas próximas semanas, caso o cenário atual se mantenha.

“Há margem para que a carne chegue mais barata à população, porque a redução ao produtor já está em andamento há pelo menos 10 dias”, explica Bumlai.

Queda é real
O presidente da entidade lembra que apenas cerca de 2% da carne bovina brasileira exportada tem como
destino os Estados Unidos, e o volume refere-se a cortes específicos, como retalhos e partes do dianteiro do boi. O principal mercado do Brasil continua sendo a China, responsável por absorver boa parte da produção sul--mato-grossense.

“O impacto é moderado, mas o alarde em torno dele está sendo maior do que realmente representa. A tarifa
serve como argumento, mas não reflete uma crise de mercado. É uma manobra que aumenta a margem de lucro
dos frigoríficos”, pontua.

Preço da carne caiu nos supermercados

Em meio à repercussão da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, os preços da carne em Campo Grande registraram leve queda nesta semana. Segundo levantamento semanal do O Estado em seis supermercados da Capital, o valor médio do quilo das carnes caiu de R$ 43,58 para R$ 43,08 em comparação com a semana anterior, equivalente a uma variação negativa de 1,15%. Embora a medida do governo norte-americano tenha causado preocupação entre exportadores e representantes do agronegócio, especialistas apontam que, no curto prazo, os efeitos podem ser sentidos também no mercado interno.

A expectativa é de que parte da produção destinada à exportação seja redirecionada para o consumo nacional, o que pode contribuir para o aumento da oferta e, consequentemente, para a redução dos preços ao consumidor.